Opinião

Dinâmica populacional e desenvolvimento

Diário da Manhã

Publicado em 19 de dezembro de 2015 às 22:52 | Atualizado há 9 anos

Há cerca de um mês a Universidade Estadual de Campinas, a UNICAMP, um centro de excelência acadêmica, realizou o VI Programa de Capacitação, População, Cidades e Políticas Sociais, promovido pelo seu Núcleo de Estudos da População.

Durante o simpósio, o demógrafo e economista José Eustáquio Alves, do IBGE, disse que trazia duas notícias aos participantes.

Uma boa notícia, que ele trouxe, e que é sabido por todos aqueles que acompanham o assunto, é que “o Brasil está hoje em seu melhor momento demográfico”. A outra, ruim, mas igualmente conhecida por todos, “é que agora, em 2015, o mercado de trabalho, bem como as condições econômicas, entrou em colapso”.

As análises relacionadas à dinâmica populacional são básicas para a proposição de políticas públicas efetivas, bem como para o planejamento na execução dessas políticas.

Esse momento demográfico vivido pelo Brasil, também chamado bônus demográfico, significa que o Brasil está vivendo uma oportunidade única e que se estende pelo menos até 2030, levando em consideração a distribuição de suas faixas etárias. É um período extremamente propício ao salto de desenvolvimento do nosso país, assim como ocorreu com todos os países que desfrutaram desse período.

O problema que se nos apresenta é que para o Brasil, efetivamente, dar o passo final para entrar para o clube das nações ricas e, sobretudo, desenvolvidas, será necessário aproveitar mais rapidamente esse momento favorável, isto é, o bônus de termos uma população em idade economicamente ativa que cresce acima da média.

É inexorável que, com o passar dos anos o bônus vira ônus, e isso torna as arrancadas econômicas bem mais custosas, senão impossíveis.

Diante da crise que estamos vivendo, com inflação alta, o Real desvalorizado, desemprego aumentando drasticamente em todas as camadas sociais, déficit das contas públicas, crescimento negativo, ausência de investimentos em infraestrutura, educação e saúde em colapso, estamos verdadeiramente perdendo esta oportunidade que nunca mais baterá à nossa porta.

Ou nós aceleramos as reformas para aproveitarmos as oportunidades de agora, ou vamos sofrer os impactos provocados pelo rápido envelhecimento da população.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, informam que a redução da mortalidade infantil, e a melhoria na qualidade de vida da população em geral, levarão a um aumento considerável da população além dos 60 anos.

Análise do Banco Mundial, expressa no livro Envelhecendo em um Brasil mais velho, informa que um quadro de trabalhadores mais velhos demandará um novo ordenamento do sistema de saúde para o atendimento dessa faixa etária. Mas, ao mesmo tempo, os investimentos em educação deverão continuar, para garantir um real aumento da produtividade média da população. Somente assim o país poderá fazer face aos gastos adicionais “resultantes do envelhecimento”.

Os países que experimentaram o bônus demográfico aproveitaram a oportunidade para promover o seu enriquecimento, antes de envelhecer.

Infelizmente, temos todos os indicativos de que não vamos aproveitar a oportunidade que se nos apresenta.

Os analistas econômicos são unânimes em apontar para a queda de mais de 3% do PIB em 2015, 2% em 2016 e, no máximo, um equilíbrio em 2017. Como o ajuste fiscal não é implementado, o risco-país aumenta. Acabamos de perder mais um grau de investimento de outra agência de risco, a Fitch.

Estamos vivendo a crítica situação de, no período do nosso bônus demográfico, isto é, de predominância da população mais jovem, o país não estar oferecendo a essa juventude as oportunidades que ela e o Brasil precisam. Pesquisa que acaba de ser realizada na França junto a 64 países sobre “onde os jovens de 15 a 29 anos têm mais oportunidades de prosperar e ser feliz, coloca o Brasil em 60º lugar nessa lista. Qualidade da educação, nível de emprego, liberdade de costumes, realização pessoal foram itens medidos na pesquisa.

A pergunta que se nos apresenta é quanto tempo mais vamos perder.  Enquanto estamos preocupados com assaltos monstruosos aos cofres públicos, picuinhas políticas, desacertos da gestão econômica, ausência de perspectivas para o país, os demais países estão avançando. Será que vamos voltar a ser, catastroficamente, o país do futuro? Por quantos anos a mais?

Se os agentes políticos não ajudarmos a criar um ambiente que enfrente, com a urgência necessária, a crise política, e resolva a questão fiscal, da inflação, dos juros, do crédito saudável para o consumo das famílias, da desconfiança e da ausência de investimentos, vamos perder o tempo que a história está nos oferecendo.

 

(Lúcia Vânia, senadora (PSB), ouvidora geral do Senado e jornalista)


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