Brasil

É preciso ampliar a literatura

Redação DM

Publicado em 28 de outubro de 2015 às 00:13 | Atualizado há 10 anos

A iniciativa foi da deputada Maria do Rosário (PT/RS): a realização de uma audiência pública para debater a situação da leitura e do ensino de literatura na educação básica, particularmente no ensino médio. Assim, especialistas de diversos setores se reuniram no Anexo II da Câmara dos Deputados. Sob a inspiração da Comissão de Educação, com o apoio também da dep. Margarida Salomão (PT/MG), foram apresentadas e discutidas sugestões por parte do escritor Luís Augusto Fischer, de Zoara Failla (Instituto Pró-Livro), de Germana Maria Araújo Sales (Abralic), de Adelaide Ramos e Côrte (Conselho Federal de Biblioteconomia), de Volnei Canônica (Ministério da Cultura), de Ricardo Magalhães Cardozo (MEC) e do autor destas linhas, representante da Academia Brasileira de Letras. Tudo com base em texto preliminar, elaborado pela dep. Maria do Rosário, em que ela afirma lamentar a redução do número de leitores no Brasil e o Enem tem importância crescente: “Estudos recentes apontam uma diminuição gradual das questões de literatura nos últimos anos (com exceção de 2012). E há pouca presença em história da literatura brasileira, assim como a concentração em determinados períodos históricos e movimentos literários.”

No momento que o Brasil discute uma Base Nacional Comum Curricular, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados decide promover debates sobre o tema, o que é bastante auspicioso.

O escritor gaúcho Luís Augusto Fischer condenou a concentração de questões em determinados autores e sugere aproveitar a discussão em torno da BNC para elaborar propostas de renovação. Além disso, propôs leituras renovadas no Enem.

Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro, mostrou que houve uma redução de 7 milhões de leitores em cinco anos corridos. Por outro lado, as mulheres assumiram a liderança dos índices de leitura.

A especialista Germana Araújo Sales reclamou da redução do espaço da literatura no Enem e Volnei Canônica, do Ministério da Cultura, entende que o professor é o principal vetor de acesso ao livro. Pedimos a palavra para argumentar que no Japão essa responsabilidade também é dos pais: “Toda noite, o pai ou a mãe lê o capítulo de um livro para o filho, entronizando nele o gosto pela leitura.”

Ricardo Magalhães Cardozo, da Secretaria de Educação Básica do MEC, entende que a atual discussão sobre a BNC é uma excelente oportunidade para corrigir essas distorções. O mesmo podendo ser dito sobre o Sistema Nacional de Educação, que deve ser muito valorizado.

Há necessidade de maior entendimento com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacional (Inep), ao qual incumbe a montagem das questões do Enem. Não deve se deixar levar pelas divergências entre gramáticos e linguistas. Assim estará mais disponível para valorizar a literatura, como é o desejo de todos.

Fizemos questão de externar nossos pontos de vista. Primeiro revelando que nos falta uma clara definição sobre o que se entende por Política Nacional de Educação. Colocamos a Academia Brasileira de Letras à disposição dos interessados para transmitir a sua experiência sobre projetos de defesa da língua portuguesa e valorização da cultura nacional, conforme, aliás, consta do artigo 1º do seu pétreo Estatuto, assinado por Machado de Assis.

 

(Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Letras de Brasília e presidente do CIEE/RJ)


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