Economia e educação: algo está acontecendo!
Diário da Manhã
Publicado em 14 de março de 2018 às 23:26 | Atualizado há 7 anos
Vivenciamos grandes transformações, rápidas, profundas e em todos os setores. O motor principal que impõe tal velocidade e que define o nível de radicalidade das mudanças está associado à migração, ainda em curso, em direção a uma sociedade em que a informação se torna totalmente acessível, instantânea e basicamente gratuita.
Os hábitos e os costumes se moldam também a partir de novos pressupostos, despertando a necessidade de os interpretarmos sob diferentes ângulos. Em resumo, algo está acontecendo, é de grande monta e a todos afeta, permitindo ser visto sob qualquer ponto de vista.
Como referência ilustrativa, adota-se aqui um aspecto específico, a capitalização de mercado, que é somente uma das medidas do tamanho de uma empresa. Trata-se do valor de mercado total das ações em circulação de uma empresa, também conhecido como limite de mercado.
Durante o século passado, as maiores empresas do mercado acionário estiveram associadas à energia (basicamente petróleo), à indústria automobilística e ao setor bancário. Na virada do século, há apenas 17 anos, entre as cinco primeiras aparecia, de forma inédita, uma empresa do mundo da informática, a Microsoft. Neste caso, dividindo as primeiras colocações com duas de energia (Exxon e GE), um Banco (Citi) e uma empresa de varejo (Walmart).
O quadro atual, conforme descrito no Relatório 2017 da respeitável PricewaterhouseCoopers, lembra pouco aquele anterior. A empresa que atualmente é, pelo sexto ano seguido, a número 1 do ranking (Apple) sequer constava entre as cinco maiores no começo deste século. Além disso, a única que ainda sobrevive nesse restrito clube é a Microsoft. Desnecessário chamar a atenção para o fato de que atualmente todas, sem exceção, estão diretamente associadas ao mundo das tecnologias digitais. Por outro lado, empresas como a GE já não constam entre as 100 maiores.
Atualmente, empresas baseadas em tecnologias digitais representam a maioria, acompanhadas, com certa distância, por aquelas do setor financeiro e, na sequência, companhias do setor de varejos. Os Estados Unidos, ao contrário do que possa parecer aos incautos, têm aumentado sua participação (hoje em 55%) entre as 100 maiores e é a sede das 10 principais empresas. É cada vez mais notável a presença crescente de empresas chinesas, como era de se esperar, e a Europa, que detinha 36% do mercado há 10 anos, agora detém somente 17%. A título de comparação, o Brasil em 2009 tinha 3 companhiaslistadas entre as 100 maiores, hoje resta somente uma.
As transformações na economia impactam, bem como são afetadas, pelos cenários educacionais vigentes. As tecnologias digitais invadem as escolas e impregnam o seu entorno, em especial no que diz respeito aos cidadãos e profissionais que nelas se formam. Elas transcendem os espaços de aprendizagem e também ocupam e definem as oportunidades de novos empregos e de negócios inovadores.
Assim, as consequências educacionais são complexas, múltiplas e ilimitadas. Uma delas, a mais simples e direta, é que os modelos educacionais e as estratégias de ensino e aprendizagem fortemente influenciados pelos referenciais Fordistas/Tayloristas, dominantes no século XX, já não são mais suficientes. Ou seja, a escola tradicional, que desempenhou, com competência e pertinência, papel central em tempos recentes, está distante de atender plenamente às demandas do mundo contemporâneo.
Se no século passado a capacidade de memorizar conteúdo e a aprendizagem de técnicas e procedimentos eram o centro, atualmente o amadurecimento dos níveis de consciência do educando acerca de como ele aprende torna-se gradativamente mais relevante. Em termos mais simples, aprender a aprender passa a ser tão ou mais importante do que aquilo que foi aprendido.
Explorar esta nova realidade, onde todos aprendem, aprendem o tempo todo e cada um aprende de forma personalizada e única, é o maior de todos os desafios do mundo da educação.
(Ronaldo Mota, chanceler da Estácio)