Educação, pelo amor de Deus, para o Brasil
Diário da Manhã
Publicado em 22 de março de 2018 às 22:57 | Atualizado há 7 anos
Minha condição de jornalista faz com que a minha sensibilidade humana toque mais profundo, não apenas na área do agro onde tenho maior proximidade. O lado da pobreza me toca profundamente, assim como da violência em todos os sentidos, a precária saúde, a carência de água e esgotos na maior parte do mundo, transporte coletivo precário, e ainda a prática da corrupção a partir do indivíduo.
A Globo criou um bordão endereçado aos seus telespectadores sobre o Brasil que cada um quer. E as respostas fluem como o estouro das boiadas quando os animais são espantados. Para mim o segredo reside na educação. Ela é a chave de para se conter praticamente todo esse índice de absurdos que se vive no momento. O brasileiro quer tirar proveito de tudo. No trânsito, nas filas dos supermercados, nos cinemas. Somos um povo atrasado porque falta-nos educação.
A violência está presente na escola. Professor vive ameaça de aluno porque cobra os deveres. Na escola paga, alunos ameaçam professores sob o arrogante pretexto de quem “paga os professores são os pais”. Falta educação de berço. A família tem se destroçado. O jovem, às vezes, estampa na camiseta palavras de violência. As drogas são disseminadas à luz do dia. O bandido está melhor preparado para o mundo do crime. A polícia sai perdendo seus homens. O despreparo moral é por inteiro. Deus é palavra ridicularizada. O homem e a mulher estão deixando de ler um bom livro, sofrem influência de nefastas novelas, da mídia social que não analisa e sim age sempre pela emoção.
O Brasil precisa investir em educação, se quiser algum dia sonhar com países como a Finlândia, Suíça, Suécia e até Portugal, nossa pátria mãe. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), o Brasil é um dos países que menos gastam com alunos do ensino fundamental e médio, mas as despesas com estudantes universitários se assemelham às de países europeus. No estudo Um Olhar sobre a Educação, recém divulgado, a entidade analisa os sistemas educativos dos 35 países membros da organização, a grande maioria desenvolvidos, e de dez outras economias, como Brasil, Argentina, China e África do Sul.
O Brasil gasta anualmente US$ 3,8 mil (R$ 11,7 mil) por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental (até a 5ª série), informa o documento. O valor em dólar é calculado com base na Paridade do Poder de Compra (PPC) para comparação internacional. A cifra representa menos da metade da quantia média desembolsada por ano com cada estudante nessa fase escolar pelos países da OCDE, que é de US$ 8,7 mil. Luxemburgo, primeiro da lista, gasta US$ 21,2 mil.
Entre os países analisados no estudo, apenas seis gastam menos com alunos na faixa de dez anos de idade do que o Brasil, entre eles a Argentina (U$ 3,4 mil), o México (US$ 2,9 mil) e a Colômbia (U$ 2,5 mil). A Indonésia é o país lanterna, com gastos de apenas US$ 1,5 mil.
Nos anos finais do ensino fundamental e no médio a situação não é diferente. O Brasil gasta anualmente a mesma soma de US$ 3,8 mil por aluno desses ciclos e também está entre os últimos na lista dos 39 países que forneceram dados a respeito.
A média nos países da OCDE nos últimos anos do ensino fundamental e no médio é de US$ 10,5 mil por aluno, o que representa 176% a mais do que o Brasil.
A situação no Brasil muda em relação aos gastos com estudantes universitários: a quantia passa para quase US$ 11,7 mil (R$ 36 mil), mais do que o triplo das despesas no ensino fundamental e médio.
Com esse montante, o Brasil se aproxima de alguns países europeus, como Portugal, Estônia e Espanha, com despesas, respectivamente, por aluno universitário, de US$ 11,8 mil, US$ 12,3 mil e US$ 12,5 mil, e até ultrapassa países como a Itália (US$ 11,5 mil), República Checa (US$ 10,5 mil) ou Polônia (U$ 9,7 mil).
A média nos países da OCDE é de US$ 16,1 mil, puxada por despesas mais elevadas de países como os Estados Unidos, Noruega, Luxemburgo e Reino Unido. Os gastos com educação totalizaram 4,9% do PIB brasileiro (último dado disponível no estudo). A média dos países da OCDE é de 5,2% do PIB.
Ao mesmo tempo, a OCDE vem afirmando que é preciso aumentar os gastos por aluno do ensino fundamental e médio, considerados bem abaixo do montante considerado adequado pela organização. Apesar da melhora no nível de investimentos em educação no Brasil, o Brasil continua entre os últimos do ranking dos testes de avaliação do Pisa.
Na avaliação da organização, isso ocorre porque houve maior acesso à educação no país, com a inclusão no sistema de ensino de alunos desfavorecidos e com atrasos de aprendizagem, o que acaba puxando o desempenho geral dos estudantes brasileiros para baixo.
Em Lisboa para participar numa conferência sobre educação, a ministra Sanni Grahn-Laasonen (foto)concedeu entrevista ao Diário de Notícias, editado em Lisboa, onde diz que “o segredo da Finlândia é todas as escolas serem igualmente boas”. Segundo ela, a educação foi essencial para a felicidade do finlandês.
Sanni narra que “passamos de um país muito pobre e distante para o mais feliz do mundo. Estamos no topo de muitos rankings. A educação teve um papel crucial. Estou muito orgulhosa por os ministros que vieram antes de mim terem desenvolvido o sistema de educação finlandês constantemente. Por isso nos tornamos um dos países com um dos melhores desempenhos. O ensino é uma profissão muito popular na Finlândia. Muitos dos nossos jovens talentosos querem ser professores. É uma profissão respeitada. E isso tem uma explicação histórica. Antigamente, havia pequenas comunidades muitas vezes com um só professor para ensinar as crianças. Quisemos dar a cada criança igualdade de oportunidades. Independentemente do passado familiar. Como mãe, agradeço que a minha filha possa ir à escola mais próxima e que seja tão boa como qualquer outra na Finlândia. Esse é um dos segredos da nossa educação: que todas as escolas sejam igualmente boas e que todas ofereçam a melhor educação”.
Acrescenta, ainda, que os professores gozam de mestrado. Diz com orgulho que “os professores são profissionais com muita formação. Todos têm mestrado. Damos-lhes muita autonomia, de forma a que possam escolher os materiais que usam, os métodos que usam. São eles que decidem como ensinam, onde ensinam. Claro que temos um plano nacional de educação, que foi recentemente renovado, mas os professores têm autonomia e acho que isso nos deu excelentes resultados”.
Em sua opinião, “temos de combater juntos o populismo, mas também as redes sociais, que dão cada vez mais espaço aos discursos de ódio. Temos de educar os jovens para pensarem de forma crítica”.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)