Opinião

Eike Batista e o travesseiro

Diário da Manhã

Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 01:29 | Atualizado há 8 anos

Considerado genial por alguns cientistas e criticado por outros, Agassiz foi um dos promotores e principais defensores do racismo científico e do criacionismo no século XIX. Certa vez, ao ser convidado para proferir um bem remunerado ciclo de palestras, recusou a oferta com a seguinte desculpa: “Eu não posso me dar ao luxo de perder o meu tempo ganhando dinheiro.”

Na refrega da vida, alguns indivíduos enxergam o mundo com a visão oposta do cientista Jean Louis Rodolphe Agassiz e fazem da prata sua meta de existência. Eike Batista, pelo histórico, é um desses personagens que cultua o jabaculê como Deus em seu destino. No auge da exaltação da riqueza, ele afirmou que, em curto espaço de tempo, seria o homem mais rico do planeta.

Como não mediu consequências, e menos ainda cultivou a boa ética dos negócios, está curtindo a ex-saga bilionária num xilindró imundo, amargando estresse e incertezas cruéis. Vendo sua figura tensa, cabeça raspada – com direito à humilhação via satélite – agarrando-se a um prosaico travesseiro, percebi como pode ser cruel a reviravolta do destino.

Acuado, preso, publicamente perseguido, odiado, se agarrou a um símbolo que nos remete à infância. No cárcere, uma almofada branca, fofa e agradável como a que portava nas fotos, é um bem dos mais preciosos. Nos momentos de angústia, choro e ranger de dentes, sobretudo nas masmorras brasileiras, esse item pode valer um confronto de morte.

Tem-se a impressão, quanto desperdício, que a única coisa que restou a Eike foi um trivial objeto para confortar o cocuruto. Nada mais. Perdeu a fortuna, os amigos, vendeu a alma a muitos demônios, não pode abraçar os filhos, beijar a esposa ou sentir a brisa do mar. A troco de quê?

O homem vendeu nuvens, castelos de areia, terreno na lua, fez pacto com Belzebu e não precisava. Sua inteligência e sagacidade poderiam lhe render bons dividendos agindo com honestidade. Mas ele queria, ao mesmo tempo, o céu e a terra. Não lhe bastava um bom automóvel, tinha que ostentar uma Ferrari decorando a sala de jantar, não lhe servia um iate, tinha que ser dono do porto. Perdeu tempo precioso ajuntando loucamente o que não precisava.  E assim, na ganância sem fim, sem limites, terminou tendo que defender a posse de um travesseiro. Conseguirá?

 

Rosenwal Ferreira, jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal

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