Opinião

Em São Paulo (I)

Redação DM

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 21:23 | Atualizado há 7 anos

Che­ga­mos ao ae­ro­por­to de Cam­pi­nas: é imen­so! Cons­tru­í­do com o que há de mais mo­der­no, re­luz à cla­ri­da­de da ma­nhã en­so­la­ra­da – são inu­me­rá­veis lo­jas, res­tau­ran­tes, sa­las de em­bar­que, bal­cões de ori­en­ta­ção. Es­tei­ras ro­lan­tes mi­ni­mi­zam as enor­mes dis­tân­cias a per­cor­rer.

Ocor­re-me que o mun­do mo­der­no é fei­to pa­ra pes­so­as jo­vens, ágeis no fí­si­co e na men­te. En­tre­tan­to, o ae­ro­por­to es­tá qua­se va­zio. Ao que pa­re­ce, foi su­per­di­men­si­o­na­do em seu pla­ne­ja­men­to; da de­man­da pre­vis­ta de 24 mi­lhões de pas­sa­gei­ros anua­is, a cri­se os re­du­ziu à me­ta­de.

Es­pe­ra-nos Ro­dri­go, nos­so ne­to – aten­cio­so e gen­til co­mo sem­pre – que irá le­var-nos ao Gran­de Ho­tel Águas de São Pe­dro, a pou­co mais de uma ho­ra de vi­a­gem. A es­tra­da se­gue en­tre cam­pos cul­ti­va­dos, seis pis­tas im­pe­cá­veis, sem bu­ra­cos nem im­pre­vis­tos. De um la­do e de ou­tro, ca­na­vi­ais a per­der de vis­ta, in­ter­ca­la­dos por ma­tas na­ti­vas e eu­ca­lip­tos. An­tes eram os ca­fe­zais que ge­ra­vam ri­que­za,  en­se­jan­do o in­ves­ti­men­to em in­dús­tria e ser­vi­ços, no gran­de sal­to pa­ra fren­te que fez do es­ta­do de São Pau­lo a po­tên­cia eco­nô­mi­ca e cul­tu­ral em que se tor­nou.

De per­meio, gal­pões in­dus­tri­ais, cha­mi­nés, al­guns fu­gi­di­os  aglo­me­ra­dos ur­ba­nos. Ao che­gar­mos a Pi­ra­ci­ca­ba, pas­sa­mos em fren­te à cen­te­ná­ria Esalq – Es­co­la Su­pe­ri­or de Agri­cul­tu­ra Lu­iz de Quei­roz, ins­ti­tu­i­ção mo­de­lar que há mais de um sé­cu­lo atua no en­si­no e na pes­qui­sa de pon­ta.

A ci­da­de é uma me­tró­po­le no in­te­ri­or pau­lis­ta: com cer­ca de 200 mil ha­bi­tan­tes, por to­da a par­te vê-se lim­pe­za, or­dem, pu­jan­ça, ao la­do de va­lo­ri­za­ção dos es­pa­ços ver­des, so­bres­sa­in­do a be­la ave­ni­da ao lon­go do rio.

Fi­nal­men­te, as ex­pec­ta­ti­vas de nos­sos co­ra­ções se con­ver­tem em ale­gria, quan­do re­ce­bo das mãos de Gláu­cia e Ro­dri­go o pe­que­no Ra­ul, nos­so pri­mei­ro bis­ne­to, com pou­co mais de um mês. É um me­ni­no lin­do, for­te e sa­u­dá­vel, com uma pe­nu­gem es­cu­ra na ca­be­ça e os olhos vi­vís­si­mos. Aper­to-o con­tra o pei­to, sin­to-lhe o chei­ri­nho de ba­nho to­ma­do há pou­co, aca­ri­cio a pe­le fi­na das mãos de de­dos alon­ga­dos, que lo­go se­gu­ram com fir­me­za os meus.

Ra­ul…Tão pe­que­ni­no és e quan­tas vi­das con­ver­gem pa­ra a tua! Cor­re em tu­as vei­as san­gue de go­i­a­nos,pau­lis­tas e mi­nei­ros; tam­bém de pi­au­i­en­ses, ba­i­a­nos, por­tu­gues­es, tal­vez ín­di­os, tal­vez ma­me­lu­cos e ca­fu­sos. Além de as­cen­den­tes ale­mã­es e ita­li­a­nos.

Emo­cio­na­da, con­tem­plo o amor que é qua­se pal­pá­vel, em tor­no do ga­ro­ti­nho apa­ren­te­men­te frá­gil: ele foi es­pe­ra­do e re­ce­bi­do com uma au­ra de ca­ri­nho, que con­ti­nua no dia a dia, nos cui­da­dos dos pa­is, sem ja­mais se quei­xa­rem das noi­tes mal dor­mi­das ou do cho­ro do be­bê. Por­que Ra­ul cho­ra com von­ta­de quan­do tem fo­me e quan­do tem so­no. De­pois apa­ga, dor­me e sor­ri em seu so­no ino­cen­te, so­nhan­do com os an­jos que lhe ro­dei­am o ber­ço.

Bra­si­lei­ri­nho Ra­ul – quan­do ti­ve­res mi­nha ida­de, te­rá che­ga­do ao fim o sé­cu­lo XXI. Até lá, o que se­rá fei­to do nos­so Bra­sil, da gen­te bra­si­lei­ra da qual és ex­po­en­te? Ve­jo-te na cre­che, en­quan­to pe­que­ni­no; de­pois na es­co­la em seus di­fe­ren­tes mo­men­tos, até à fa­cul­da­de e à pós-gra­du­a­ção. Por­que é cer­to que te­rás ex­ce­len­te edu­ca­ção for­mal e in­for­mal, tan­to pe­lo exem­plo de teus pa­is, co­mo pe­lo ze­lo com que pro­pi­ci­a­rão o que há de me­lhor.

E de­pois – que opor­tu­ni­da­des de tra­ba­lho e de re­a­li­za­ção pes­so­al te se­rão da­das den­tro de du­as, três, dé­ca­das, quan­do es­ta­rás na ida­de adul­ta? Co­mo se­rá a so­ci­e­da­de bra­si­lei­ra que ora se mos­tra in­cer­ta e con­tur­ba­da, mas que de­ve­rá emer­gir mais es­tru­tu­ra­da da cri­se com que nos de­ba­te­mos?

Tu­do pa­re­ce tão dis­tan­te! O que ora se apre­sen­ta é o me­ni­ni­nho que co­me­ça a fi­car in­qui­e­to, é sua bo­qui­nha ávi­da em bus­ca de ali­men­to. Na cri­an­ça que aca­ri­cio, a na­tu­re­za irá re­a­fir­mar-se no mi­la­gre do cres­ci­men­to até al­can­çar a ida­de adul­ta. De per­meio, en­tre­ve­jo o be­be­zi­nho ro­li­ço em seu pri­mei­ro bal­bu­cio, ex­pres­san­do o elo afe­ti­vo que se re­for­ça na ca­deia in­dis­so­lú­vel da fa­mí­lia.

Di­rão que és um pri­vi­le­gi­a­do, bis­ne­ti­nho que­ri­do, o que de­ve ser ver­da­de: são tan­tos os que nas­cem sem te­to, sem co­ber­tas, sem pai de­fi­ni­do… e há até os que são aban­do­na­dos pe­las pró­pri­as mã­es! O fa­to de te­res uma fa­mí­lia amo­ro­sa cria tam­bém de­ve­res, aos qua­is irás cor­res­pon­den­do aos pou­cos. Em con­tra­par­ti­da e em fu­tu­ro não tão dis­tan­te, se­rás um fi­lho de­di­ca­do, um ci­da­dão con­sci­en­te, um ho­mem de bem na ca­deia sem fim da hu­ma­ni­da­de.

Se­gue em fren­te, Ra­ul, na lon­ga es­tra­da que te aguar­da, ata­pe­ta­da pe­los des­ve­los dos que ora te re­ce­bem com amor. Tens a vi­da pe­la fren­te – que Deus te pro­te­ja!

 

(Le­na Cas­tel­lo Bran­co le­na­cas­te­[email protected])


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