Opinião

Entre noma e vida

Redação DM

Publicado em 4 de novembro de 2015 às 23:30 | Atualizado há 10 anos

Pensar o espaço geográfico na perspectiva da produção histórica e social nos possibilita analisar as relações sociais a ele inerentes, “o que significa dizer que a atividade social teria o espaço como condição de sua realização” (Carlos, 2007.p. 41); assim, as relações sociais se concretizam por meio da interação entre tempo e espaço, que proporcionam as vivências e consequentemente caracterizam o cotidiano dos indivíduos que residem na metrópole, à interação dos indivíduos com espaços constitui-se o pertencimento com o lugar, e nesse sentido ocorre o ato de territorialização da existência e das identidades. (TURRA NETO, 2009; CARLOS, 2007; HAESBAERT, 2004).

Ao passo que é característica das metrópoles, “a sua independência essencial até das mais iminentes personalidades individuais”, sendo que os indivíduos que constituem suas cotidianidades e traçam suas trajetórias, pagam o preço pela independência que a metrópoles os possibilitam. (SIMMEL, 1979). A produção do cotidiano emersa no mundo da metrópole globalizada se funde com o ritmo acelerado do consumismo metropolitano, da faceta mercadológica do capitalismo. É a necessidade da mercadoria e do consumo que entrelaçam nas relações domésticas, o que significa dizer “que a difusão do mundo da mercadoria com a condição da reprodução passa pela desagregação do modo de vida tradicional e da construção de um novo”.

Assim, as escrituras subjetivas do corpo metropolitano têm lançado uma grande afirmação na qual as instituições de comando social, como o mercado e seus ingredientes complementares, como a mídia, a publicidade, a propaganda, os meios de formação da subjetividade e de fazer a cultura circular, as máquinas celibatárias referidas por Guattarri (1996), possuem mais forças para impor noções, valores e gostos que a família ou outras instituições da tradição moderna. O filósofo Francês chama isso de “subjetividades capitalísticas”. Com base nessas ideias, percebemos que as culturas juvenis estão presentes na dinâmica contemporânea das cidades e das metrópoles, exercendo relações com os circuitos urbanos.

Estas estão inseridas em um fluxo universal de símbolos em constante transformação, nas fragmentações, nos conflitos, nas disputas e nos desejos, desempenhando um  papel de força motriz para as transformações e as mudanças.

Que nos, reafirma o quanto a juventude ainda se encontra articuladas aos preceitos ideológicos contestatórios dos grupos. Compreendemos que o jovem e/ou os grupos juvenis são os que mais apropriam, desfrutam e exercem domínio sobre o corpo e as contestações, sendo que a juventude segundo (DAYRELL, 2007) representa uma fase em que se tem a divergência entre a maturidade biológica e a maturidade social e psicológica.

De acordo com Pierre Bourdieu, (1983) que ao analisar os jovens como um segmento social demonstra que os seus discursos representam uma concepção do mundo vivido como a formação dos habitus na subjetividade Juvenil, que está condicionada à dinâmica social, ou seja, os sujeitos representam e disseminam por meios de seus corpos, valores da cultura de massa no contexto urbano. Nas constantes percepções da dinâmica da metrópole percebe-se que os corpos e suas subjetividades ostentam uma grande importância, seja pelas vias do reconhecimento, da singularidade, da pluralidade e do pertencimento. Identificando-se nas estéticas corporais os seus principais pontos de conectividade e referência. Para melhor entendermos as dimensões emersas ao corpo se faz necessário recorrermos ao significado semântico da palavra. De acordo com Soares (2006), o corpo em sua denominação advinda do latim corpus, que em suma designa o corpo em oposição à alma.

Sendo que o nosso corpo sempre esteve ligado a contradição entre desejo e espírito, mas quando o alisarmos na dimensão dos circuitos juvenis este transcende, o corpo e sua corporeidade conectados à sexualidade enquanto estereótipo de “beleza, perfeição” retratado na percepção simbólica e mítica, do imaginário dos jovens, estes aglutinam o desejo e a subjetividade, sendo que ambos ocupam um lugar no tempo e no espaço da metrópole.

Neste contexto adentramos a concepção de sexualidade proposta por Foucault, (1988), como um “dispositivo histórico”. Em outras palavras, a sexualidade consiste em uma intervenção social, constituída através dos processos históricos e dos diversos discursos sobre o sexo que proporcionam saberes e influenciam “verdades”. A “sexualidade” no sentido moderno foi inventada quando o comportamento sexual “foi para trás dos bastidores”, Desse ponto adiante, a sexualidade virou propriedade do indivíduo, e mais especificamente do corpo (GIDDENS, 2002, p.152).

Sendo que sexualidade está ligada ao corpo, ao desejo, a contestação, deste modo pode intuir que a juventude convive com muitos estereótipos relacionados ao corpo e a sexualidade. Ou seja, no seio dos cultos da juventude o corpo transpassa e desempenha um papel de representação simbólica, onde a juventude se molda em valores simbólicos, e no caso das metrópoles pós-modernas estes são fragmentos de uma cultura consumista de mercado.

De tal modo, que os ideais juvenis, a respeito da realização, do desejo etc; estão intimamente ligados ao corpo. “É por meio do corpo que todos os sujeitos se apresentam à sociedade, à família, aos amigos, aos amores, a religiosidade e à sexualidade, enfim, se posicionam e intervém no mundo”. (FILEMON. 2011, p 37). Assim, por meio da subjetividade e da corporeidade, atuam no domínio do próprio corpo, ou seja, o corpo demonstra os anseios e as inquietudes destes jovens. A palavra corpo se torna uma das expressões mais conhecidas no contexto da vida metropolitana. É como se o corpo se transformasse em uma mercadoria de troca e a essência do teu conteúdo já não precisasse ser testada (ELIAS, 1994).

Desse modo, o corpo coabita numa nova reflexibilidade simbólica e cultural, de um “objeto/produto”, o corpo é “captado em seu composto complexo e refletido como instrumento orgânico vivo de ações inesperadas”. Percebe-se que os corpos e suas subjetividades ostentam uma grande importância: seja pelas vias do reconhecimento, da singularidade, da pluralidade e do pertencimento. Estando imerso a subjetividades, a irreverência, alteridade, apropriação e fragmentação simbólica e corporal, que constitui o ser jovem.

Os reflexos da cultura juvenil na metrópole, especialmente nas europeias e estadunidenses, configura-se com um marco da cultura urbana dos 1960 até o presente momento. Essa cultura se universalizou, rompeu-se com as fronteiras geográficas, ganhando abrangência em cidades de medio porte, inclusive, no campo.

Ao nascer como signo de protesto ao machismo, ao patriarcalismo, à homofobia, a igualdade de gênero, aos valores e status tradicionais ligados às instituições controladas pelo Estado e pelas máquinas de guerras.  A cultura juvenil protagonizou a força de uma nova identidade coletiva, a juventude, de modo que as culturas juvenis se configuram em conjunturas entre a trajetória biográfica e a realidade presente. Pois revelou as transformações e trajetórias, as conexões inusitadas em outras redes e lugares da cidade.

Sendo que muitos autores, especialmente do imaginário crítico que se logrou após 1980, afirma que, ao invés do protesto, do combate e do enfrentamento aos valores e status tradicionais, a chamada “geração coca-cola” é a nova feição do consumo, do hedonismo, do narcisismo e da fragmentação subjetiva tanto identitárias quanto ideológicas. Contrariando esta leitura negativada da cultura juvenil e, assumindo que ela possui contradições, mas também possui outras identidades, representações e valores.  Concedendo esta em um jogo de diferenciação. De acordo com.

A pluralização das formas de expressão juvenil fez emergir uma preocupação com o contexto socioespacial e histórico, ao mesmo tempo em que apontou a dificuldade de construir noções gerais. Quanto à globalização e a indústria cultural, após o ano de 1950, internacionalizaram uma ampla cultura juvenil genérica, produzindo, paralelamente uma fragmentação do cenário juvenil, em vários estilos, a consideração das relações entre global e local se impuseram à análise. Por tudo isso, a Sociologia da Juventude, que já havia realizado uma “virada cultural”, viu-se na eminência de conduzir também uma “virada espacial”. (TURRA NETO, 2004, p. 437).

Assim, foi à própria história concreta da juventude e das amplas mudanças na Sociedade, em escala mundial-local, que conduziram a uma perspectiva espacial nos estudos sobre as juventudes, como forma de melhor compreender a complexidade dos processos que a envolvem. De acordo com citação, podemos afirmar que esta “virada espacial” proporciona a elucidação de diferentes frações e identidades da juventude na metrópole. Ao apoiar na concepção de Stuart Hall, (2001) percebe-se que a identidade está intrinsecamente ligada à interação do sujeito “o eu” e a estrutura social “a sociedade”, nesta condição entendemos que a formação dos habitus corporais e das intervenções juvenis estão condicionadas a formação identitária.

Pierre Bourdieu (2004) nos salienta que o habitus é na realidade o princípio gerador das práticas objetivamente classificáveis, de modo que a cultura juvenil interage intensivamente por meio da construção e agrupamento de estilos, que englobam a linguagem, a música, a expressão, a estética corporal, as intervenções e subjetividades. Estas que se vinculam à modernidade, a industrialização e ao consumo de massa, a adoção de um estilo e de uma identidade são os principais caminhos para a afirmação (FEATHERSTONE 1995). Neste contexto estão imersos as subjetividades, a irreverência, alteridade, apropriação e fragmentação simbólica e corporal, dos hábitos que constitui a cultura dos jovens nas grandes metrópoles.

*REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU. P, O Mercado dos bens Simbólicos. In: MICELI, S, (org.). A economia das trocas simbólicas, São Paulo: Perspectiva. 1974.

_________. P, A gênesis dos conceitos de habitus e de campo. In: BOURDIEU, P. O poder simbólico. 7 ed. Rio de janeiro: Bertrand, 2004.

CARLOS, A. F, A. (org.). O consumo do espaço. In: Novos caminhos da geografia. São Paulo, SP: Contexto (Caminhos da Geografia) p.173-186, 1999.

_________, A. F. A. O Espaço Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. São Paulo: FFLCH, 2007, 123p

DAYRELL, J, e REIS, J. B, Juventude e Escola: reflexões sobre o ensino da sociologia no ensino médio. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. Recife. 2007.

ELIAS, N, A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar. 1994

FILEMON, O.O, 2011, Tragetorias socioespaciais da juventude metropolitana e construção da corporeidade: o exemplo do colégio estadual professor Genesco Ferreira Bretas, na região noroeste de Goiânia. PPG/ISA/UFG. (Dissertação).

FEATHERSTONE, M, Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel. 1995.

GUATTARI, F. & ROLNIK, S, Micropolitica: Cartografias do Desejo. Petrópolis- RJ: Vozes. 1986. GIDDENS. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.

HAESBARERT, R. O mito da desterritorialização: do “ fim do território”á multiterritorialidade. Bertrand Brasil.2004.

HALL, S, A identidade cultural na pós-modernidade / Stuar Hall; tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaraci Lopes Louro – 5ºed. Rio de Janeiro: DP&A. 2001.

TURRA NETO, Nécio, Enterrado vivo: identidade punk e territorio em londrina/ PR. São Paulo: Ed. UNESP. 2004.

SOARES, C. (org.). Corpo E Historia. Campinas: Autores Associados. 3º ed. 2006.

SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, O. G. (Org.). O fenômeno urbano. Tradução: Reis. S. M. dos. 4ª ed. Editora Zahar Editores. Rio de janeiro, 1979, p.11-25.

 

(Prof. Ms. Nelton Moreira – [email protected])

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