Entre redes e o inconsciente
Redação DM
Publicado em 20 de janeiro de 2017 às 22:24 | Atualizado há 8 anosUm dos grandes desafios da pós modernidade imposto a sociedade está no paradigma do compartilhar. Fraternidade, divisão, tudo e todos unidos em redes sociais, de conhecimento, de troca de experiência afetiva. Hoje em dia se troca de tudo de ofensas a grandes ideias, fotos, áudios, livros, vídeos, experiências tudo disposto no escambo da existência. E algum dia isto foi diferente? A sociedade feudal da idade média ou nas culturas ancestrais nos mostram que ser coletivo é parte da experiência humana. Todavia na era moderna a ideia de propriedade privada de posse foi mais intensa com a segmentação direcionada de legislação e bem privado/ propriedade particular.
Na volatilidade da atual pós modernidade emerge uma oposição a ideologia da era moderna de posse, em especial na década de 1980. Uma significativa mudança de paradigma ocorre e as ideologias fragmentadas diante do novo cenário – A ideia de trocar avilta o sentimento de posse, de propriedade o egoísmo da era moderna a ideia de meu. Ideia esta que permeou toda corrida pelos sonhos, dinheiro, sucesso, status por quase um milênio na história da humanidade. O privado centro das atenções na construção da sociedade, do estado de direito, das legislações, no sentido das coisas: o que é meu?
A pós modernidade rompe este sentido primordial ideológico e a crise do choque entre paradigmas está em todas as partes na sexualidade, na vida familiar, na ebulição de costumes e hábitos, no pensamento religioso, com o meu tornando se nosso. A força das redes, dos grupos, dos movimentos gregários de comunidades afetuais se impondo a sociedade como novo paradigma, no qual compartilhar é regra, dividir, doar. Uma ruptura tão significativa e assustadora para todo pensamento arraigado e vigente na era moderna, mas que mudou. E o que vamos fazer com esta mudança? Como compreender esta radical mudança que eclode na socialização em todos seus aspectos? Como enquadrar conceitos como cultura, identidade, gênero, propriedade diante deste novo cenário? O choque e conflito entre gerações e regras sociais intenso dos dias atuais reflete este conflito ideológico. Entre redes e o inconsciente as manifestações públicas na pós modernidade evidenciam o quanto sempre fomos ligados por meio de afetos, do inconsciente coletivo, da intuição, das formas fraternais de existência , pelas ideologias. Estar junto não é novidade, nem compartilhar ou dividir o novo está na mudança no sentimento de propriedade privada negado pela juventude como centro da existência e isto esta no conflito transgeracional da atualidade. E como isto se configura para o futuro? Existe um desafio para decifrar diante das rupturas de valores que vêm ocorrendo absorvidas pela sociedade e cabe a nós decodificar os sinais desta mudança para melhor agir. Um verdadeiro desafio.
(Jorge Antonio Monteiro de Lima, analista, pesquisador em saúde mental e psicólogo)