Opinião

Entre reformas

Diário da Manhã

Publicado em 16 de março de 2017 às 02:26 | Atualizado há 8 anos

Não temos a capacidade de reviver nossos líderes, mas temos a idoneidade histórica de sonhar e lutar pelos seus sonhos.

A democracia, para uma casta “elitista”, não é um regime da liberdade para o povo. O que eles querem é a democracia de um povo emudecido, amordaçado, subserviente, reprimido, domado nos seus anseios e sufocados nas suas reivindicações.

Há 53 anos, o Brasil vivenciava seu ápice do envenenamento social. A campanha difamatória, aviltante, degradante contra o presidente João Goulart ganhava contornos do mais desonesto delírio patológico.

As digitais da CIA, aliadas de uma classe política “comercializada” de rufiões da pátria, tinham no governo Trabalhista seu principal inimigo.

O ódio germinado, desde a revolução de 30 que levou Getúlio Vargas ao comando do Brasil, e suas ações de emancipação da classe trabalhadora, jamais foram absolvidas pelas elites privilegiadas brasileiras.

Jango representava o fio condutor da História que retomaria as ações da afirmação soberana, do desenvolvimento pátrio, da reforma do estado brasileiro, na busca da justiça social.

O comício da Central do Brasil, realizado no dia 13 de março de 1964, na cidade do Rio de Janeiro, foi o momento singular de unidade das forças progressistas que aspiravam um país com reforma agrária, reforma urbana, reforma tributária, reforma eleitoral.

O desprezo pela democracia, marca indelével de nossa política conservadora, não titubeou em golpear e apear o presidente Jango do seu cargo.

Mergulhamos na noite mais escura.

21 anos de ditadura que torturaram, assassinaram e estrangularam aqueles que resistiam.

Darcy Ribeiro sintetizou de forma magistral esses que desvalem da democracia quando seus privilégios são ameaçados: “O Brasil tem uma classe dominante, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir para frente.”

Hoje, temos como pauta do governo, desprovido de votos e de legitimidade, uma série de reformas que tem como principal desígnio a desconstrução das conquistas sociais que o governo trabalhista de Getúlio Vargas proporcionou ao povo brasileiro.

O rancor e a hostilidade destes nefastos vendilhões da pátria têm o trabalhismo como seu maior desafeto histórico.

Getúlio, Jango e Brizola sempre foram a pedra no caminho de seus interesses impublicáveis.

A reforma trabalhista, em discussão no Congresso Nacional, representa um verdadeiro retrocesso à classe trabalhadora brasileira. Há um gritante e indefensável interesse de se retirar direitos consagrados na CLT de Vargas.

Mais uma vez, a direita tenta impingir a conta de seus privilégios para o trabalhador pagar.

A reforma da previdência é da mesma forma um atentado contra os mais humildes trabalhadores deste país. Em discursos embusteiros tentam ludibriar nosso povo de que o problema previdenciário do Brasil é o pobre que trabalhou a vida inteira e que recebe uma miséria de aposentadoria.

Não atacam os privilégios dos grandes sonegadores, os sanguessugas da pátria.

Reverenciar o comício da Central do Brasil onde se propunha sim uma reforma estrutural de justiça social é o contra ponto vital destas reformas de desconstrução e manutenção de privilégios.

Sim às reformas, mas às de base.

 

(Henrique Matthiesen, bacharel em Direito)


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