Opinião

Escritores Malditos

Diário da Manhã

Publicado em 15 de junho de 2017 às 02:59 | Atualizado há 8 anos

Normalmente o termo escritor maldito é utilizado para rotular aqueles escritores incompreendidos em seu tempo, ou que tiveram suas obras censuradas (mas posteriormente reconhecidas – e geralmente bem depois de suas mortes).

Esse termo ganhou ênfase com a publicação de Os poetas malditos, do poeta francês  Paul Verlaine. Seu amigo Arthur Rimbaud (autor de Uma Estadia no Inferno), que parou de escrever aos 21 anos, além do outro francês Charles Baudelaire (autor de As flores do mal), influenciaram muitos dos maiores escritores dos séculos XIX e XX. Eles fizeram com que simbolismo superasse o racionalismo, pela transcendência, contestando os valores da burguesia industrial, em oposição ao realismo e ao parnasianismo (correntes literárias que defendiam temas inspirados na realidade com elevado cunho social). Cultivaram atitudes anárquicas, eivados das perversões humanas, do pessimismo, do horror, da degradação moral, numa sensibilidade peculiar.

Essa mesma alcunha foi atribuída a Tristan Corbière, Conde de Lautréamont e William Blake. Os EUA proibiram na década de 1930 as obras de Herny Miller, e nas décadas seguintes foram proibidos os livros de William Burroughs, Allen Ginsberg, Jack Kerouac e Lawrence Ferlinghetti.

Outros escritores também foram assim chamados malditos pois mantinham um estilo de vida que confrontava com a moral da sociedade. Foram famosos pela embriaguez constante os escritores John Fante e Charles Bukowski (que voltou a ser modismo há alguns anos). Tidos como como transgressores, eles se rebelaram contra as tradições e costumes de sua época. Ou seja, uma postura polêmica, iconoclasta, de resistência nos meios culturais.

Podemos citar outro francês que mudou o curso de sua literatura na década de 1990:  Michel Houellebecq, com o romance Extensão do domínio da luta com uma evidente violência, isento de clichês e melodramas.

Alguns desses escritores adotaram hábitos destrutivos, como o abuso de drogas, encontrando frustrações e suicídio, resultado de um ambiente insano, de crime, violência, melancolia e miséria total. Normalmente rejeitavam quaisquer ideologias. Praticando a desobediência à sociedade, tida como meio alienante que aprisiona os manipulados indivíduos por suas normas, regras e consumismo.

Talvez o primeiro escritor maldito tenha sido François Villon (1431-1474). No Brasil tivemos a poesia marginal, as composições musicais de Jorge Mautner, e inúmeros artistas que acabaram por ficar marginalizados como suas próprias obras. Mas há também compositores famosos, como Adoniran Barbosa, que compôs em parceria com Hilda Hilst (que morreu em 2004, autora de livros de poesia e a peça O Verdugo) as músicas Só tenho a ti e Quando te achei.

Alguns críticos citam como brasileiros malditos os escritores Sousandrade e Cruz e Souza (que na verdade era apenas discriminado pela sua cor e estilo). Há também alguns autores também tidos como malditos, a exemplo de João Antônio, Paulo Leminski, Augusto dos Anjos, Eduardo Guimarães, Álvares de Azevedo, e mais recente Rubem Fonseca e Alice Ruiz.

Cito outros autores que também podem ser incluídos neste rol: Antonin Artoud,  Marquês de Sade, Edgar Allan Poe (autor badalado de Histórias Extraordinárias), Henry Miller, Pedro Juan Gutierrez, Gabriel Garcia Marquez, Jean Genet (Nossa Senhora das Flores), Heinrich Boll, Jack Kerouac, Louis-Ferdinand Céline, Hermann Hesse, Georges Bataille, Antonin Artaud, Anais Nin, James Ellroy, Mario Vargas Llosa, Knut Hamson (norueguês autor de, entre outros, A fome e O Círculo que se fechou), Ezra Pound, Louis Ferdinand Céline, Drieu La Rochelle, D.H. Lawrence (O Amante de Lady Chaterly), Andre Gide, Pier Paolo Pasolini e Ernst Jünger.

Mas talvez fosse o famigerado Nelson Rodrigues, muito citado pelas suas polêmicas e verossimilhanças desagradáveis pela árdua realidade da Vida como ela é, foi quem mostrou aos brasileiros que há muita gente boa, tida como santa e pura, gosta de apreciar um lado sombrio, nú e cru na violência de suas querências! Se todos temos um lado Yin e Yang, ou lobos bons e maus, resta saber a quem mais temos alimentado? Até a próxima página!

 

(Leonardo Teixeira, escritor)


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