Estádio Antônio Accioly – regiamente inaugurado
Diário da Manhã
Publicado em 25 de agosto de 2018 às 04:05 | Atualizado há 7 anos
Neste sábado passado, 18, o Atlético Clube Goianiense reinaugurou o Estádio Antônio Accioly, completamente reformado. Às 15 horas homenageou os seus ex-governadores e, às 16,30, enfrentou o Coritiba, vencendo por 1×0, o estádio lotado com uma torcida vibrante.
Histórico – Por que a camisa do Atlético tem as cores do Flamengo e o escudo do São Paulo? Foi porque o Dr. Edson Hermano, um dos fundadores do Atlético e o seu primeiro goleiro, era fã ardoroso dos dois times.
Doação do terreno e fechamento do campo. O terreno do Clube foi doado pelo Governo do Estado. O Prefeito Venerando de Freitas Borges doou 100 contos para murar o campo, mas o dinheiro desapareceu e não foi assentado um único tijolo. Eu na cadeia? Passados muitos anos, eu, jogador, e com 18 anos, me puseram, sem que soubesse, tesoureiro do Clube. O diretor Dr. João de Brito Guimarães me surpreendeu dizendo que eu “iria pra cadeia”, porque a Prefeitura estava cobrando o fechamento do campo. No mesmo dia foi marcada uma reunião à noite na sede do Clube, que ficava acima do Cine Campinas, na Praça Joaquim Lúcio, com os diretores João de Brito Guimarães, Calimério Machado, Moacyr Cícero de Sá, o treinador Orlando Ferezin e outros mais. Foi destituído o presidente e eleito Antônio Accioly.
Por que Antônio Accioly? Porque naquele tempo os jogadores compravam os seus próprios materiais e ainda contribuíam com “vaquinhas” para adquirir bolas e jogos de camisas. Antônio Accioly, proprietário de cartório, sem se interessar em pertencer à diretoria, fazia isso, doava tudo. Também quando íamos jogar fora, em Trindade, Inhumas e Anápolis, a condução era carroceria de caminhão, e com o Accioly, de ônibus. E, talvez devido a influência de alguns membros da Diretoria, e mesmo do Accioly, o Professor Venerando não cobrou o “sumiço” dos 100 contos de réis e ainda mandou, pelos operários da Prefeitura, inclusive o construtor João Vaca Braba, fechar o campo. Venerando de Freitas Borges foi um dos homens públicos mais eficientes e honestos desde os primórdios da Nova Capital.
Quando do fechamento do campo, surgiram muitos nomes, inclusive do jogador Frienderich, proposto pelo meu padrinho de casamento, Odon Rodrigues de Morais, da tradicional família campineira, doadora dos primeiros 50 alqueires para a vindoura Goiânia. Odon, por ser botafoguense-carioca, era torcedor do Goiânia Esporte Clube (devido às cores da camisa) comandado pelo grande desportista Joaquim Veiga, proprietário da Casa Karajá.
Saí com uma lista pelo comércio de Campinas e torcedores do Dragão, pegando assinaturas para que o campo cercado tivesse o nome de Estádio Antônio Accioly. Consegui 132 assinaturas.
Por isso a atual diretoria do Clube não poderia vender o terreno, porque não foi ela quem comprou. Portanto o povo da Campininha das Flores da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição deve defender com unhas e dentes o seu patrimônio.
O Atlético sempre foi soberano. Pelos jogos da Seleção Goiana, quando disputou com Mato-Grosso – 0 x 2 Goiás, e com Santa Catarina – 3 x 2 Goiás, sendo os 2 gols marcados pelo ponta esquerda do Atlético, Badala. Quase todos os jogadores da Seleção eram do Atlético. Na estreia do Vila Nova, time do Coronel Ferraz, maestro da Banda da Força Pública, a lavada foi impiedosa: Atlético 11x 0. Também com o Goiás: 3×6 Atlético. A nossa invencibilidade caiu quando o Goiânia implantou o “profissionalismo marrom”, que a Diretoria era de pessoas influentes no Governo, Dr. Irany Ferreira, presidente da Federação Goiana de Futebol, e mandaram vir jogadores de-fora com bons “empregos” no Estado. Vieram o Cid, de Conquista, o Vavá de Ribeirão Preto, o Mateba, de Uberlândia, o Piolho, de Araguari e outros do Rio de Janeiro. O Atlético estava com 43 partidas invictas e levamos, no Estádio Olympico, de 4×0. O primeiro jogo inter-estadual foi com o Tiradentes, de Uberaba, e empatamos por 4X4 no campo da Avenida 24 de Outubro.
JOGADORES QUE FIZERAM A HISTÓRIA DO ATLÉTICO
Com as acirradas disputas do Campeonato Goiano de Futebol, muitos diretores atleticanos mandaram vir parentes e amigos jogadores, que se integraram ao time e jamais retornaram às suas plagas. Vou citar os nomes de alguns que me lembro, jogadores que glorificaram o Atlético do meu tempo, começando pela ordem alfabética, para não terem nem primeiros e nem segundos: Antônio Daniel – pintor de paredes, cunhado do beque Fião, foi um dos extrema-esquerda, rápido, que chegava facilmente ao gol. Ari – o rei da bicuda. Todas as faltas possíveis de gols, eram com ele. Gráfico, corpulento, cara larga e sorriso fácil, social, ídolo dos jovens atleticanos, era ligado à família do diretor Sizenando. Jogava na meia-esquerda e foi responsável por todas as vitórias do time. Não havia jogos sem gols do Ari. Borba –irmão do Epitácio, o “diabo louro”, foi ponta-esquerda de posição sempre garantida no primeiro time. Chancão – Elpídio, vindo de Goiás Velho, half e beque, corpulento, foi parada dura: a bola podia passar, mas o freguês ficava. Fidêncio – rapaz novo, aloirado, falante e esforçado, era defesa e mais tarde foi para o Goiânia, como massagista. Gasogênio – Apelido por influência do alternativo da gasolina na época da Segunda Guerra. De fato, assemelhava-se mesmo, pois, moreno-forte, alto, banguela, bondade em pessoa, ponta-esquerda veloz, chutava forte e direto ao gol. Gasogênio não disputava, não buscava, mas quando recebia a bola de comprido, dava dois empurrãozinhos ajeitando a pelota e com a sua chanca 45, fuzilava e se fosse no rumo, o que quase sempre acontecia, era gol certo. Desapareceu, ninguém mais deu notícia dele. João V8 – corpulento, pertencia à guarda Civil, half-direito, atuou por muitos anos. Além de bom jogador foi também diretor do Clube. Mira, center-half, moreno, magro, ligeiro, pernalta, policial, foi assassinado em serviço com uma tesourada. Néri chegou bem depois, já maduro, foi o precursor do chute de enviés e com efeito. Atuava na ponta esquerda e só chutava de canhota. O seu chute era enviesado, seguia uma trajetória de direita para a esquerda, a bola ia rumo a um ângulo e entrava no outro, deixando o goleiro desnorteado. Otacílio – pardo, estatura mediana, simpático, foi um futebolista atacante clássico, que aqui chegou, me parece, por influência do Sr. Agenor, da família Cascão. Era uma pessoa muito educada e que se tornou ídolo da torcida. Pedro Tocafundo, filho do oleiro, dono da Cerâmica Tocafundo, pioneiro na construção de Goiânia, é irmão do Vicente, outro bom jogador. Alto, magro, o chute da chanca 44 era arrasador. Pedro Tocafundo foi um dos principais jogadores do Atlético e foi para o profissionalismo de Curitiba. Pixo e Dido – Nunca se pôde pensar em um sem pensar no outro. Ambos chegados de Batatais-SP, no comecinho de Goiânia, filhos do treinador do Atlético e proprietário do Bar Esportivo na Praça Joaquim Lúcio, Sr. Orlando Ferezin (irmão do Sr. Alfredo, proprietário dos cinemas daqui). Pixo e Dido foram uns dos melhores jogadores de Goiás, de todos os tempos. Pixo, center-four de ótimo físico, dono de um petardo violento. (naquele tempo, a bola era de couro) chutava-se em gol, quase sem errar). Dizia que o seu sonho seria levantar as redes com um chutaço, no Pacaembu, defendendo o Palmeiras, mas não foi para o Palmeiras e sim, para o Juventus – SP. Dido, meia direita, driblador, goleador, tinha carisma para endoidar as garotas atleticanas. Foi para o Guarani de Campinas – SP e depois para a Itália. Washington, o Goiano, ponta esquerda insuperável, tanto é que foi para o Corinthians-SP. Era irmão do eminente político Wilmar Guimarães (eu e o meu pai fomos seus eleitores de carteirinhas). Com o Pixo e o Dido, a dupla fazia misérias com os adversários. Qualquer um deles, quando recebia a bola, a galera se levantava. Wilson – Sobrinho do alfaiate, Sr. Antônio Nobre, foi o maior driblador que já apareceu nos campos goianos. Arrancava, fintando os adversários até o gol. Quase não chutava, entrava de badu, com bola e tudo. Ficou pouco tempo aqui. Naquele tempo o futebol tinha lealdade, hoje, quem der mais de um drible está arriscado a sair de campo de padiola.
Depois daremos mais notícias saudosas do nosso pioneiro Dragão. Macktub!
(Bariani Ortencio – barianiorten[email protected]. Presidente de Honra da Comissão Goiana de Folclore)