Fazendo da casa um lar
Redação DM
Publicado em 22 de setembro de 2018 às 04:21 | Atualizado há 7 anos
Em 2015, foi publicado um estudo científico realizado para uma famosa marca de móveis sueca, investigando a influência da representação dos ambientes sobre a nossa emoção e a nossa cognição. Esse estudo, conduzido de forma conjunta por pesquisadores da Champlain College, nos Estados Unidos, e da Catholic University of the Sacread Heart, sediada em Milão, foi apresentado na 6th International Conference on Applied Human Factors nd Ergonomics (AHFE 2015).
Um dos objetivos era buscar respostas para uma pergunta crucial: quais os efeitos cognitivos e emocionais que um ambiente percebido como um “lar”, e não simplesmente uma “casa”, produz. A perspectiva adotada na pesquisa incluía tanto abordagens psicológicas quanto relativas ao design de interiores. Em outras palavras, procurava-se compreender quais elementos ambientais específicos, na esfera doméstica, são percebidos como agradáveis e relaxantes, e, ainda, se a presença desses elementos específicos é capaz de influenciar as decisões de consumo, no sentido de estabelecer uma expressão de preferência por determinados tipos de ambiente.
Algumas conclusões foram as seguintes: um espaço deve conter detalhes suficientes para ser interpretado como interessante, e não enfadonho; entretanto, deve-se evitar o exagero, pois detalhes excessivos podem provocar uma reação de confusão. Elementos naturais também parecem causar um efeito positivo na percepção do ambiente, desde que não apareçam isoladamente, em pequeno número. De forma geral, ambientes de convivência devem ser compostos por diferentes elementos, inclusive naturais, agrupados de modo a criar interesse e captar a atenção, bem como por objetos da vida diária, cotidiana.
Um “lar” abarca os conceitos de família, interação social, privacidade, identidade pessoal. Quanto a esse último item, pode-se dizer que um “lar” (em oposição a uma “casa”) está estreitamente ligado à identidade de seus proprietários, porque os indivíduos tentam se expressar através da personalização do ambiente e seus objetos, como uma maneira de se apresentarem e de se representarem. Um lar se compõe de atributos que o tornam um lugar confortável, amigável e promovem uma sensação de satisfação.
Como meio de promover aconchego e personalizar o espaço, entra em cena, também, o que se denomina “decoração afetiva”, um conceito do design em que se busca imprimir no ambiente a identidade do usuário, ou seja, contribuir para que o ambiente tenha “a cara” do dono. Para isso, é preciso agregar ao projeto aquilo que o morador valoriza emocionalmente e que o representa como indivíduo.
A decoração afetiva humaniza o espaço, trazendo as referências que fazem parte da história de vida do morador, as memórias positivas, os objetos de família que lhe são caros, os presentes recebidos dos amigos queridos, as fotografias de momentos preciosos, as lembranças de viagens, as peças com as quais o morador se relaciona de modo especial e que, de alguma forma expressam quem ele é e o que, para ele, é relevante.
Muito mais do que escolher peças que componham um cenário “de novela”, o designer de interiores se mune de referências diversas nas mais variadas formas de expressão artística para compor um ambiente que traduza a personalidade dos que nele habitam.
O importante é perceber que a decoração não precisa ser “pasteurizada”, e nem deve ser impessoal. Um espaço que “faça sentido” aos moradores será muito mais bem resolvido, caloroso e aconchegante do que outro pensado com uma “precisão cirúrgica” e milimetricamente perfeito no que se refere apenas a técnicas e critérios estéticos.
Enfim, a decoração afetiva nos faz ter um outro olhar sobre as coisas e para a ambientação de uma casa. Para que essa casa reflita o fato de que ali também existe um lar, é necessário respeitar a história das pessoas, e a carga afetiva do espaço e dos objetos que o preenchem.
(Alessandra Gomes, designer de interiores e pós-graduanda em Design de Interiores, Ambientação e Produção do Espaço)