Festa do Divino Espírito Santo do Estado de Goiás
Redação DM
Publicado em 5 de maio de 2016 às 01:24 | Atualizado há 9 anosFrequentemente utilizamos a palavra “contemporâneo” em nosso cotidiano como sinônimo de tudo aquilo que existiu ou aconteceu em igual período ou tempo. Assim podemos dizer que (2016) somos contemporâneos da presidente Dilma, do governador Marconi, do vereador Anselmo Pereira, do rei mouro Hamilton, do Luís Fernando da contradança; da comemoração dos 200 anos das cavalhadas em Goiás… Inúmeros fatos corroboram para o enriquecimento dessa contemporaneidade. Um desses fatos é o desmantelamento de toda uma estrutura organizada, emaranhando a sociedade capitalista e a sociedade socialista que se contrapõem como uma negação e uma alternativa.
Volve-se ao passado quando surgiu o “Modo de produção”, a “Sociedade de classe”; os “Setores agrícola, industrial, mercantil”; os “cercamentos, as manufaturas, o comércio, a pirataria”; a acumulação de capital; o assalariado…
Construímos e desconstruímos, diariamente, a nossa trajetória de vida. Estamos registrando um novo marco na história das civilizações, sendo assim, “contemporâneo” assume um significado amplo, abrangente e complexo. O momento chama a atenção a dois fatos: (1) Processo de impeachment, lamentavelmente, recheado de homenagens aos filhos, aos pais, avós, cônjuges, torturadores… (2) Comemoração pelos 200 anos das cavalhadas em Goiás: A cultura da/na política; a política da/na cultura!
Assistimos ao longo de nossas vidas a apropriação do poder simbólico pelo poder político. Cada indivíduo, politicamente correto, “se posiciona de acordo com o capital acumulado – que pode ser social, cultural, econômico e simbólico”. Manifesta-se de acordo com a sua forma de pensar, agir; com as suas ambições, sonhos; necessidades diferentes que o faz sentir bem consigo próprio e com os outros.
Em 1816, morre aos 81 anos no Convento das Carmelitas – Rio de Janeiro – Dona Maria I (a louca).
Em 1816, chega ao Brasil a Missão Artística Francesa trazendo entre outros artistas, Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay.
Em 1816, foi apresentado, pela primeira vez em Goiás, o importante teatro equestre a céu aberto (cavalhada), em Santa Cruz de Goiás.
Ano 2016 véspera dos festejos do Divino Espírito Santo (Pentecostes), gira a folia do Divino de Santa Cruz – (F) ornada de politica!
Lembrando que a Província de Goiás tinha o seu território constituído por todo o atual Triângulo Mineiro, começando por Uberaba e terminando nas divisas com o Maranhão englobando todo o estado do Tocantins. Era governada religiosa e espiritualmente pelo Báculo da Diocese do Rio de Janeiro. Embora Dom João VI, já houvesse nomeado conforme carta Régia de 11 de dezembro de 1810, Dom Antônio Rodrigues de Aguiar, natural do Rio de Janeiro, como bispo da Prelazia de Goiás; confirmado pela Santa Sé foi empossado pelo seu então procurador, Padre Vicente Ferreira Brandão, em 13 de janeiro de 1811… Após a sagração Dom Antônio parte para a sua prelazia. No terceiro dia de viagem é acometido de violenta febre maligna, nas margens do Rio Iguassu, Freguesia de Pilar. Recebe todos os sacramentos e volta para o Rio. “Morre – em pleno mar – a dois de outubro, nos braços de dois religiosos capuchinhos, sem jamais conhecer a sua prelazia nas minas dos Goiases”, diz Padre Lívio do Monte Carmelo, no seu inédito “Galeria dos Bispos”, seção de Manuscritos n. 316, BN/Rio de Janeiro.
Com a morte do então procurador, padre Vicente Ferreira Brandão, em 10 de maio de 1812, é nomeado o padre José Vicente de Azevedo Noronha e Câmera como Vigário Capitular, Procurador que responde pela prelazia diante da Coroa e a Santa Sé. A este o vigário de Santa Cruz, de acordo com texto retirado do livro do Tombo – Crônicas da Freguesia de Santa Cruz de Goiás – 1808 – 1832. Arquivo Diocesano, Gouvêa de Sá Albuquerque faz o pedido de permissão para correr cavalhadas nas festividades de Pentecostes, celebrando a descida do Divino Espírito Santo. Padre Gouveia argumentou o isolamento do povo neste sertão dos Goyases: “A falta de lazer e divertimento está desviando as almas para as festas profanas nos pagodes e vida mundana.”
Concedida a autorização, pelo Vigário Capitular, foi apresentada a primeira Cavalhada do estado de Goiás, em Santa Cruz de Goiás, no Largo da Matriz, onde hoje está a Casa de Câmara e Cadeia, ano de 1816, tendo como primeiro Imperador Cristão Padre Gouveia de Sá Albuquerque. Os cavaleiros foram treinados por Haspasiano Dagomano.
O folguedo relembra a vitória dos Cristãos sobre os “sanguinários” Mouros (pretos) de origem árabe e religião islâmica que invadiram a Península Ibérica.
Ä época Padre Gouveia mandou confeccionar o Cetro e a Coroa de prata pura e a Bandeira do Divino Espírito Santo e ainda mandou fazer “pãezinhos do Divino”, uma espécie de rosca da rainha besuntada com calda caramelada de açúcar, que depois de benzida eram distribuídas de casa em casa do vilarejo como gentileza e cortesia do Imperador.
Cavalhadas, uma beligerância religiosa, étnico/racial, cultural… Reconhecida no Brasil como uma das importantes expressões culturais e folclóricas que é passada de geração a geração. Traz à tona a Memória do enfrentamento e disposição em difundir o cristianismo dizimar os “bárbaros” dando a Carlos Magno o papel de defender o catolicismo…
O Governo de Goiás lança o Circuito Cavalhadas de Goiás que será realizado nas cidades de Palmeiras, Corumbá, Pirenópolis, Jaraguá, Santa Cruz de Goiás e São Francisco.
Nestes festejos não devemos esquecer a contradança, o batuque, a Lira Oito de Dezembro, além da parte religiosa que é a base do Império.
(Aparecida Teixeira de Fátima Paraguassú, historiadora, pesquisadora, musicista, poetisa, escritora. Titular Colegiado Nacional de Culturas Populares do CNPC/Conselho Nacional de Politica Cultural; secretária da Associação dos Amigos de Santa Cruz. fatipar@hotmail.com)