Fórum Social Mundial: de Dacar (Senegal 2011) a Salvador (Brasil 2018)
Diário da Manhã
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 20:56 | Atualizado há 7 anos
Em fevereiro de 2011 participei do Fórum Social Mundial em Dacar, Capital do Senegal, como palestrante. O tema que abordei foi ‘Educação e Meio Ambiente’, representando a Central dos Trabalhadores do Brasil/Goiás, como sua presidente.
Mas minha participação no movimento sindical não tem data de início, já que nasci dentro dele, quando, involuntariamente, era levada por meu pai a participar das reuniões do Sint-Ifesgo (Sindicato dos trabalhadores técnico-administrativos em educação das instituições federais de ensino superior do Estado de Goiás). A sala da recepção da atual sede do sindicato é prova disso, já que tem uma fotografia minha como testemunho, quando eu era apenas uma menininha loirinha, pelos meus oito anos de idade, em uma dessas reuniões.
Já fui da diretoria da CUT/Goiás, Secretária Geral do Sintego, Secretária de Políticas Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, dentre outras funções exercidas por mim nesse mundo do sindicalismo.
Hoje, o que mais me alegra é fazer parte do Conselho Estadual de Educação, onde posso exercer com entusiasmo a função de conselheira, definindo as políticas educacionais para o nosso estado.
É importante frisar que a Carta de Dacar de 2011 trouxe diretrizes para a educação mundial, meta esta que foi atingida apenas por Cuba, que hoje detém o título de melhor país educador do mundo. Por isso, achei engraçado quando uma colega conselheira se levantou e criticou a possibilidade de adoção do modelo senegalês proposto para o mundo. Nisto, a Seduce merece o meu respeito ao pelo menos tentar implementar o modelo mundial proposto, apesar do desaviso total de alguns.
Cheguei em Dacar, Senegal, de mala pronta, como sou acostumada a fazer nessas minhas andanças pelos encontros educacionais e universitários pelo Brasil. Minha mala estava preparada com lençol, travesseiro e cobertor.
Para minha surpresa, o hotel era esplendoroso, o que já me frustrou bastante logo de cara, pela questão da desigualdade no continente africano. Mas a minha amizade com os ‘sheik’s’ do petróleo me fez ir de jatinho particular até o Egito para participar das manifestações naquele país, podendo voltar atempadamente das programações do Fórum. Me sinto protagonista da Primavera Árabe, vez que tive participação direta no processo.
Fiquei hospedada no mesmo hotel em que se hospedou o ex-presidente Lula, que foi um dos preletores na abertura do Fórum de Dacar. Já nos conhecíamos dos movimentos sindicais, desde da época em que eu dirigia a CUT; mas ali, tive a oportunidade de consolidar nossa amizade. Ficávamos horas conversando. Pena que ele partiu antes do término do evento.
A Ilha de Gorée me trouxe profunda consternação, não só pela sua história e passado, mas por perceber que a África ainda não se libertara da realidade de vender os seus filhos.
O World Social Forum (WSF) foi criado para se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Davos, e em 2011, teve especial importância.
Em 18 de dezembro de 2010, começou no norte da África e Oriente Médio uma onda revolucionária de manifestações e protestos contra governos do mundo árabe, que eclodiu em 2011. O Fórum Social Mundial influenciou de tamanha forma o movimento árabe já em andamento que as mudanças concomitantes no mundo árabe deram aos participantes daquele Fórum em especial, a sensação mais concreta de estarem conectados com os processos de mudanças reais para que outro mundo fosse possível.
Inegável o efeito dominó que partiu do Senegal, para contaminar os países vizinhos: Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Sudão, Jordânia, Líbano, Palestina, Síria, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Omã e Iêmen, de uma maneira ampla.
Ocorreram nestes países desordem civil e protestos de tais proporções que provocaram mudanças governamentais e quedas de governos.
Os ditadores da Tunísia e do Egito deixaram o governo sem oferecer resistência. Já na Líbia, Muammar Kadafi foi morto por uma rebelião interna. No Iêmen, o presidente Saleh resistiu às manifestações por vários meses, até transferir o poder a um governo provisório. A Síria foi o único país que teve participação direta no processo da primavera árabe e que até agora não conseguiu derrubar o governo do ditador Bashar al-Assad.
Para variar, os Estados Unidos eram aliados de ditaduras árabes, buscando garantir interesses geopolíticos e econômicos na região, que abriga as maiores reservas de petróleo do planeta. A Primavera Árabe põe em cheque a política externa de Washington para a região.
O Fórum Social Mundial deste ano será realizado em Salvador, do dia 13 a 17 de março. E ele vem com tudo! Mormente em relação ao momento em que vivemos, quando a Escola de Samba Tuiuti mostrou para o mundo que o brasileiro sabe exatamente o que está acontecendo por aqui: um golpe que sustenta um presidente ilegítimo, odiado pelos brasileiros e que tem apenas 4% de aprovação. O resto é lenda. Informações consistentes dão conta que os congressistas de Brasília iniciam o dia sem sabe qual será seu desfecho, com medo do que o povo possa fazer. Mas ainda assim, desafiam os trabalhadores e impõem reformas indesejadas. Não é mais do que este o retrato atual de um país de que pisa em ovos.
Minha expectativa pelo que há por vir neste fórum mundial é grande, e não vou deixar por menos.
É hora da revolução. É hora de derrubar um governo que derrubou um outro governo devidamente eleito pelo povo. Da minha parte, estou pronta.
(Ailma Maria de Oliveira, presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil – CTB Goiás, conselheira eleita do Conselho Estadual de Educação)