Fuga para Marte
Diário da Manhã
Publicado em 21 de junho de 2017 às 02:38 | Atualizado há 8 anos
O personagem do livro Crônicas Marcianas queria ir para Marte no Foguete. Foi bem cedo até ao campo de lançamento e gritou através da cerca de arame farpada para o homem uniformizado, que ele queria ir para Marte. Disse que pagava seus impostos, e que seu nome era Prochard, e tinha o direito de ir para marte. Afinal, não era um bom cidadão nascido em Ohio?
Então por que ele não poderia ir para lá?
Balançou os punhos na direção deles e disse que queria ir embora da Terra. Qualquer um com juízo queria ir embora da Terra.
Haveria uma guerra nuclear acontecendo na Terra nos próximos anos e ele não queria mais viver nesse planeta.
Eu também quero me abrigar em outro planeta. A essa altura dos acontecimentos, creio que há mais gente querendo ir para o planeta acima aludido. Salomão afirmou: “Nada há de novo sob o sol”. O Império Romano declinou, tal como a República americana está declinada em nossos dias e exatamente pelas mesma razões; permissividade social, imoralidade, o descaso com o bem-estar do povo, escândalos nos cargos públicos, pilhagem do erário, endividamento, a atitude do “vale-tudo” , tolerância diante da injustiça e da exploração, burocratas e burocracias baixando “regulamentos” perversos quase que semanalmente, guerras infidáveis, elevada taxa de confisco, a destruição brutal da classe média, desprezo cínico pelas virtudes, princípio e éticas humanas consagradas, busca da riqueza que lisonjeia as massas em trocas de votos, inflação, deterioração do sistema monetário, suborno, criminalidade, distúrbio, atividades incendiárias, manifestações de ruas, libertação de criminosos a fim de gerar caos e terror, conduzindo a uma ditadura “em nome da emergência”, perda da firmeza masculina e feminização do povo, desprezo do público pelos homens bons e honrados e, acima de tudo a filosofia de que “Deus está morto” e o homem reina soberano.
Temos ou não temos motivos para gritar como o protagonista do conto da Ray Bradbury?
Esperem por mim! Gritou. Não me deixem aqui neste mundo terrível,eu tenho que sair daqui, tem uma guerra atômica chegando!
Não me deixem na Terra!
Eles o arrastaram para longe. Bateram a porta da viatura policial fechando-a na sua cara, e o levaram naquele início de manha, seu rosto contra o vidro da janela, e pouco antes das sirenes, viu o fogo vermelho e ouviu o estrondo e então sentiu o enorme tremos do foguete prateado que partia, deixando-o para trás em uma segunda-feira nesse banal planeta Terra.
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)