Futebol brasileiro: mergulho na mediocridade
Redação DM
Publicado em 3 de abril de 2015 às 01:46 | Atualizado há 10 anosEurico Barbosa,Especial para Opinião Pública
O Brasil conta com 12.200 jogadores de futebol profissional. Aquilata-se a pobreza técnica em que mergulhou o futebol brasileiro de alguns anos pra cá, pelo percentual ínfimo, quase zero, de valores considerados convocáveis para a seleção nacional. Desses 12.200 não se destacam como à altura de integrar o selecionado do Brasil mais do que 10 craques, talvez nem isso, já que os selecionáveis estão praticamente todos no exterior. Além do goleiro Jefferson do Botafogo, que aliás, já foi escalado duas vezes pelo técnico Dunga, qual outro jogador, dos que atuam aqui, é cogitável para a representação da CBF? O Elias do Corinthians, o centroavante ora em recuperação no Cruzeiro Leandro Damião? Por maior que seja o esforço da memória é difícil, mencionar outros para as cogitações de Dunga.
Quem acompanha os campeonatos estaduais, notadamente o paulista, o carioca, o mineiro e o gaúcho, bem como a Copa do Brasil, está a testemunhar o baixíssimo nível de todas estas competições. Como times são ressalváveis apenas o Corinthians e o Cruzeiro; e como verdadeiros craques individualmente nenhum além daqueles pouquíssimos acima mencionados.
O fenômeno entristecedor decorre, naturalmente, da precariedade da situação financeira das nossas agremiações profissionais e das péssimas gestões administrativas que encalacraram quase todos os clubes mais fortes. Anteontem, por exemplo, uma entrevista do ex-jogador Artur, que jogou no Vasco e no futebol português e hoje se encontra na cúpula dos dirigentes do Rio Branco do Acre, notabilizou-se como emblemática da situação extremamente difícil do futebol brasileiro. Disse o ex-jogador que naquele Estado o futebol ainda existe apenas graças à ajuda financeira do governo estadual. O desencanto com o futebol acreano por parte de Artur é tamanho que ele não quis admitir a mínima possibilidade de vitória do seu clube sobre o Vasco da Gama. E foi além: declarou que ia torcer pelo Vasco, seu clube de coração.
O endividamento dos clubes brasileiros atinge proporções tais que no último mês o Congresso Nacional votou projeto de lei do governo federal que concede aos clubes o parcelamento durante 20 anos dos seus débitos, que são fabulosos (cerca de 30 bilhões de reais) para com a previdência social.
O clube mais popular do Brasil, o Flamengo, viu-se obrigado a uma programação financeira, de longo prazo, enquadrada em limites os mais rigorosos. Tanto que o presidente rubro negro, Bandeira de Mello, que foi dirigente do BNDES por alguns lustros, já declarou reiteradas vezes que a austeridade do plano de recuperação do “mais querido” faz prever condições de pensar em títulos importantes somente daqui a no mínimo três anos.
O Palmeiras, tradicional disputante de títulos, mas que no ano passado teve de disputar a série B do Campeonato Brasileiro, tem levado tão a sério seus projetos de superação da crise financeira, que deu início há poucos meses a uma campanha vigorosa no objetivo de ampliar o seu quadro de sócios contribuintes e o esforço alviverde tem sido exitoso: já está entre os 10 clubes do mundo com maior número de tais associados – já ultrapassou a 103 mil. Nesse plano o Internacional e o Grêmio, os dois grandes clubes gaúchos, também têm se mostrado bastante eficientes. Ambos contam já com mais de 100 mil torcedores com contribuição mensal.
Mas o futebol brasileiro está longe de superar as gravíssimas dificuldades que atravessa. Não há público nos estádios nos jogos dos campeonatos estaduais e da Copa do Brasil. No certame carioca a maioria dos jogos raramente tem chegado a ultrapassar 3 mil pagantes de ingressos. Em São Paulo ocorre esse mesmo fracasso com exceção de 4 ou 5 clássicos. Noutro dia, aqui em Goiânia, um jogo do Atlético Goianiense no Serra Dourada não atraiu mais que 300 (trezentos) torcedores. O próprio Goiás tem sido um fracasso em rendas e o seu rendimento técnico, muito inferior ao dos anos anteriores, causa preocupação na perspectiva do Campeonato Brasileiro, série A.
Quem assiste às transmissões por emissoras da TV brasileira dos campeonatos europeus fica impressionado e triste com a diferença de organização e qualidade deles em comparação com o futebol brasileiro. O tema comporta outros artigos. Voltarei a ele noutras oportunidades.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às terças e sextas-feiras)