Governo Temer comunica mal, o contrário de Lula
Diário da Manhã
Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 22:08 | Atualizado há 7 anos
O governo Michel Temer parou de cair, segundo pesquisas de opinião do Datafolha. Os dados, divulgados no domingo, são relativos a setembro. Temer é rejeitado por 71%, considerado regular por 23%, contra 20%. Os que aprovam como ótimo ou bom se limitam a 5%.
Minha avaliação como franco atirador, distante de qualquer premissa político-partidária ou ideológica, é a de que seu governo comunica mal. Agora, deu uma mexida na área de Comunicação e houve uma contida na má avaliação. Propagandas massivas na televisão passaram a explicar melhor a importância das reformas.
O seu governo, embora tenha nascido no mesmo ventre da coligação encabeçada pela Dilma Rousseff, colhera uma safra péssima. Um legado de mais de 13 milhões de desempregados. Uma inflação ensaiando galope. Índices de crescimento beirando zero. PIB andando como caranguejo. Um país entregue à corrupção desenfreada e sem credibilidade interna e externa.
No governo anterior, a sociedade foi pra rua clamar pela queda da Dilma e gritos contra a roubalheira. Na verdade, os brasileiros estavam cansados do governo petista. Tanto que nas eleições municipais, a oposição perdeu feio. Em São Paulo, por exemplo, Dória ganhou no primeiro turno.
Companhia petrolífera em qualquer país do mundo gera riqueza, provoca crescimento industrial, gera milhões de empregos, move frotas, escoa mercadorias e contribui para a agregação de valores. No Brasil, a Petrobras foi quebrada pelo voraz apetite dos partidários do governo petista.
Ora, o PT, com Lula e Dilma, ficou praticamente 15 anos no poder e não promoveu uma reforma de base. Logo um partido dito de esquerda. O pessoal dessa tendência política e ideológica sempre proclamou a necessidade das reformas: agrária, em primeiro lugar. Política, etc.
Mas, não mexeu uma palha nessa direção. O MST continuou invadindo terra produtiva, danificando laboratórios de pesquisas agronômicas, foi para a beira das estradas com seus acampamentos de lona. Até o regime militar, sempre criticado, fez mais pelos que queriam um pedaço de terra para lavrar.
O atual governo toma atitude, encaminha algumas reformas, entre elas a trabalhista e a previdenciária ao Congresso, e se contém ante o maremoto de críticas oposicionistas. Ora, se os deputados e senadores não se conformam com o texto. Então, que façam emendas. Deitar falação pode ser bom para si, para o partido, mas nem sempre atende aos interesses nacionais. Este, sim, deve prevalecer.
Voltando ao processo histórico recente, Temer sucede Dilma, cassada pelo Congresso Nacional, seguindo os ditames constitucionais. Coloca na área econômica uma equipe coordenada pelo ministro Henrique Meirelles. A inflação é contida em poucas semanas. Os juros bancários sofrem baixas. A ideia de Meirelles é contribuir para novos investimentos no País com financiamentos mais baratos às empresas.
Lembrando da evolução recente na economia, que interessa de perto o público, o superávit comercial para os primeiros 11 meses do ano chegou a US$ 62 bilhões e é o maior da história. Os recordes anteriores para os primeiros 11 meses (US$ 43,3 bi) e para anos fechados (US$ 47,bi) haviam sido registrados em 2016.
O Índice de Confiança do Agronegócio subiu 6,7 pontos no terceiro trimestre de 2017 em relação ao segundo, para 99,1 pontos, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Conforme as duas entidades, o IC Agro indica uma “melhora significativa” das expectativas, embora o entusiasmo ainda não tenha retornado aos níveis de 2016, quando no mesmo período registrou 106,3 pontos.
Pela metodologia do IC Agro, uma pontuação acima de 100 pontos corresponde a otimismo e abaixo disso indica baixo grau de confiança.
A confiança da indústria de insumos agropecuários somou 104,8 pontos no trimestre, alta de 11 pontos ante o trimestre imediatamente anterior. “Algumas incertezas que pairavam sobre o setor ao longo do ano foram amenizadas. À medida em que o plantio da safra de verão se aproximou as negociações voltaram a ocorrer, o que justifica a melhora da percepção das indústrias de insumos”, disse em nota o gerente do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Fiesp, Antonio Carlos Costa.
Para a indústria fora da porteira, houve avanço de 5,8 pontos, para 102,7 pontos, ante o último levantamento. O resultado mostra que as empresas retornaram um otimismo moderado, próximo ao registrado em 2016.
Já para o produtor agropecuário, o avanço foi de 5,9 pontos em comparação com trimestre anterior, para 93,2 pontos, ainda que pelo terceiro levantamento consecutivo o indicador permaneça abaixo dos 100 pontos. “Os resultados mostram que a confiança aumentou mais entre os pecuaristas do que entre os produtores agrícolas, depois de atingir o menor nível da série histórica”, afirmou o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, também por meio de comunicado.
O Produto Interno Bruto (PIB) ficou estável no terceiro trimestre de 2017, com uma variação de 0,1% frente ao trimestre anterior, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, a economia cresceu 1,4%. Neste ano, até setembro, a expansão é de 0,6%.
Pela primeira vez em 15 meses, o investimento das empresas cresceu. Entre julho e setembro, a chamada formação bruta de capital fixo avançou 1,6%. Indústria e serviços cresceram, respectivamente, 0,8% e 0,6% em relação aos três meses anteriores. Já a agropecuária recuou 3%, porém, continua a vedete da economia brasileira, com uma alta de 14,6% no ano.
O que sucede é que o governo Temer tem comunicado mal com a sociedade. Com esse comportamento tímido seus bons projetos tendem a ir água abaixo. Agora, depois do tsumani todo, Temer resolve alterar a sua comunicação e a mudança oferece os primeiros resultados positivos. Os desafios, no entanto, tendem a continuar. Com o atual governo, o desgaste foi enorme.
Temer tem muito a aprender com Lula, que sabe se comunicar com a multidão. Linguagem direta sem maiores sofismas. O lamentável, apenas, é que os demais exemplos não devem ser seguidos. Mas, aí cabe à justiça cumprir o seu papel e o eleitorado não ir na conversa fiada do candidato ao terceiro mandato.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histadrut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)