Gravemente enferma, a Fama sonha com uma sub-rodoviária na Vila Abajá
Diário da Manhã
Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 01:01 | Atualizado há 8 anos
O cantor Caetano Veloso, declarou num programa de televisão, que não existe nenhum abismo por maior e mais profundo que seja em que caiba o Brasil. É verdade e se não fosse por isso os comerciantes de Campinas e da Fama já estariam quebrados há muito tempo. Há chupacabras – necessitados trabalhadores, sem dúvida – sugando-lhes em seus poros a seiva torrentosa duramente conseguida através de longos anos de trabalho, de ideias e ações maciças e profundas, reveladoras das fortes paixões que possuem. Desde que o corre-corre da Rodoviária Central de Goiânia se juntou ao atabalhoado movimento da famanáz Feira de Artesanato da Praça dos Trabalhadores, sucessora da saudosa Feira Hippie da Praça Cívica, a coisa tumultuou-se de tal forma que deu sequência à outra confusão surgida ali perto. Refiro-me naturalmente ao palco de guerra da Rua 44 que – hoje – representa o sinal de morte do comércio varejista e atacadista de roupas feitas de Campinas e da Fama, para não falar na ameaça que já começa a ser sentida de igual forma nos setores calçadistas e de semi jóias. De Lunes a Viernes, de segunda à sexta-feira, como se diz em Buenos Aires, Campinas virou um ôco só. Com a recente eleição de Iris Rezende para um novo mandato à frente do governo municipal, houve naturalmente uma euforia de grande proporção entre os pequenos e médios empresários de Campinas, e longe de qualquer esmorecimento para enfrentarem, em luta de foice no escuro, os desafios da História, chegaram a idealizar uma reunião, cuja pauta a discutir estaria voltada unicamente para um item, qual seja, o quê pedir ao novo prefeito, qual a providência a reivindicar ao poder público para salvar o agonizante comércio de Campinas. Todos sabem que Iris Rezende é filho da terra, politicamente falando, e que tem ali o seu mais fiel colégio eleitoral, ipsofacto, há crédito para pedir. A reunião acabou não existindo, mas já ficou acertado que tão logo passasse os atropelos da posse, organização do secretariado e escolha dos demais assessores imediatos, levariam a sua Excia. o pedido para dinamizar a Avenida Leste-Oeste com a criação de uma sub-rodoviária na Vila Abajá como meio, de socorrer imediatamente o comércio da Fama, que tem atualmente mais de 500 lojas fechadas. A Avenida Leste-Oeste separa Campinas da Vila Abajá, corta a Fama no sentido leste-oeste e foi construída em cima dos trilhos da ferrovia que o saudosíssimo Governador Mauro Borges, quando diretor geral da Estrada de Ferro Goiás, sonhava levar até o Mato Grosso goiano. Veio o Governo J.K., houve opção pelo transporte rodoviário e a ferrovia não ultrapassou as encostas do Morro do Mendanha, mas deixou uma subestação em Campinas, na mesma Vila Abajá, a meio caminho entre os córregos Capim Puba e Cascavel que delimitavam as fronteiras leste-oeste da parasidíaca Campinas de então. Porque o grande estadista mediterrâneo exigiu que o projeto contasse com uma subestação a 1.500 metros do pátio ferroviário da ponta norte da Avenida Goiás? Não é preciso muita argúcia para saber que ele já se preocupava com o isolamento de Campinas – bairro-mãe da Capital – e via como traição a passagem direta dos trens por ali. Era preciso instalar em Campinas uma subestação, por entender aquele homem público, o que significa para o desenvolvimento de um determinado lugar, o embarque e desembarque de passageiros. O que era o setor Norte Ferroviário antes da edificação da atual rodovíária de Goiânia? Nada! Mas Campinas ficou na contramão desse progresso, aliás, foi e é a sua grande e única vítima. Seu comércio está secando e mais ainda, o da Fama, perto demais do monstruoso molusco e seus tentáculos mortais, numa vizinhança nefasta, sem a indispensável contiguidade, por estar clivada pelo vale do Capim Puba. É preciso tratar o mal, não com uma homeopatia inócua, aumentando-lhe os sintomas, mas com seus próprios antídotos. Fazendo outra citação, mais paradigmática dos problemas da vizinhança da Fama com a estação rodoviária, Don Porfírio Diaz, que chefiou o governo do México com mão de ferro por mais de 30 anos, declarara ao embaixador americano Henry Lane Wilson: “Pobrecito de Mexico, tan lejo de Dios y tan cerca de los Estados Unidos”. O projeto da subestação rodoviária da Vila Abajá é factível, resolve, e o atual prefeito tem compromisso com Campinas e é hora de ajudá-la sem mais tardança, right now! Temos certeza que basta um aceno, um aviso, e todos o ajudarão também, para realizar esse memorável projeto – para ele café pequeno – antes que Campinas juntamente com a Fama venham parecer-se como aqueles lugares que, na mirada das criaturas, vão passando quietamente esses lugares. O que imaginam ou recordam com brancura suas, é claridade que não mais lhes pertence. Deixemos de lado os espinhos…e procuremos as pétalas. Entre as ruas Benjamim Constant e Rio Verde, por trás do Colégio Pedro Gomes, há uma quadra que está – segundo se sabe – à venda. Está contígua ao Cepal ali existente que faz frente com a Avenida Leste Oeste. É de propriedade dos herdeiros do fotógrafo – primeiro fotógrafo de Goiânia – Eduardo Belemjean, que tem raízes aqui em Campinas. Toda família foi criada na Avenida 24 de Outubro. Há afetividade, portanto, para não falar na valorização de outros imóveis que possuem na mesma região, caso seja ali instalada uma sub-rodoviária. Está armada a equação. E o próprio prefeito, que sempre trabalha de mangas arregaçadas, sem se render jamais às dificuldades, de foice nas mãos, pediu sugestões! Falta, pois, para o empreendimento apenas o mirante. Mas, rodoviária tem é plataforma de embarque e desembarque, pátio de manobras, lojas, e nunca se viu uma com mirantes. Então, não falta nada!
(Vasco de Oliveira e Silva, historiador e articulista da A.G.I.)