Opinião

Greves pipocam em 2017

Diário da Manhã

Publicado em 29 de dezembro de 2017 às 23:42 | Atualizado há 7 anos

Os tra­ba­lha­do­res co­le­ti­va­men­te pa­ram de tra­ba­lhar e a is­so cha­ma­mos gre­ve. Ao pa­rar de tra­ba­lhar, dei­xam de pro­du­zir e im­põ­em per­da àque­les que os em­pre­gam.

Na gre­ve, o re­cur­so hu­ma­no que a em­pre­sa em­pre­ga se apre­sen­ta co­mo gen­te e co­mo su­jei­to po­lí­ti­co, por­que é co­le­ti­vo, e por­que pa­ra!

O em­pre­sá­rio pen­sa que se fos­se uma má­qui­na, não pa­ra­ria. Se que­bras­se, ele con­ser­ta­va ou tro­ca­va. Com gen­te é di­fe­ren­te, ape­sar dos pa­trões in­sis­ti­rem em cha­mar de re­cur­so hu­ma­no – ma­nia de al­guns de trans­for­mar o su­jei­to em ad­je­ti­vo. Na gre­ve, o ad­je­ti­vo se co­lo­ca de ma­nei­ra im­pe­ra­ti­va, co­mo su­jei­to, e ex­pli­ci­ta o con­fli­to de clas­se – en­tre quem em­pre­ga e quem é em­pre­ga­do, en­tre quem man­da e quem obe­de­ce. A gre­ve afir­ma, em um lap­so de tem­po, que ou­tra si­tu­a­ção de tra­ba­lho se­ria pos­sí­vel.

Mas há gre­ve e gre­ves. To­das tra­tam de al­gu­ma ma­nei­ra de ques­tões dis­tri­bu­ti­vas – quan­to ga­nham aque­les que são em­pre­ga­dos – ou das con­di­ções de tra­ba­lho. Há as gre­ves pro­po­si­ti­vas, que bus­cam con­quis­tar, am­pli­ar ou con­so­li­dar di­rei­tos – quan­to da­qui­lo que o tra­ba­lha­dor adi­cio­nou e cri­ou de ri­que­za e que se­rá des­ti­na­da a ele.

As gre­ves pro­po­si­ti­vas ocor­rem pre­do­mi­nan­te­men­te quan­do a eco­no­mia cres­ce, a pro­du­ti­vi­da­de au­men­ta, os lu­cros se re­a­li­zam, a pro­du­ção es­tá al­ta e os es­to­ques es­tão bai­xos. Quan­do a pro­du­ção pa­ra, os lu­cros ca­em e es­sa é uma lin­gua­gem que o ca­pi­tal en­ten­de.

Mas há gre­ves que ocor­rem quan­do as coi­sas não vão bem. São gre­ves de­fen­si­vas; aque­las que os tra­ba­lha­do­res fa­zem por­que es­tão no li­mi­te da per­da dos di­rei­tos.

O le­van­ta­men­to per­ma­nen­te do DI­E­E­SE iden­ti­fi­cou 1.001 gre­ves em 2017 até ou­tu­bro, di­vi­di­das qua­se igual­men­te en­tre o se­tor pri­va­do e pú­bli­co; na mai­o­ria, de­fen­si­vas, co­e­ren­tes com a gra­ve re­ces­são por que pas­sa a eco­no­mia bra­si­lei­ra.

No se­tor pri­va­do, 59% das gre­ves ocor­re­ram por­que hou­ve atra­so no pa­ga­men­to dos sa­lá­ri­os; 27%, por pro­ble­mas re­la­ci­o­na­dos às de­man­das de ali­men­ta­ção; 16%, por rein­vin­di­ca­ção de re­a­jus­te sa­la­ri­al; 11%, por atra­so no pa­ga­men­to do 13o sa­lá­rio; e 9%, pe­la re­gu­la­ri­za­ção do de­pó­si­to do FGTS.

No se­tor pú­bli­co, 45% das gre­ves de­fen­si­vas de 2017 ocor­re­ram por rein­vin­di­ca­ção do re­a­jus­te sa­la­ri­al; 19% plei­te­a­vam me­lho­res con­di­ções de tra­ba­lho; 18% fo­ram pe­lo pa­ga­men­to de sa­lá­ri­os atra­sa­dos; 18%, por pi­so sa­la­ri­al; 16%, por pla­no de car­gos e sa­lá­ri­os; 11%, pa­ra efe­ti­va­ção da con­tra­ta­ção; e 10%, por de­man­das re­la­ci­o­na­das à ali­men­ta­ção.

Pa­ra­mos co­mo for­ma de nos co­lo­car­mos em mo­vi­men­to e re­a­li­za­mos a trans­for­ma­ção de re­cur­so em gen­te; de for­ça de tra­ba­lho em su­jei­to co­le­ti­vo; de pro­du­tor de ri­que­za em pro­mo­tor de bem-es­tar so­ci­al. Fa­ze­mos gre­ve por­que, na lu­ta de clas­se, pa­rar é con­di­ção pa­ra an­dar, al­gu­mas ve­zes, pa­ra avan­çar e ou­tras, pa­ra se de­fen­der.

 

(Cle­men­te Ganz Lú­cio, so­ci­ó­lo­go, di­re­tor téc­ni­co do Dieese, mem­bro do Cdes – Con­se­lho de De­sen­vol­vi­men­to Eco­nô­mi­co e So­ci­al e do Gru­po Rein­dus­tri­a­li­za­ção)

 

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