“Homossexualidade é doença?”
Diário da Manhã
Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 02:29 | Atualizado há 7 anos
Pode parecer que o conceito de “doença” é algo simples, bem definido, bem delimitado, mas não é. Por exemplo, ultimamente, tal conceito tem sido usado para fins ideológicos/políticos. Hoje em dia, chamar alguém de “doente” passou a ser algo ofensivo.
Nos EUA, p.ex., quando você quer ofender a alguém, chama-o, “you are sick” , mais ou menos como algo assim : “você é UM DOENTE”. Tal fenômeno já ocorreu inúmeras vezes na história da medicina, sobretudo da psiquiatria. Por ex., os termos “imbecil”, “idiota”, “débil”, “loucura” (em francês, “folie”), “demente” , “cretino”, “mongol”, “retardado”, “leproso”, “esquizofrênico”, hoje em dia “bipolar”, “obcecado”, “mentecapto”, “maníaco”, etc, todos já foram apenas um nome de doença, em algum momento da história, quando foram inventados.
Por exemplo, os graus de deficiência mental eram classificados em “idiota”, “imbecil”, “débil”, apenas numa gradação, da doença mais grave para a menos grave.
Nós vivemos em uma época onde todo o Ocidente se volta contra a “autoridade”, contra a “lei”, contra a norma, contra a “moral”, contra o “falo”, contra o “macho”, e, de modo geral, a “fria e calculista Medicina” é uma vítima disso.
A culpam por ter um papel de “dar rótulos”, “classificar pessoas”, ser “racista” (esses dias culpavam os médicos de dizerem que anemia falciforme e hipertensão maligna atinge muito mais os negros), ser “controladora de comportamentos”, ser “auxiliar da Bíblia” (“contra a homossexualidade”).
Isso tem várias repercussões dentro da medicina, que também sofre muitas influências políticas e ideológicas. Por exemplo: hoje em dia já não se fala mais em “retardo mental”, mas sim em “insuficiência intelectual”. “Doença Maníaco-Depressiva” virou “Transtorno Bipolar”, e este, para as crianças, pelo menos, já está virando “Transtorno de desregulação do humor”.
Já retiraram da classificação psiquiátrica o que antes era considerado doença, p.ex., além da homossexualidade, a masturbação (que já foi considerada um “desvio patológico”), o sadismo, o masoquismo, voyeurismo , exibicionismo, fetichismo, zoofilia.
Para as associações psiquiátricas que estão querendo “des-medicalizar” esses 6 últimos problemas, por exemplo, não haveria doença se uma pessoa que gosta de causar dor durante o ato sexual (sadismo), fizer sexo consensual com outra que gosta de ser ferida durante o ato. Para eles não seria “doença”.
Estão querendo retirar a pedofilia, quando o indivíduo só tem os “desejos infantis”, mas não chega a praticar o ato. Ou quando gosta de ter relações com garotas de mais de 9 anos, ou entre aproximadamente 9 e 12 anos, quando já começam a aparecer , na menina, caracteres sexuais secundários. Ou então, quando tem sexo com uma garota de 14 anos, já “madura”. Segundo ele, (“nessa idade essas meninas sabem mais de sexo do que eu”) para ter sexo consensual?
Também não vêm como ser doença as situações onde “não há prejuízo” para quem está se mostrando sexualmente (exibicionismo – o que seria das “strippers”, ou das “pornôs”, não é mesmo ?), ou quem só gosta de ver (voyeurismo), ou para quem gosta de transar com uma calcinha, não com uma mulher (fetichismo).
Ou , então, mais drasticamente, não seria doença aquele que gosta de receber sexo orogenital por parte de um cachorro, já que isto não estaria – pelo menos na mente deles – lesando nem o cachorro e nem quem pratica o ato. Antigamente, advogava-se que isto seria “doença” porque o indivíduo despreza uma mulher, preferindo mais o ato (a calcinha, a dor, a mão, o animal, o “ver”, etc. ) do que a cópula propriamente dita.
Esse artigo e esse tema terá continuidade no próximo domingo.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)