Ideias inatas
Redação DM
Publicado em 19 de dezembro de 2015 às 22:57 | Atualizado há 9 anosComo se sabe, a teoria das ideias inatas transita pelos arraiais da Filosofia, transitando também pelas veredas das Ciências Naturais, da Metafísica e dos maiores troncos religiosos da humanidade.
2 – Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, nas questões 218 a 22, trata do assunto com propriedade.
Vejam-se:
- Encarnado, conserva o Espírito algum vestígio das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
“Guarda vaga lembrança que lhe dá o que se chama ideias inatas.”
a)– Não é, então, quimérica a teoria da ideias inatas?
“Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante a encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém, a intuição que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar constantemente. Em cada nova existência, o ponto de partida para o Espírito, é o em que, na existência precedente, ele ficou.”
b)– Grande conexão deve então haver entre duas existências consecutivas?
“Nem sempre tão grande quanto talvez o suponhas, dado que bem diferentes são, muitas vezes, as posições do Espírito nas duas e que, no intervalo de uma a outra, pode ele ter progredido.” (216)
- Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, o das línguas, do cálculo, etc?
“Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não tem consciência. Donde queres que venham tais conhecimentos? O corpo muda, o Espírito, porém não muda, embora troque de roupagem.”
- Pode o Espírito, mudando de corpo, perder algumas faculdades intelectuais, deixar de ter, por exemplo, o gosto das artes?
“Sim, desde que conspurcou a sua inteligência ou a utilizou mal. Depois, uma faculdade qualquer pode permanecer adormecida durante uma existência, por querer o Espírito exercitar outra, que nenhuma relação tem com aquela. Esta, então, fica em estado latente, para reaparecer mais tarde.”
3 – As ideias inatas estão intimamente relacionadas às existências anteriores da alma, ou espírito.
A experiência e aprendizagem que a alma adquire enquanto no carpo físico, através das encarnações, passam a fazer parte de seu acervo de conhecimentos, e jamais se perdem. Essas experiências aparecem, via da intuição, a título de tendências, dons, etc.
O Espírito, enquanto no estado de desencarnado, tem individualidade, individualidade essa que se distingue dos demais seres; enquanto no corpo físico, tem apenas personalidade.
A individualidade, portanto, envolve a personalidade, isto é, enquanto a individualidade é eterna, essência, divina, a personalidade é transitória, desaparecendo com o advento do fenômeno da morte, ou descarte do corpo físico.
As experiências que se adquirem através das reencarnações sucessivas formam o arquivo da individualidade, que poderá, através da intuição, influenciar a criatura nas existências posteriores.
4 – Em sequência, na questão 221, Allan Kardec indaga se a lembrança retrospectiva é o resultado do sentimento instintivo na crença da existência de Deus. E os Espíritos Superiores, da plêiade do Espírito de Verdade, respondem:
- Dever-se-ão atribuir a uma lembrança retrospectiva o sentimento instintivo que o homem, mesmo quando selvagem, possui da existência de Deus e o pressentimento da vida futura?
“É uma lembrança que ele conserva do que sabia como Espírito antes de encarnar. Mas, o orgulho amiudadamente abafa esse sentimento.”
- a) – Serão devidas a essa mesma lembrança certas crenças relativas à Doutrina Espírita, que se observam em todos os povos?
“Esta doutrina é tão antiga quanto o mundo; tal o motivo por que em toda parte a encontramos, o que constitui prova de que é verdadeira. Conservando a intuição do seu estado de Espírito, o Espírito encarnado tem, instintivamente, consciência do mundo invisível, mas os preconceitos bastas vezes falseiam essa idéia e a ignorância lhe mistura a superstição.”
5 – A última questão nos relembra que os fenômenos psíquicos, presentes no Cristianismo e noutras doutrinas filosóficas e religiosas, revividos hoje pelo Espiritismo, com alentada ênfase, são naturais e sempre existiram, e que, em consequência, a crença em algo, que seria a Causa de Tudo – Deus – demora, instintivamente, no recôndito de nossa alma.
No que toca, pois, às ideias inatas, mais não significam do que lembranças fragmentárias de existências anteriores, vividas aqui, ou alhures. Daí os Mozares, os Gandhis e os Einsteins da vida.
Neste Título, é oportuna a lição de René Descartes, em “O Discurso do Método”, que, de acordo com o professor de Filosofia, João Cruz Costa, da Universidade de São Paulo (Tradutor da obra e autor dos rodapés), Descartes deve estar se referindo às ideias inatas.
Eis o texto:
“E, no entanto, ouso dizer que não somente encontrei modo de satisfazer-me em pouco tempo acerca de todas as principais dificuldades que costumam ser tratadas na Filosofia, mas que também observei certas leis que Deus de tal modo estabeleceu na natureza, e das quais imprimiu tais noções em nossas almas, que, depois de bem refletir sobre elas, não poderemos duvidar que as mesmas não sejam exatamente observadas em tudo o que existe ou se faz no mundo…”
6 – Para maior compreensão das ideias inatas, faz-se necessário, em seguida, referir-se, aqui, à Lei Universal da Encarnação e Reencarnação dos espíritos, ou palingenesia, lei que persiste incólume nos Evangelhos de Jesus (no Novo Testamento), e que se harmoniza com o “Bagahva Guita”, dos hinduístas e com o “Tao-Te-King”, dos chineses, além de outras fontes.
(Weimar Muniz de Oliveira, presidente do Lar de Jesus, ex-presidente da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas (ABRAME) e da Federação Espírita do Estado de Goiás (FEEGO), e membro do Conselho Superior da Federação Espírita Brasileira (FEB) – [email protected])