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INSOFISMÁVEIS

Redação DM

Publicado em 25 de julho de 2016 às 21:59 | Atualizado há 7 meses

O historiador hispânico-brasileiro Luis Palacin doutorou-se em História pela Universidade de Madri. Licenciou-se em Filosofia (1951), História (1954) e Teologia (1958) na Espanha. Naturalizado brasileiro, chegou a Goiânia em 1960. Foi professor na UFG e na, então, UCG. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, onde é Patrono da Cad. nº 13, que, em breve, será ocupada pelo Prof. Dr. Wolmir Therezio Amado, Reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás; PUC- GO.

Publicou 11 livros. O único de poemas, Do sempre e do instante, recebeu o prêmio Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, em 1977.

 

 

 

 

O pintor e poeta Tancredo de Araújo residiu por muitos anos no Rio de Janeiro, onde se formou em Artes Plásticas. Fez cursos na UFG e no Museu de Arte Moderna do RJ. Em Goiânia atuou no jornal O Popular. Foi um dos fundadores do Grupo de Escritores Novos – GEN. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, na Colômbia, Argentina, Venezuela, etc.

Em 2010, suas obras foram expostas, pela 1ª vez em Goiás, no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás e agora podem ser apreciadas no Museu de Arte de Goiânia.

 

 

 

 

Poemas do Pe. Luis Palacin Gomez (Valladolid/Espanha, 21/06/1927 – Goiânia/GO 28/04/1998), do Suplemento Cultural de O popular de 10/06/1979, organizado pelo escritor Miguel Jorge. Telas do artista plástico Tancredo Araújo (Anicuns/GO, 1942 – Rio de Janeiro/ RJ, 2008), fotografadas por Elizabeth Caldeira, em exposição no Museu de Arte de Goiânia.

 

IV DE MARÇO, 1964

Rumores e vozes em praças e esquinas,

uma lua grande de pressentimentos,

as sombras agitam campos e colinas,

portas e janelas a bater no vento.

 

Todos os que correm, correm cegamente

– moscas contra o vidro -, por que, para onde?

e todos carregam um assombro ingente

parado nos olhos, lerdo como um bonde.

 

Ambição, angústia, ódios e vingança,

frenesi de ruídos e desesperança,

febre que consome do que ganha ou perde;

 

o mundo do homem, cataclismo interno,

nesta primavera de sol e de verde,

neste ponto errante no universo eterno.

 

V

Deixo cair teu nome gota a gota

na minha alma resseca de ternura,

sobre as horas vividas de amargura,

sobre toda ilusão perdida ou rota.

 

Na esperança cortada que rebrota,

em todo instante de alegria pura,

e nossa incerta e tímida doçura

com que retorna a si a alma remota.

 

Seja teu nome para mim remanso,

onde encontre meu rosto verdadeiro,

para o coração nômade o descanso,

 

– tu, perene amor, último e primeiro –

na hora suprema de extinguir-se a luz,

seja teu nome para mim: Jesus.

VI

VI

Quero aprender, Senhor, e novamente

esse segredo de ilusão perdida,

jogar trás as tormentas desta vida

barquinhos de papel pela corrente.

 

Brincar com seriedade adolescente,

de fazer da areia a obra mais querida,

depois sorrir ao ver como em seguida

qualquer um a derruba indiferente.

 

Quero, Senhor, os olhos da criança,

limpos de fé que ignora desenganos,

criança que no pai doce descansa.

 

Enquanto brinca – pobre orgulho humano -,

olhando o mundo, louco pião girante,

ponto perdido em tua mão gigante.

VI -2

VII

Fala, Senhor, tua palavra mansa,

a que penetra na alma como chuva,

e a torna doce como o estio a uva,

que no interior se filtra e se remansa.

 

A palavra que as vagas da vingança

calma, suaviza o ânimo azedo,

as miragens sonâmbulas do medo

e floresce o remorso em esperança.

 

A palavra dos cumes do poente,

das sombras alongadas das colinas,

à tarde quando o sol lento declina,

 

das aves que retornam lentamente,

da última brisa que estremece a palma,

a palavra, Senhor, do mar em calma.

VII

VIII

Os que buscam, buscam segurança,

talvez sem suspeitá-lo, cegamente,

como chega o verão, o mar avança,

cresce a raiz, inevitavelmente.

 

Porque sentem o peso da arritmia

no balanço das horas e da sorte,

porque sabem que em pleno meio dia,

cresce neles a sombra já da morte.

 

Mas teu poder, Senhor, jamais impede

que a ilusão acabe em desengano,

e que o amor termine em solidão.

 

Não podes dar o pouco que te pede

nosso profundo desamparo humano,

porque tu és Deus, sempre Sim ou Não.

 

A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora e acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 231ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]


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