Interligados
Redação DM
Publicado em 2 de novembro de 2016 às 23:29 | Atualizado há 9 anosNão é a primeira vez que escrevo sobre esse tema, e talvez não seja a última. Muito se têm discutido a nova alteração dos valores das multas de trânsito, como por exemplo dirigir segurando ou manuseando o celular, que antes era de 85,13 reais, e atualmente é 293,47.
Nos últimos anos, o celular tornou-se uma praga contaminada. Ninguém vive sem ele (a não ser minha mãe que insiste em não usar nem celular, tampouco relógio). O celular é hoje uma extensão dos braços, um ladrão de tempo que rouba preciosos minutos da grande maioria da população.
Com ele, todos estão absolutamente imersos na globalização das notícias instantâneas. Acontece um acidente, a chuva do último domingo, um artista em situação íntima, o espancamento da garota, do advogado, o pum de um bebê que afugentou um cachorro, as piadinhas infames, os áudios de humor, entre outras inúmeras perturbações temporárias.
O celular é o grande responsável pelo vício dos jogos dessa nova geração, do transtorno da ansiedade, onde o jovem não suporta esperar sem ter uma tela para distrair ou ciscar seu dedo, causando futuramente a LER ou tendinite no punho.
Todos estão instantaneamente interligados! Assombrados pelas notícias mundiais, pelos memes dos momentos, instigados e viralizados nos grupos de whatsapp. Inclusive, pela insanidade coletiva, muitos insistem em difundir cenas caóticas, a violência urbana, mortes, explosões, e cenas pornográficas, não interessa se o destinatário quer ou não ver essas pérolas.
Há quem demonstre sua parcela de doidice, que é natural a todos os humanos, enviando pegadinhas, com fotos aparentemente inocentes. Ao abrir, você se depara com alguma parte pudica de alguém, ou algum tipo de susto. Porém, quem nunca recebeu um trote assim, provavelmente faz parte de uma parcela mínima da população de desconectados.
Precisamos todos de um detox virtual. Esquecer da musiquinha martelante do Vanderlan, da melodia impregnada da campanha do Íris, da fuzaca e do estardalhaço que fazem por aí as pessoas; o trânsito caótico, o azedume dos embates econômicos; os transtornos sociais, a má educação e péssima saúde da população.
Para se viver com qualidade também é preciso saborear o silêncio. Admirar uma natureza, ainda que envolta na selva de concreto. Mergulhar num olhar. Ver qual a necessidade real de uma pessoa do seu apreço. Buscar um diálogo que não seja sobre pessoas, fofocas, boatos, ou até mesmo os papos sobre coisas e a meteorologia. Quem sabe aquele assunto interno, algum sentimento, uma ideia (ainda que seja originária de uma filosofia barata), um sonho esquecido, uma meta e um plano de vida. Melhor ainda, algo para fruir o tempo presente.
Saber parar é a grande questão e dificuldade dos inúmeros afoitos da ansiedade moderna. Retirar a máscara do riso falso, reconhecer as belezas das simplicidades do mundo. Podem até te exigir prontidão, produtividade e imediatismo. Mas a alma requer cuidados de zelo e instantes lentos para sair do piloto automático do dia a dia.
Quem perde o tempo consigo, acaba ganhando. Buscar aquelas fórmulas prontas e batidas dos livros de autoajuda (pensamento positivo, autoestima, aceitação dos defeitos, o perdão e os valores etc) são válidas. Se o mundo te atropela: freie!
Se o mundo está podre e precisando de respeito, silencie! Não divulgue as negatividades, nem perca seu tempo abrindo as infindáveis manchetes sanguinárias durante seu período de desligamento, ou de pausa. Ouvir a voz do silêncio pode muitas vezes ser a melhor forma de aprender a lidar consigo. Confie na providência da pausa, quebre a rigidez do excesso de exigências. Quando ousamos assim, momentaneamente vivemos mais leves. Às vezes, para seguir em frente é preciso parar! Até a próxima página!
(Leonardo Teixeira, escritor, escreve às quintas-feiras neste espaço. Contato: [email protected])