Jesus, o pão da vida
Redação DM
Publicado em 17 de outubro de 2015 às 23:23 | Atualizado há 10 anosNo dia seguinte, a multidão que permanecera no outro lado do mar, viu que ali havia um único barco e que Jesus não tinha entrado nele com os seus discípulos, mas que estes haviam partido sozinhos. No entanto, outros barcos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças.
Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, entraram nesses barcos e foram a Cafarnaum, à procura de Jesus. E, encontrando-o do outro lado do mar, disseram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?”
Jesus lhes respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos saciastes.
Trabalhai, não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que dura para a vida eterna, alimento que o Filho do Homem vos dará, porque Deus, o Pai, o marcou com o seu selo”.
Perguntaram-lhe, então: “Que faremos para trabalhar nas obras de Deus?”
Respondeu-lhes Jesus: “A obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou”.
Replicaram eles: “Que sinais realizas, para que vejamos e creiamos em ti? Que obra fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu”.
Respondeu-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu, mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.
Disseram-lhe então: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”
Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, jamais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede. Mas eu vos disse: vós me vedes, mas não credes.
Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e aquele que vem a mim eu não o rejeitarei. Porque desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia.
A vontade de meu Pai, que me enviou, é que todo aquele que conhece o Filho e nele crê tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. (Evangelho de João, cap. 6, vv. 22 a 40).
O discurso do Pão da Vida proferido por Jesus, somente narrado no Evangelho de João, é de natureza simbólica e transcendente. O Mestre profere esse discurso algum tempo depois da primeira multiplicação dos pães e dos peixes.
Conforme ocorria habitualmente, uma multidão estava a espera de Jesus, mas o Mestre e seus apóstolos já haviam chegado a Cafarnaum. O divino Rabi demonstrou ao seus interlocutores que conhecia as suas intenções porquanto o buscavam devido a multiplicação dos pães e dos peixes e não porque eram portadores de alguma enfermidade ou porque queriam ouvir a sua mensagem de amor, de paz, de justiça e de fraternidade. Queriam que Jesus os alimentasse, conforme ocorreu com os hebreus no deserto no tempo de Moisés, mas Jesus explicou o verdadeiro significado do Pão do Céu ou do Pão de Deus (Salmos, 78:24).
Nesse episódio, o Mestre aproveita a oportunidade para explicar a respeito do trabalho destinado a adquirir o alimento espiritual, único, imperecível, eterno e que exige avançados níveis de esforço e de disciplina. Esse alimento do espírito é a sua evolução intelectual e moral, por meio da qual o indivíduo alcança todas as virtudes ou valores fundamentais para alcançar a perfeição.
Jesus também revela aos que o procuravam, que ele veio para dar o alimento do espírito e não para proporcionar o alimento do corpo. Desse modo, o Mestre deixa bem claro que não veio para oferecer alimentos para o corpo, mas para apresentar os recursos necessários para a multiplicação dos alimentos espirituais. No entanto, tanto o pão do corpo quanto o Pão da Vida devem ser adquiridos com trabalho, esforço e devotamento. Isso, porque o Mestre não veio para promover a acomodação dos que não querem trabalhar, desejando injustamente colher onde não semearam. Ainda Jesus ressaltou que o trabalho para o alimento do espírito deve ser prioridade porquanto “dura para a vida eterna”.
O Messias defende que assim como o corpo necessita de alimento, o espírito também carece de outros tipos de alimentos, por exemplos: vida, amor, fé, esperança, justiça, caridade, conhecimento, sabedoria, verdade, otimismo, felicidade, dentre outros. Essa “fome” ou necessidade do espírito provém da sua natureza evolutiva. Enquanto não se conhece e não se encontra na senda do progresso intelecto-moral, o ser espiritual sofre, clama e se debate nos dramas de algum estacionamento evolutivo.
Ainda, segundo as orientações do Rabi, em seu roteiro evolutivo, são necessários boa vontade, ânimo, disciplina e trabalho persistente no bem para alimentar o ser espiritual. Os esforços para atender a natureza intelecto-moral do espírito são bem maiores do que as fadigas empregadas para alimentar o corpo físico. No entanto, por mais que o Mestre explicasse a respeito do alimento espiritual, muitos de seus interlocutores, ainda vinculados ao materialismo, não conseguiam entender o significado do Pão da Vida, ou seja, do Alimento espiritual de Deus.
Foi nesse sentido que Jesus, durante o Sermão da Montanha, ensinou a sublime Oração do Pai Nosso, por meio da qual ele suplica ao Pai: “o Pão Nosso de cada dia, dá-nos hoje” (Mateus, 6:11). Ele nos ensina a pedir o Pão espiritual, ou seja, as devidas condições para desenvolver virtudes ou valores espirituais destinados a libertar o indivíduo da ignorância atroz e do egoísmo pertinaz.
Com a sua divina mensagem e os seus atos de amor, o meigo Rabi da Galileia nos oferece outro tipo de Alimento espiritual, que é o Pão do Conhecimento. Todavia, naquela ocasião, o Mestre verificou a incredulidade dos que o ouviam, mas sem poder ou querer entender a sua mensagem transcendente: “Vós me vedes, mas não credes”.
Jesus também explicou o seu compromisso com o Pai, sintetizando a sua missão grandiosa: conduzir à perfeição espiritual todos os seus irmãos confiados por Deus, não deixando que nenhum se perca ou se demore num interminável e intricado labirinto evolutivo, conforme revelou: “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e aquele que vem a mim eu não o rejeitarei”.
Ao prosseguir com a sua mensagem libertadora, o sábio Mestre demonstrou que era portador da sublime virtude da obediência diante da vontade de Deus e por isso também asseverou: “Porque desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Desse modo, o Messias humildemente revela que até mesmo os espíritos perfeitos tem as suas vontades, mas que as submetem à suprema Vontade do Pai.
Jesus ainda revela qual é a grande e soberana vontade de Deus, ou seja, o maior dos mistérios teológicos: “Que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia”. O Cristo fala em ressuscitar no último dia no sentido de resgatar para a perfeição espiritual todos os filhos de Deus que estão sob sua orientação e proteção. São muitos bilhões de espíritos que estão sob a tutela espiritual de Jesus. Missão oferecida por Deus somente aos espíritos puros, que atingiram avançadíssimos níveis de evolução espiritual, ainda inimagináveis para a compreensão humana. Portanto, é da Lei moral do Progresso, determinada por Deus, que nenhum dos seus filhos seja condenado a um suposto, doloroso e eterno sofrimento ou estacionamento espiritual.
Nesse contexto, verifica-se que conhecer a vontade de Jesus é também conhecer a vontade de Deus, a qual se consumará no último dia, ou seja, no ciclo final da imperfeição, e no primeiro dia, isto é, no primeiro ciclo da perfeição espiritual. Vontade que se aplica para todos nós. Não respeitar ou não querer acreditar nessa Vontade suprema é buscar refúgio na ignorância, tenda de sofrimento e de amarguras. Isso porque não adianta contrariar a vontade de Deus. Todo esforço para rejeitar o pão do espírito é vão porque não é possível contrariar permanentemente a essência com a qual fomos criados.
Jesus é o Pão ou o Alimento oferecido por Deus para sanarmos a nossa fome de amor e a nossa sede de justiça. Por isso, o divino Messias afirmou: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, jamais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede”, o que lembra as suas palavras junto ao poço de Jacó ao se dirigir a mulher samaritana: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (João, 4:13-14).
Que estejamos cada vez mais próximos ao Cristo Jesus porque ele desceu do céu, ou seja, veio das mais altas esferas espirituais, para dar vida ao mundo por meio dos seus exemplos de sabedoria e amor. Isso, porque tanto o Filho do Homem quanto os Nascidos de Mulher, os quais representamos no contexto evolutivo, estamos marcados com o selo de Deus que é o Seu amor, agindo por meio do Seu perfeito Processo de Evolução Espiritual. A obra de Deus está alicerçada na Fé ou na Confiança em Sua soberana, perfeita e augusta Vontade. Não rejeitemos, portanto, o Seu Pão, ao invés, repitamos as palavras daqueles que entendiam e confiavam no Cristo de Deus: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro, escritor, conferencista, professor universitário, advogado, pesquisador, doutor em Direito, membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras – E-mail: [email protected])