Opinião

Jesus: o ser humano

Diário da Manhã

Publicado em 23 de dezembro de 2015 às 23:36 | Atualizado há 9 anos

Muito falamos da divindade de Jesus Cristo. Mas ele veio ao mundo como homem, de carne e osso. Isso já seria suficiente para desconfiarmos da sua pretensão em ser divino.

Jesus, se quisesse ter se manifestado ao mundo de forma divina, teria vindo de maneira diferente. Ao contrário, o relato bíblico é outro.

A bíblia diz que Maria deu à luz o seu primeiro filho, o enrolou em panos e deitou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles no hotel.

Do texto abstraímos um aspecto inusitado. Havia uma imprevisibilidade no nascimento de Jesus. Só depois que Maria engravidou é que José foi avisado. E se desesperou, porque era pai de um filho que não tinha a certeza de ser o pai. A mulher que amava e com quem iria se casar estava grávida, e ele não sabia. Precisou ser convencido de forma sobrenatural (foi abordado por um anjo), pois já havia intentado deixá-la em seu coração.

Um salvador vindo de um casal inexperiente e improvável.

Dois jovenzinhos despreparados enfrentaram, no início de seu casamento, muitos problemas sérios. Em seguida, tiveram que empreender fuga para Belém, pois houve um infanticídio em Jerusalém, a mando de Herodes.

Ao chegarem em Belém, não havia lugar para Jesus nascer. Nada de maternidade, lembrancinhas ou roupas limpas.

Foi num estábulo, numa manjedoura que ele achou descanso.

Enquanto cada vez mais endeusamos Jesus Cristo, ele viveu de modo a desmistificar o fato de que era Deus.

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (João1:14).

A maior alegria de um pai é ver que o filho amadureceu e se parece com ele, tem os valores dele, e a vontade de Deus é gerar um homem a sua imagem e semelhança.

Quem fez essa criança dar certo foi Deus, porque ele é quem faz tudo dar certo em nossas vidas. É Ele quem cuida. É Ele quem guarda. Ele tem o controle, não nós.

A glória de Deus foi ensinar, através da vida de Jesus, a desenvolvermos uma consciência de desfrutar uma condição de ‘ser humano’ e não de um ‘ente humano’, discernindo o propósito do “ser” para nos tornarmos um “ser humano”.

Ele quer se relacionar com o humano.

O que me salva não é a fé em Jesus, mas a fé como a de Jesus.

Jesus é a nossa referência de ser humano. Precisamos ser o ser humano que Deus queria se tornar, e assim, nos transformar através do exemplo de sua vida, a partir do aprendizado do humano que o filho de Deus quis ser.

Mas o homem insiste em achar que pode ser deus. Somos deuses de nós mesmos, e é isso que intentamos ser a cada dia.

Por isso, a nossa salvação é nos tornarmos humanos, e não divinos.

Jesus se esvaziou do divino, e se tornou humano. Ao longo de sua jornada, Jesus vai emponderando-se, tornando-se mais vulnerável até ser conduzido à morte, e uma morte violenta, humilhante, nu, pendurado numa cruz. Naquele momento, estava completamente desamparado e angustiado.

Então, o que representou a vida de Jesus? Representou um Deus que queria morrer de amor. A vida de Jesus consistiu na fé de que Deus nos amou tanto a ponto de salvar a todos igualmente.

Para Jesus, do ponto de vista humano, deu tudo errado, mas permaneceram três coisas: a fé, a esperança e o amor.

Se Deus não se tornasse humano, ele não O seria mais.

Em Cristo Jesus, amamos até o fim, e morremos de amor.

 

(Silvana Marta de Paula Silva, advogada e escritora – Twitter:@silvanamarta15)


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