LBP: noventa anos bem vividos
Redação DM
Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 22:16 | Atualizado há 7 anos
Foi em 1953. Ou 1954.
Estávamos na redação de O Popular Eliezer Penna, Armando Acioli e eu. Um moço alto, forte, elegante, com duas ou três laudas de papel numa das mãos, chega ali e logo está a falar com o secretário do jornal, que era o Eliezer. Diz que deseja publicar no jornal uma seção sobre cinema e mostra ao secretário o texto respectivo. Sua pretendida seção tem o título É proibido reservar lugares. Aprovado, já naquela semana (O Popular era bi semanário) a matéria é publicada. Mas o trabalho do cinéfilo dura pouco, menos de um mês, pois o moço Lourival Batista Pereira, funcionário da Caixa Econômica Federal, fez opção por manter uma coluna social. Surge então Flash Sociedade, que veio a se tornar o espaço preferido dos leitores, a coluna mais lida da imprensa goiana, porque agradavelmente escrita e continente de interessante noticiário de todo o movimento da sociedade goiâniense – aniversários, noivados, casamentos, viagens, outros eventos sociais e inteligentes comentários.
O colunista notabilizou-se. Sóbrio, elegante no vestir, no falar e no escrever, construiu vasto círculo de amigos e admiradores. Tinha muitas admiradoras. Ele e a Miss Brasil eleita em 1949, a Miss Goiás Jussara marques, cujo reinado durou cinco anos, se enamoraram reciprocamente e curtiram o namoro por mais ou menos três anos. Não foi com ela que Lourival veio a se casar e sim com a bonita goiana Marisa Guimarães, consorcio de que nasceram quatro filhos – Nanci, Guilherme, Lourival Jr. e Ana Lucia, todos profissionalmente bem formados e socialmente bem situados. Há 27 anos aconteceu o segundo casamento. A esposa é Jodelvira Porto do Nascimento Batista Pereira. O casal tem a filha Zeiza Porto.
Jussara se casou em Belo Horizonte com o empresário Marcelino Champagnat; e faleceu no Rio de Janeiro, onde viveu seus últimos anos, no dia 24 de fevereiro de 2006.
Lourival adora viajar. “É viajando que se aprende”, eis o título da apresentação de seu livro Como é bom viajar, publicado em 1989. Diz o autor nessa apresentação:
“Não há melhor maneia de se estudar geografia do que viajando. Na escola, por mais que se estude, nunca, pelo menos no meu caso, se consegue reter tudo que o professor exige. Lembro-me muito bem, em época de exames, como a gente se esforçava para guardar aquilo que certamente cairia na prova. Era tanta coisa que o jeito, mesmo, era anotar nuns papeizinhos para, se houvesse oportunidade, utilizar na hora do “vamos ver”. (Estou me referindo a uma época em que todas as provas eram feitas no canetão. Não havia esse negócio de fazer prova como se joga na loteria esportiva. Ou o aluno dava recado no papel ou colava, no duro). A prova oral pesava, claro, mas com a escrita se completava.
Mas só me conscientizei disso por ocasião de um congresso nacional de jornalistas, realizado em Manaus. Não me lembro do que ficou registrado na Carta de Manaus, assinada por representantes de toda a imprensa brasileira mas me recordo perfeitamente da capital do Amazonas dos anos 60. Pobre, sofrida sem perspectivas e governada por Gilberto Mestrinho, ainda muito jovem e com a fama de esperto. Não me esqueço de que foi lá, tomando o autêntico guaraná, embalado garrafas de cerveja, fiquei sabendo que o gentílico de quem nasce em Manaus é manauara.
Pouco tempo depois, quando os radinhos de pilha, tornados realidade com o advento do transistor, começaram a invadir o Brasil por vias ilegais (nem sei se era pelo Paraguai), o governo Castelo Branco, o primeiro a marcar os vinte anos do ciclo militar, resolveu, para salvar o antigo império da borracha, tornar Manaus em zona franca, a primeira e única no país, até hoje.
O congresso foi como manda o figurino. Sessões plenárias de manhã, almoço num local diferente e comidas típicas, sessões plenárias, depois das três, horário livre para compras ou coisa que o valha, coquetel em palácio, sob o som de um conjunto regional, e jantar com o governador. Quem não está acostumado com esse comes-e-bebes em eventos que tais pode pensar que congresso não passa de uma farra inútil. Mas, por incrível que possa parecer, é nessas horas de lazer e descontraimento que congressistas das mais diferentes regiões e os da terra se relacionam, discutem a vida nacional e se tornam verdadeiramente amigos, com troca de endereços e informações.”
Além dos dias que passou no Inferno Verde, Lourival narra com pormenores curiosos sua passagem pela Alemanha, onde comprou filmes eróticos em um pornoshop, Stuttgard – em português Jardim das Éguas, também na Alemanha ocidental, as catacumbas de Roma; a via Venetto, coisas de Londres. E aqui no Brasil passeio no Araguaia, o novo nordeste e outras incursões e excursões. Delicioso o livro de Lourival.
O amigo LBP completa hoje, 5 de janeiro, redondos noventa anos bem vividos.
Os amigos irão à noite ao seu apartamento comemorar com sua família.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista, escreve neste jornal às sextas-feiras. E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)