Opinião

Ledo engano

Diário da Manhã

Publicado em 10 de março de 2017 às 02:05 | Atualizado há 8 anos

Às vezes me pego pensando no tamanho da influência que o dinheiro tem sobre o ser humano. Nós, filiados ao capitalismo após o triunfo dos EUA sobre a URSS, sabemos muito bem como torná-lo prioridade máxima em nossas vidas.

É natural, desde crianças somos ensinados a estudar e trabalhar, não com o intuito de crescimento pessoal e contribuição social, buscando o equilíbrio nesse convívio organizado de pessoas chamado sociedade, mas sim com a finalidade de enriquecimento para nos sentirmos realizados através da sensação de poder consumir tudo aquilo que possui preço.

Somos frutos desse liberalismo econômico, não que eu o conteste, até porque já restou mais do que comprovado que mesmo não sendo o mais justo é o mais viável, e ainda por cima se adequou muito bem ao egoísmo nato da raça humana.

Em um mundo de relações pessoais a cada dia mais vazias e superficiais, é de se assustar com o que a nossa espécie é capaz de fazer para obter dinheiro e como certos valores são colocados em segundo plano pelo tão cobiçado papel-moeda.

Vivendo em uma época onde a empatia parece ter entrado em extinção, os seres econômicos acreditam expurgar todas as suas falhas através de seu sucesso financeiro, o dinheiro é o redentor que vem justificar tudo aquilo que outrora se abriu mão, ledo engano.

Só para continuar sem o risco de parecer hipócrita, não demonizo o dinheiro nem diminuo sua importância, pelo contrário, reconheço que ele também traz satisfação de várias formas, e como bom filho da sociedade moderna sei admirar essas satisfações.

Porém, não podemos nos esquecer que existem coisas essenciais para a vida, para a felicidade, para a nossa realização pessoal que não podem ser adquiridas com cédulas ou moedas, coisas estas atinentes a nossos valores, sentimentos, e consequentemente as nossas relações pessoais, de nada vale o conquistar se não houver o dividir.

Por fim, a relação com o objeto monetário deixa de ser inteligível quando os papéis de criatura e criador se confundem, fazendo com que este se molde a aquele, o que, infelizmente, é a regra geral. A verdade é que o homem criou o dinheiro, e o dinheiro recriou o homem.

 

(José de Assis Neto, advogado – AVCA Advocacia e Consultoria Jurídica. [email protected])

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