Lembranças dos tempos de escola – Parte XXXIX
Diário da Manhã
Publicado em 5 de maio de 2016 às 01:17 | Atualizado há 9 anos
Foi assim que um dia fomos convidados pelo nosso colega Gil para um almoço em sua casa. Elegemos um domingo. Roney, Edu, Eleno, outros e eu fomos. Pena que Érick não pode ir, pois não conseguia equilibrar-se em duas rodas. Chegando lá primeiro fomos assistir a uma partida de futebol de um torneio organizado pelos esportistas daquele povoado, depois fomos à casa de Gil, onde fomos cordialmente recebidos pela sua família, e claro, por ele. Ali, antes do almoço, comemos mangas em estágio de amadurecimento, chupamos laranjas, jogamos cartas, dominós e conversamos bastante. Conhecemos a propriedade onde estava instalada a residência, suas limitações e uma verdadeira aula de agronomia apresentada por Eleno e Gil.
Chegada à hora do almoço, aquela família nos serviram um belíssimo banquete de lamber os beiços e, para variar, paguei um mico ao confundir cortado de batatas com picadinho de mandioca, foi uma algazarra só, fiquei com a vergonha à flor da pele, mas fingir que nada daquilo estivesse acontecendo comigo, afinal, ali eu me sentia em casa.
À tarde, sentamos nuns bancos colocados no terreiro, em frente à sede, embaixo dumas árvores frutíferas, ouvindo músicas e tomando refrigerante gelado. De repente, Edu começou a olhar meio torto para um frango que estava catando insetos e sobras de alimentos, próximo de nós. Sabíamos que quando Edu olhava daquela maneira, algo anormal estava por vi, ele ainda completou com um comentário, desejando ver aquele animal dentro de uma panela ou quem sabe já num prato, pronto para o consumo. Um vizinho da família de Gil que havia se juntado a nós escutou a fala de Edu e nos propôs um desafio, dizendo que se alguém conseguisse pegar o frango, de propriedade sua, poderíamos devorá-lo. Aquilo nos pareceu uma boa ideia, e, quase que aquele vizinho nem terminava de propor o desafio, tomou um grande susto quando Edu se levantou do lugar em que estava, pulou como uma flecha em cima do pobre animal que, num grito de clamor, saiu correndo e ensaiando alguns voos…
Edu não desistiu, se levantou, num estilo cata-cavaco e vorazmente saiu feito fera no encalço da presa… Vendo aquilo, ninguém ficou parado, até mesmo o dono da ave parecia está contra a coitadinha! Partimos atrás do frango e dali em diante éramos nós nos armando no encalço da presa e a presa fugindo do nosso acossamento, das nossas garras. Edu, Roney, Eleno e Gil, pareciam especialistas em matéria de perseguição a animais galináceos. Defendiam-se dos arbustos, pedras, colméias e, embora o frango tentasse, a qualquer custo, se esconder, eles não o perdia de vista. Fiquei perplexo ao ver a tática e rapidez desses, ao ultrapassar uma cerca de arame farpado, sem se ferirem.
Com isso, o frango nos tapeava, correndo, voando e tentando se esconder embaixo de árvores espinhosas, de impossível acessibilidade a nós humanos.
Recebemos uma forte ajuda de um cão que já havia se juntado a nós para a perseguição. O mamífero encarregava de entrar onde não nos eram permitido. Não tendo saída, o frango subiu num umbuzeiro, acuado pelo cão, profissional em caçar animais selvagens. Edu o agarrou como um goleiro agarra uma bola numa cobrança de pênalti, numa partida decisiva, e, com pouco mais de uma hora aquele animal que nos deixou ofegantes já estava sendo devorado por nós, suas carnes é claro, parque os ossos estavam sendo roídos pelo cão que tanto nos auxiliou. Quando restavam somente resquícios da luz do sol clareando a alma do dia voltamos para casa, com o gosto daquele animal exalando pela estrada, ao som de nossos arrotos. Foi uma beeelezu…ra!
(Gilson Vasco, escritor)