Levando dignidade ao próximo por meio do serviço humanitário
Redação
Publicado em 7 de agosto de 2015 às 22:25 | Atualizado há 10 anosTodos os anos, milhares de pequenos grous (garça japonesa) atravessam o Himalaia, sobrevoando a uma altitude de 8.000 metros em formação de V na migração sazonal. Eles são conhecidos como grous demoiselles, a menor espécie da família de aves grous. Durante o verão, eles residem nas estepes da Mongólia. Na medida em que o inverno se aproxima, formam grupos e começam a jornada em direção ao sul rumo à Índia. A 8 mil metros, a temperatura é de -30o Celsius e o índice de oxigênio equivale a somente um terço do nível terrestre. Estas condições extremas transformam a migração em uma jornada de vida ou morte, literalmente falando.
Esta rota exaustiva seria impossível para um pequeno número de aves. Voando em uma grande formação de V, cada ave consegue aproveitar o refluxo de ar criado pelas asas das outras aves à frente. Fazendo isto, reduzem o total de energia despendida. A ave que voa na frente é a que despende mais energia. Portanto, é necessário que haja uma constante rotação, para que novas aves tomem a dianteira. Os grous demoiselles dependem da cooperação e da harmonia de todos os outros membros do bando. Embora cada ave seja pequena, todas têm grande dignidade.
A determinação demonstrada, bem como outras características, como o trabalho em equipe e a estrutura familiar do grou, já encantaram diferentes culturas. No Japão, o grou é um símbolo de longevidade. Na tradicional arte japonesa do origami, o tsuru (origami que representa o grou) é a representação mais básica que as crianças aprendem a reproduzir. Há um costume de fazer tsurus e doar a um ente querido que esteja padecendo de uma doença ou lesão, como uma maneira de dizer: “Queremos lhe desejar uma rápida recuperação e vida longa.” Fazer o origami tsuru é um ato de meditação que demonstra desejos do fundo do coração dos parentes e amigos pela pronta recuperação do doente. Mas o tsuru também tornou-se conhecido como um símbolo da paz, não só no Japão, mas em todo o mundo.
Nós, Leões, temos fomentado a paz e a harmonia internacional por meio do serviço, levando esperança a todas as pessoas, e proporcionando a oportunidade de se viver com dignidade. Como médico, construí a minha carreira lutando pela dignidade da vida humana. Um médico talvez consiga salvar 10 mil vidas ao longo de sua carreira. Se trabalharmos em conjunto, a nossa associação pode salvar dezenas de milhões de vidas a cada ano, por meio dos nossos programas.
Paz, esperança, determinação, trabalho em equipe e união das pessoas por meio do serviço são os elementos centrais do meu lema presidencial: “Dignidade. Harmonia. Humanidade.”
Há muitas perguntas, científicas e de outros âmbitos, para as quais talvez nunca tenhamos respostas. Mas uma coisa é certa; a dignidade humana não deveria ser nunca um privilégio. Um dos princípios básicos da dignidade humana e do respeito próprio é a capacidade de prover para si e toda a família. Imagine ser um pai ou mãe, ver os filhos irem para a cama com fome, ou ter um filho diagnosticado com uma doença tratável, mas não ter meios para pagar o tratamento médico adequado. Milhões de pessoas acordam todas as manhãs se perguntando se conseguirão alimentar os seus filhos naquele dia ou prover a saúde deles. Eles enfrentam um futuro incerto, com pouca esperança de melhorar para si mesmos ou de dar aos seus filhos uma vida segura.
A infância deveria ser uma época feliz, cheia de lembranças agradáveis de férias com a família, comemorações dos feriados, aromas familiares deliciosos vindo da cozinha ou de histórias compartilhadas com os amigos. Deveria ser uma época de dedicação aos estudos e à preparação para o futuro, contando com uma rede de apoio. Mas, para muitas crianças, não há escola. Não há nenhuma rede de apoio. Há hoje cerca de 2,2 bilhões de crianças ao redor do mundo e quase 1 bilhão delas se encontra na pobreza. A pobreza tem efeitos devastadores nas crianças. Ela está ligada a moradias precárias, falta de moradia, alimentação inadequada e insegurança alimentar, baixo desempenho escolar (mesmo quando há educação disponível), falta de assistência médica, dentre outras coisas. E isto não é somente nos países em desenvolvimento.
As crianças são, com certeza, o nosso futuro e os líderes de amanhã, mas elas necessitam desesperadamente da nossa ajuda. Por isto, servir às crianças continuará sendo a área de principal enfoque neste ano. Milhares de crianças morrem a cada dia em decorrência de doenças tratáveis, da fome e da falta de água potável. Os pais muitas vezes assistem a isto impotentes, porque não dispõem dos recursos financeiros, estabelecimentos de confiança nas proximidades, ou ambos, para salvar os seus filhos. Quero ajudar a aliviar o sofrimento desnecessário das crianças. Não podemos salvar todas as crianças. Mas, basta fortalecermos ou ampliarmos os nossos programas existentes às crianças, para conseguirmos fazer a diferença. É por isso que estou introduzindo neste ano a Iniciativa de Dignidade das Crianças. Durante esta iniciativa, quero incentivar os Leões a expandirem os serviços para as crianças, apoiando e alegrando a estadia delas nos hospitais, suprindo suas necessidades em campos de refugiados, fornecendo alimentos a crianças famintas e expandindo o Programa de Atividade de Leitura.
Servir ao próximo. Estas não são apenas palavras para os leões. A nossa organização foi fundada exatamente com este princípio. A nossa tradição de serviço continua. E, de fato, cresceu para atender às necessidades das comunidades e do mundo em constante mudança. Mas nós não apenas servimos. Não apenas fornecemos alimento e abrigo, ou atendemos a necessidades imediatas. Nós oferecemos esperança. Oferecemos a promessa de um futuro melhor. E, sim, restauramos a dignidade.
A questão é “podemos fazer mais”? Nós devemos fazer mais. O nosso aniversário de 100 anos está se aproximando. O desafio de serviços do centenário é um compromisso ambicioso. Para alcançar a nossa meta de servir 100 milhões de pessoas nas áreas da juventude, visão, fome e meio ambiente, até o dia 30 de junho de 2018, será necessário triplicar nossa capacidade de prestar serviços nestas áreas. Eu sei que conseguiremos. Os leões já demonstraram repetidamente a vontade e capacidade para superar desafios, quando isto significa que outros menos afortunados serão beneficiados. Pedimos que os Leões plantassem 1 milhão de árvores e eles excederam este número em dez vezes. Há inúmeros exemplos.
O serviço ao próximo está mudando o mundo. Quando servimos ao próximo, estamos plantando as sementes da harmonia, compreensão e paz. Os nossos programas de serviços, restaurando a visão, protegendo as crianças contra o sarampo, enchendo barrigas vazias, plantando árvores, estão fortalecendo a humanidade e formando laços de compreensão mútua.
Compreensão pelo serviço – Os antropólogos identificaram centenas, senão milhares, de culturas. Mas não é preciso ser antropólogo para observar isto. No nosso próprio mundo de Lions, sabemos que temos muitas diferenças externas. Mas, como neurocirurgião, posso dizer que, sem sombra de dúvidas, apesar das características externas, como a cor da pele, cor do cabelo, traços diferentes, o modo como falamos, ou outros fatores que identificam a nossa cultura, internamente somos praticamente iguais. Um coração é um coração. Todos funcionamos da mesma maneira. Isso não deveria ser apenas uma abordagem científica; deveria ser a abordagem humana à dignidade, à harmonia e à humanidade.
Neste mundo em constante transformação, em que as culturas e as pessoas circulam e interagem diariamente, aqueles que sabem como se comunicar efetivamente entre culturas, em contextos tanto pessoais como profissionais, terão uma vantagem enorme sobre aqueles que não o sabem. A sensibilidade cultural requer empatia, curiosidade e respeito pelas opiniões e crenças das outras pessoas.
A cultura é muito significativa na vida das pessoas. Ela influencia as suas opiniões, valores, humor, esperanças e aspirações. As pessoas aprendem a funcionar e agir dentro da sua própria cultura desde o dia em que nascem. Às vezes, as pessoas erroneamente tiram conclusões, com base na sua própria perspectiva, de que todas as culturas são iguais, que, se entendem a sua própria cultura, podem facilmente agir dentro de outras. Não é bem assim.
É importante entender e apreciar culturas diferentes da nossa. Não há uma maneira melhor de cultivar uma maior compreensão e apreciação do que por meio de projetos de serviços conjuntos em âmbito de distrito e distrito múltiplo. Gostaria de incentivar os governadores de distrito e presidentes de conselho a se aproximarem uns dos outros em nível internacional. Já vi este trabalho de cooperação internacional em primeira mão nos projetos entre Leões do Japão e Leões das Filipinas. Os projetos conjuntos de serviços internacionais oferecem uma perspectiva diferente à rotina e apreciação por outras culturas. Unir as pessoas para atender às necessidades do próximo cria a verdadeira harmonia dentro da comunidade internacional. Este tipo de atividade está no cerne do Terceiro Propósito da associação: “Criar e fomentar um espírito de compreensão entre os povos da terra.”
Os clubes podem também se envolver na cooperação internacional. Os clubes que participam do nosso programa de irmanação adquirem uma compreensão sem igual de outra cultura. A interação com associados de diferentes culturas e pontos de vista pode servir para ampliar a nossa visão e oferece inspiração em relação às atividades empreendidas nas nossas próprias comunidades.
Associados – Os nossos associados e os Lions Clubes são o coração da nossa organização. Os leões servem com sinceridade, servem com paixão e servem incondicionalmente. Temos desfrutado de um longo período de aumento em associados. Tivemos um crescimento do quadro de sócios em âmbito mundial por sete anos consecutivos. Há uma série de razões para o nosso sucesso; temos uma equipe global de aumento de associados dinâmica, estratégias eficazes de marketing, além de programas de aumento de associados de fácil implementação, líderes dedicados, desde o nível de clubes, e um alcance sem precedentes a mulheres e familiares, citando apenas algumas. Juntos formamos um quadro de aproximadamente 1,4 milhão de associados. Quero manter este crescimento. Mais associados significa mais serviços.
A energia da nossa associação irradia de cada clube. Assim, naturalmente, os presidentes de clubes estão no cerne do nosso sucesso. Eles têm a força para obter sucesso. Têm a força para afetar a mudança. Têm a força para transformar a maneira pela qual conduzimos os nossos trabalhos. Por isto, estou solicitando aos presidentes de clube que transformem a atmosfera do clube. Transformem o clube em um lugar onde os associados se sintam confiantes, em um clube que trabalhe em sintonia com a comunidade que serve, conquistando assim o respeito de todos.
Se os clubes estão no cerne do nosso serviço comunitário, LCIF está no cerne do nosso serviço global. Os subsídios de LCIF geram a boa vontade, eliminam o sofrimento humano e restauram a esperança e a dignidade para pessoas de todo o mundo. Os programas e parcerias de LCIF nos permitem tratar a cegueira evitável; fornecer assistência médica gratuita e treinamento profissional a médicos e enfermeiros; ensinar habilidades para a vida a crianças em idade escolar; e muito mais. Neste ano, peço aos Leões que aproveitem todas as oportunidades de apoiar LCIF com as suas doações generosas e com o Título de Companheiro de Melvin Jones.
Na medida em que nos aproximamos do nosso centenário, seria bom lembrar e meditar sobre as palavras do nosso fundador, Melvin Jones: “Você não conseguirá ir muito longe se não começar a fazer algo pelo próximo.”
Temos demonstrado, ao longo da nossa história, a capacidade de unir as pessoas por uma mesma causa. Temos demonstrado repetidamente que as linhas demarcando as fronteiras nacionais não passam de traços em um mapa. Apesar dos conflitos e controvérsias em todo o mundo, trabalhamos ultrapassando as diferenças: uma coalizão de base pela paz através do serviço.
Estou imensamente orgulhoso e extremamente honrado em ser o presidente do líder global em serviços humanitários: Lions Clubes Internacional. Desejo aos leões 1.000 tsurus. Mas, acima de tudo, espero que o serviço concedido aos outros lhes tragam um enorme amor e realização e encham seus corações de alegria e paz.
(Dr. Jitsuhiro Yamada, de Minokamo, Japão. Médico Neurocirurgião e presidente da Associação Internacional de Lions Clubes, 2015/2016)