Londres – Caminhando por suas ruas e avenidas
Redação DM
Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 21:48 | Atualizado há 7 anos
O escritor, dicionarista, poeta, polemista e, sobretudo, “frasista”, Samuel Johnson (1709-1784), mais conhecido no meio cultural da língua inglesa como “Doctor Johnson”, cunhou uma frase que até hoje é repetida: “Quando um homem está cansado de Londres, ele está cansado da própria vida”.
Tirando o exagero da citação, realmente não há como deixar de encontrar, todas as vezes que voltamos a Londres, alguma coisa que deixamos passar despercebido em outros encontros.
Peço licença ao Mister Gladstone (1809-1898), Primeiro Ministro da Inglaterra por quatro vezes, para discordar do alerta que dava aos visitantes: “A melhor maneira de conhecer Londres é de cima de um ônibus, de cima de um ônibus, meus senhores!”; acho que a melhor maneira é percorrê-la caminhando, sem pressa e procurando detalhes da sua arquitetura, seus jardins, a movimentação de gente e, principalmente, de bem com a vida.
Sempre que caminho pelas ruas de Londres procuro ficar atento com as fachadas dos edifícios à procura de “marcações literárias”, que são placas de cor azul, colocadas pelo governo municipal a fim de identificar locais históricos e possíveis ex-residências de figuras notáveis da vida literária, histórica e política de Londres.
Em uma das caminhadas que fizemos (Hélio Junior e eu, há cerca de 8 anos) à procura da rua onde Couto de Magalhães morou e circulou nos anos de 1876 a 1880 (procurávamos naquela oportunidade, subsídios para uma nova edição do livro que publiquei – (Couto de Magalhães, O último desbravador do Império – Ed. Kelps, 2005) quando nos deparamos com a casa onde Charles Dickens viveu e escreveu o famoso romance “Oliver Twist”; ficamos, nós ambos, até um pouco emocionados com o inusitado do encontro e discutimos, bem em frente, alguns detalhes daquele romance e imaginamos o grande escritor observando-nos através das vidraças da sua casa.
Um dos “encontros” mais emocionantes daquela minha viagem foi a ida à livraria “Hatchard”; caminhávamos sem compromisso de roteiro e, principalmente, sem preocupação com o tempo; estávamos nas imediações de Westminster, atravessamos a ponte, ladeamos a casa do Parlamento, sabendo que o big Ben pairava, majestoso, acima das nossas cabeças; rodeamos a Trafalguar Square e, ao chegarmos ao Picadilly street, demos de cara com aquela que é considerada a mais antiga e legendária livraria da Inglaterra.
No livro – Couto de Magalhães, o último desbravador do Império – “levei” Couto àquela livraria, “obrigando-o” inclusive a comprar um livro, sentar-se em um banco situado nos fundos da loja e que era reservada para clientes especiais, onde “leu” um folheto que informava que a Realeza, além de Gladstone, Disraeli e Oscar Wilde frequentavam aquela livraria.
Quase nada mudara com aquela famosa livraria desde 1797, ano da sua fundação; continua no mesmo local, continua existindo a mesma sala reservada nos fundos e, provavelmente, a mesma freguesia diferenciada; conversamos com o solícito vendedor que nos atendia, falamos da razão da nossa presença ali, folheamos alguns livros e tangido pela emoção sentei-me a uma poltrona (teria sido a mesma que Couto de Magalhães sentou-se) compramos dois deles e continuamos nossa jornada.
A vida imita a ficção!
(Hélio Moreira, da Academia Goiana de Letras, Academia Goiana de Medicina, Instituto Histórico e Geográfico de Goiás)