LONJURAS DO TEMPO
Redação DM
Publicado em 12 de dezembro de 2015 às 22:32 | Atualizado há 6 meses…”Como todo poeta ávido em sua criação, Alberto Santin sabe como e por que caminhar nesta estrada chamada poesia; e, por saber-se assim dá-se pleno, sem receio de caminhar, seguir na direção dos abismos poéticos, aqueles em que somente os grandes poetas são capazes de mergulhar, descer para sempre, num vôo rasante, gigantesco, como sendo, assim, um sopro de albatroz e sua sombra mergulhando rumo aos escuros de uma luz que, imensa, brota das profundas lamas dos abismos, entre papoulas, tulipas e girassóis esquivos, ardentes em sua enorme razão de ser, existir.”
DELERMANDO VIEIRA(Escritor e poeta da UBE-GO e da AGL)
Nelze Bernardes pinta e desenha desde a adolescência. Aos 13 anos foi aprovada em seleção para cursar artes no Instituto de Artes e Música. Devido ao trabalho e aos estudos não pôde realizar o intento. Em 1979 ingressa no curso de Artes Plásticas na Universidade Federal de Goiás. Em 1982 gradua-se. Em seguida cursa Artes Visuais, na UFG, concluindo em 1986. Há algum tempo foi selecionada para expor esculturas na Casa Grande Galeria de Artes. Participou de exposições em Goiânia, Brasília e São Paulo. Atuante em seu trabalho afirma que ama o que faz e que a natureza é sua fonte de inspiração.
Poemas do escritor Alberto Santin (Canápolis/ MG). Telas da artista plástica Nelze Bernardes (Goiânia/GO). Ambos residentes nesta capital.
O NOVO SOL
Cercas
em farpas de arame que o amor me fez.
Afagando-me rosas em orvalho e pétalas
sobre os espinhos que o amor me fez.
O mel dos lábios
entre os ferrões e o licor dos favos,
onde o amor se fez
e me desfez
em gotas do céu
no fel que o amor me fez.
Embargo de voz,
trôpegos pés,
venda nos olhos…
Em amor me vês,
apesar de tudo que o amor me fez!
BRADO DAS RUAS
Agredi os ouvidos da madrugada,
com os gritos dos meus passos sós,
meus gritos também gritavam sós,
não havia outro som na noite
e eu só queria recitar baixinho
o desassossego do meu coração.
Ele que me vinha recitando escuros,
ranhuras, rasuras e rachaduras,
vindo das profundas incertezas,
daquilo que ao peito se rasga,
do que ao leito já não tem paz,
do que se ouve das lonjuras,
como o brado mais vivo das ruas.
DUREZA
Esse falar austero, rochoso,
que habita seu peito agora,
não entende
porque as flores soluçam,
nem porque minha alma chora.
COISAS QUE MEXEM COM TUDO EM NÓS
Coisas que mexem com
tudo em nós,
reviram cabeças, corações,
mundos, gavetas…
Escondem-se depois
nalgum lugar, tão sós,
nem nós sabemos onde,
apenas sabemos que estão
em nós.
Às vezes caladas, dormentes,
mas sempre prontas ao manifesto,
velozes nos passos, nas garras,
nas amarras e nos dentes,
por um simples gesto
que em nós se veja,
uísque, vodka, cachaça,
tapas na cara, tara, tesão,
cuspe na terra, merda, rosto no chão,
pão, bolo, rolo, tolice, tola ilusão,
cigarro, sarro, porre, mel, céu inferno
e fel indecente beijo, escancarado desejo,
inocente gole de cerveja
esperando a solidão.
Carnudas, carnívoras,
com lábios grossos de poesia,
amantes coisas, vivas, virgens,
víboras, grandes bocas entre as grades,
grandes altares, devotas luas, sacrifícios,
martírios, sangue, perdão,
das algemas onde nos prendam,
dos punhais cheios de ais onde nos rasguem,
dos temporais onde se dão,
possessas nalguma forma de amar, condenação.
E, então, o rio, já não se arraste,
com o peso do barro do mundo,
mas, atrevido quanto o mar seja,
desesperado em nosso corpo profundo,
afogado em nossa loucura,
na mais louca libertação,
ou sob o querer mais vagabundo,
chamadas de perdição!
(Elizabeth esse poema eu fiz quando,
num dos seus artigos no DM,
publicou texto sobre Neruda.
Gostei muito do que li,
e isso foi inspiração para escrevê-lo.)
NA VEIA
O desprezo era
meu melhor atalho no caminho.
Eu vinha ébrio, não de vinho,
com o céu do meu sol tropeçando,
com o som dos meus passos afiando pedras,
com o silêncio dos meus sonhos…
Ao acaso de me perder ou de me encontrar,
encontrei-te, numa esquina de mim,
melhor forma do verbo amar:
eu quis o deliquescer do fogo,
da tua sede que me bebesse,
do teu corpo que me engolisse,
da tua carne que me esfolasse…
Eu quis me arrastar.
Eu quis o tronco, o ferro quente da marca,
teu grito perambulante
pelo quarto, teu caminhar
cego de gozo, minha cegueira em te gozar,
o zonzo voltar à vida…
Eu quis te vasculhar.
Paciente impaciência do meu voo,
quando do tatear, com teu amor na verve da veia,
eu quis todos os veios, e o melhor vinho
ao teu umbigo, o recital frenético da poesia,
com toda a tua poesia: essa que ferve,
que me mistura, dentro, devasso à coisa pura,
da minha noite com teu dia, e perde as horas
entre as nuvens, as coxas úmidas
e o refestelar das estrelas.
Eu quis meu bem teu sol
embrulhado ao meu lençol
teu sal, teu céu, teu mel,
o extirpar ardente do absinto e do fel,
teu fogo, minhas veias
tuas tetas, minhas ceias
tua graça, tua taça
teu orvalho teu champanhe
quando todo em teu céu me banhe:
do teu olhar de mil raios,
de todos os raios do teu cio, do teu riso
de mil cores, de todas as fontes
onde me beba teu rio.
O meu amor em tuas veias,
em tuas unhas que me arranhem,
por tua aranha em minhas teias,
por todas as cercas de arame,
na veia do vício de te viver.
CONVITE
A Prefeitura de Goiânia, a Secretaria Municipal de Cultura e o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de Goiânia convidam V.Sª e família para a cerimônia de posse da nova presidente do Conselho, escritora e acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, e da vice-presidente Profª Márcia Ferreira.À ocasião, será lançado o livro “Patrimônio e goianidade”, de autoria da presidente empossada.Na oportunidade será servido um café da manhã aos presentes.
Data: 16 de dezembro de 2015
Horário: 09h
Local: Secretaria Municipal de Cultura – Secult Goiânia
End.: Rua 84, nº 535, Setor Sul-CEP 74.080-400
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora, acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 198ª edição (desde 8/1/2012). [email protected]