Opinião

Lula candidato: chance reduzida a 1%

Diário da Manhã

Publicado em 30 de janeiro de 2018 às 22:01 | Atualizado há 7 anos

A chan­ce de Lu­la con­cor­rer em 2018 à pre­si­dên­cia da Re­pú­bli­ca se re­du­ziu a 1%. De­pois da de­ci­são de 2º grau (co­mo é o ca­so do TRF4), even­tua­is re­cur­sos pa­ra o STJ e pa­ra o STF não po­dem re­dis­cu­tir nem os fa­tos nem as pro­vas. Es­ses te­mas já es­tão en­cer­ra­dos. Só se po­de dis­cu­tir em Bra­sí­lia o acer­to ou o equí­vo­co da apli­ca­ção da lei e da Cons­ti­tu­i­ção.

Co­mo lu­ta­mos con­tra o sis­te­ma cor­rup­to que nos do­mi­na e go­ver­na, por­que nis­so re­si­de a ra­iz do nos­so atra­so, é evi­den­te que que­re­mos a con­de­na­ção e ine­le­gi­bi­li­da­de de to­dos os cor­rup­tos (“er­ga om­nes”), in­de­pen­den­te­men­te do par­ti­do, se­ja de es­quer­da, cen­tro ou de di­rei­ta. A cor­rup­ção do go­ver­no pe­tis­ta não é a úni­ca cor­rup­ção vi­gen­te no Pa­ís (nem a úl­ti­ma).

La­men­ta­mos que o sis­te­ma ju­di­cial ain­da se­ja co­ni­ven­te com al­guns cor­rup­tos, por exem­plo, com os que de­têm fo­ro pri­vi­le­gi­a­do nos mo­ro­sos tri­bu­nais su­pe­ri­o­res.

A Jus­ti­ça de 1º e 2º graus vem si­na­li­zan­do que é pos­sí­vel fa­zer o im­pé­rio da lei con­tra to­dos. O STF des­diz di­a­ria­men­te es­sa afir­ma­ção. O tra­ta­men­to pri­vi­le­gi­a­do que dá pa­ra seus réus (em qua­tro anos, não jul­gou ne­nhum ca­so da La­va Ja­to) ani­qui­la o prin­cí­pio re­pu­bli­ca­no da igual­da­de de to­dos pe­ran­te a lei. Al­guns mor­tais são mui­to mais “igua­is” que ou­tros, co­mo nos tem­pos da aris­to­cra­cia.

Com is­so o STF faz par­te, vo­lun­tá­ria ou in­vo­lun­ta­ria­men­te, do sis­te­mão cor­rup­to vi­gen­te na clep­to­cra­cia bra­si­lei­ra.

Con­tra a de­ci­são do TRF4, o ex-pre­si­den­te Lu­la po­de in­gres­sar ape­nas com em­bar­gos de de­cla­ra­ção (pa­ra acla­rar um ou ou­tro pon­to con­tro­ver­ti­do da sen­ten­ça). Es­ses em­bar­gos são jul­ga­dos ra­pi­da­men­te (em até ses­sen­ta di­as, em mé­dia).

Ter­mi­na­do o jul­ga­men­to no tri­bu­nal de Por­to Ale­gre (por al­tu­ra de abril), Lu­la se tor­na fi­cha su­ja, leia-se, ine­le­gí­vel, por oi­to anos. É es­sa con­cre­ta si­tu­a­ção que re­duz a 1% sua chan­ce de con­cor­rer nas elei­ções de 2018. Seu úl­ti­mo bo­te sal­va-vi­das se­rá uma even­tual li­mi­nar dos tri­bu­nais de Bra­sí­lia.

Po­de uma li­mi­nar do STJ sus­pen­der os efei­tos da con­de­na­ção de Por­to Ale­gre, se “exis­tir plau­si­bi­li­da­de da pre­ten­são re­cur­sal e des­de que a pro­vi­dên­cia te­nha si­do ex­pres­sa­men­te re­que­ri­da”. Is­so abri­ria a es­tra­da pa­ra o ex-pre­si­den­te dis­pu­tar as elei­ções.

De qual­quer mo­do, ele não es­tá im­pe­di­do de re­gis­trar sua can­di­da­tu­ra até o dia 15 de agos­to. Se is­so ocor­rer, ha­ve­rá ime­di­a­ta im­pug­na­ção. O TSE re­co­nhe­ce­rá sua ine­le­gi­bi­li­da­de em se­gui­da (por se tra­tar de fi­cha su­ja). O jul­ga­men­to é rá­pi­do por­que no dia 17 de se­tem­bro se con­su­ma a pro­gra­ma­ção das ur­nas bem co­mo dos no­mes que vão con­cor­rer.

Que res­ta de­pois dis­so? Uma even­tual li­mi­nar de al­gum mi­nis­tro do STF, que sus­pen­da os efei­tos da de­ci­são do TSE. Nes­se ca­so o no­me do ex-pre­si­den­te apa­re­ce­rá nas ur­nas, por for­ça de uma li­mi­nar da Jus­ti­ça (sub ju­di­ce). Se de­pois for re­co­nhe­ci­do co­mo ine­le­gí­vel tam­bém pe­lo STF, seus vo­tos são anu­la­dos. É co­mo se Lu­la não ti­ves­se con­cor­ri­do.

E se Lu­la sa­ir vi­to­ri­o­so das ur­nas e seus vo­tos fo­rem anu­la­dos? Ha­ve­rá no­va elei­ção, sem a pre­sen­ça de­le. Não se dá pos­se pa­ra o se­gun­do co­lo­ca­do, nes­se ca­so. Seu vi­ce não as­su­me, por­que nem se­quer ha­ve­ria di­plo­ma­ção de Lu­la (mui­to me­nos pos­se).

Lu­la se­rá pre­so pron­ta­men­te? Não. De­pois do jul­ga­men­to fi­nal em Por­to Ale­gre é fá­cil con­se­guir uma li­mi­nar no STF pa­ra fi­car em li­ber­da­de. Is­so ocor­re to­dos os di­as nes­se tri­bu­nal.

Mais: o STF es­tá na imi­nên­cia de re­dis­cu­tir o te­ma da exe­cu­ção da pe­na de­pois do 2º grau. E o mi­nis­tro Gil­mar Men­des já de­cla­rou que vai mu­dar sua po­si­ção, pro­i­bin­do es­sa pos­si­bi­li­da­de. Mi­lha­res de réus dei­xa­rão de ir pa­ra a ca­deia de­pois da de­ci­são do se­gun­do grau de ju­ris­di­ção.

A ine­le­gi­bi­li­da­de e a pri­são do Lu­la (que um dia acon­te­ce­rá, por­que já con­de­na­do pe­la Jus­ti­ça) na­tu­ral­men­te es­tá ge­ran­do apre­en­são em to­dos os de­mais ca­ci­ques cor­rup­tos de ou­tros par­ti­dos (“eu sou vo­cê ama­nhã”). Há mui­to mais ine­le­gi­bi­li­da­des e ca­dei­as pa­ra se­rem de­cre­ta­das con­tra in­con­tá­veis la­rá­pios da Re­pú­bli­ca, de to­dos os ve­lhos par­ti­dos (de cen­tro, de es­quer­da ou de di­rei­ta).

 

(Lu­iz Flá­vio Go­mes, ju­ris­ta, c­ri­a­dor do mo­vi­men­to Que­ro Um Bra­sil Éti­co. Es­tou no F/lu­iz­fla­vi­o­go­me­so­fi­ci­al)

 


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