Opinião

Lula dos paradoxos

Redação DM

Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 22:28 | Atualizado há 9 anos

Em um mau exemplo que podia ser evitado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou as rédeas do poder, mas continuou exercendo condições de mando e comando nos bastidores palacianos. Sua presença foi um massacre para a pupila Dilma Rousseff, que não só teve de se contentar com uma posição coadjuvante como sobreviver a um verdadeiro governo paralelo. A presidente, famosa por seu destemperado mau humor, desenvolveu no mínimo uma gastrite, tendo que aceitar, sem chiadeira, que Lula se reunisse com ministros e pudesse dar ordens aos graúdos de primeiro escalão sempre que lhe desse na telha.

Mesmo sabendo que a prática era visivelmente desconectada da teoria, Lula jogou para a plateia afirmando que seu desejo era o de não se meter na administração federal. Ao menor sinal de crise, cheirou até as panelas da granja do torto dando ordens do copeiro ao comandante da guarda de plantão.

Lula é assim! Um homem de paradoxos. Acostumado a falar pelos cotovelos, alardeando não ter papas na língua, entrou em parafuso quando intimado a depor para explicar a nebulosa situação no triplex do Guarujá. Para evitar perguntas embaraçosas, tópicos que a galera chama de batom na cueca, Lula se valeu de um artifício jurídico protelando o que me parece inevitável.

Se o assunto é simples, e se mantém à baila apenas por insistência da mídia golpista e de vampiros opositores, seria fácil para o orador fecundo usar sua reconhecida lábia e explicar os detalhes ao povão. Fugindo dos questionamentos, e dando um jeitinho jurídico para evitar o confronto de questões intrigantes, Lula apenas reforça a percepção de que foi ele a soltar gases no elevador.

A contradição da última estrela do PT é de implodir até o generoso saco de Papai Noel. Acostumado a jatinhos particulares, vinhos de safra rara, hotéis cinco estrelas e mimos que agradam monarcas, Lula ainda se apresenta como legítimo defensor dos operários, contra a burguesia ociosa e esbanjadora. Até parece um mea culpa. Mas não é! Ele menospreza a inteligência do povão.

Seguindo a falta de senso do chefe, ou sugados por sua arrogância, interessados em perpetuar seu poder agem como se Lula fosse inimputável. Esquecem que até índios que receberam um verniz de cultura não estão isentos de serem julgados e condenados.

A esses é bom lembrar que, mesmo sendo rico, poderoso, “bom de cama”, campeão de beber cachaça e mundialmente famoso, a Lula não se aplica o artigo 26 do Código Penal, que reza o seguinte:  “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.

Está certo que Lula já fez discursos estapafúrdios, arrotou teses esdrúxulas e falou bobagens dignas de gente aloprada. Mas é um gênio da política e está longe de ser um retardado. Se a lambança fosse de fácil explicação, não precisava de uma babel de advogados, comitiva de deputados ou de colocar os capangas da CUT e MST para erguer uma baderna salvadora.

Se as ações tivessem o véu da transparência e a ética como alicerce, seria uma oportunidade única para varrer boataria, desmascarar os críticos e desmoralizar veículos que divulgaram informações erradas.

Mas como a algazarra precisa de contorcionismos, cautela nas palavras, chicanas jurídicas e muito cuidado para não ficar pior do que está, urgem ações capciosas, teses golpistas, acusações que desviam o foco e uma legião de apoiadores dispostos a não enxergar que o rei está nu.

Tudo vale como estratégia para evitar uma tarefa impossível: provar que não existe nada errado. Nesta cruzada foi válida até conspurcar a função do Conselho Nacional do Ministério Público, que exclui de seu âmbito de atuação a interferência nas funções de execução do MP. Mas até isso entra para o rol do DNA do lulopetismo, que a cada dia, apesar das constantes negações, toma ares de uma seita.

Rosenwal Ferreira, jornalista


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