MAIS QUE O CÉU, QUE A TERRA, QUE O MAR
Redação DM
Publicado em 14 de maio de 2017 às 02:17 | Atualizado há 8 anos
MÃE
Getúlio Targino Lima
(Com carinho especial, para minha mãe Benedita)
Não se define mãe. Mãe se respira,
Pelos poros do corpo, da existência.
Imponderavelmente, a mãe inspira,
E, o dom do amor, traduz, por excelência.
Não há cor ou beleza que refira
A grandeza da mãe, mesmo em falência,
Pois, por mais que se morra, inda suspira
Em nós, de nossa mãe, a quintessência.
Mãe é o mar e a terra; a morte e a vida;
É o carinho do ungüento na ferida;
É o amor sem limite ou evasiva.
É por isto que digo: mãe não morre
E, mesmo sendo a vida a que mais corre,
Eternamente, toda mãe é viva.
RENÚNCIA MATERNA
Sônia Elizabeth
Minha mãe guardava acordes
para me fazer sorrir.
Deixou vaidades de lado
para sustentar as minhas.
Olhou a vida em viés
pra que eu encarasse de frente.
Um dia soube que a filha
era amiga da poesia.
Mais uma vez minha mãe
abandonou os seus sonhos,
e os planos que fazia.
Pegou a grana que tinha
para imprimir meus poemas.
De vez em quando me pisca,
lá do céu, cheia de orgulho.
MÃE…
Mário Quintana
São três letras apenas,
As desse nome bendito:
Três letrinhas, nada mais…
E nelas cabe o infinito
E palavra tão pequena
Confessam mesmo os ateus
És do tamanho do céu
E apenas menor do que Deus!
SAUDADE BREJEIRA
Nasr Chaul
… Quando mãe traz notícias de lá
A vontade é voltar pra ficar
Me abençoa o céu de acauã
De ripina, pinhé no pé de serra.
Minha serra de ouro e dor dourada
Quanta tristeza nas tardes do sertão
Que a noite transforma em serenata
Cantoria que afasta a solidão.
O meu peito goiano é assim:
De saudade brejeira sem fim
Quando gosta ele diz que “trem bão”
Quanto canta a viola é paixão.
MAR PORTUGUÊS
Fernando Pessoa
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
MÃE
José Fernandes
Tu que trazes a semente na semente,
a terra na terra para ser ramos e frutas
para a continuidade do gene e da gente
que caminha da fundura do templo
para os confins do tempo!
Tu que afinas a voz para a cantoria
da vida espalhando na água e no sal
que se torna sol e lua no meio do céu
no dia e na noite dos homens ávidos
de amor na eterna idade de eros!
Tu que caminhas silente e falante
para melhor completar a palavra
primeira perdida no in illo tempore,
mas que se resgata em cada gravidez
presa no olhar e na fala, confissão
de que se não pode fugir nem negar.
Tu que tens um dia nos dias, mas és
todos os dias na labuta para manter
o homem ligado ao homem, para preservar
o ontem e o amanhã da véspera de todas
as manhãs.
Tu tens a missão de conservar o feminino
no masculino para que ele fecunde sempre
a tua semente e faça-a germinar no teu cio
de árvore e mulher em eterno animus pecandi
de que nunca te deves esquecer nas lides
divinas do paraíso em que te transformaste.
DELEITE
Joaquim de Azevedo
Em sua sublime maternidade
fez do seu amor seiva santa,
vias lácteas de seios suaves,
onde o deleite se encontra.
Em noites de choro infante,
com tatos de carícia amena,
ninando em lúdico instante
na voz maviosa da cantilena.
Sob o instinto que se impõe,
extraindo o néctar colostro,
frenético em terno mamilo,
adormecido no colo de mãe,
em manto de ternura envolto,
sonha deleite eterno o filho!
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritorae acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 272ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]