Matias é escolhido apóstolo em lugar de Judas
Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 17:19 | Atualizado há 4 meses
Emídio Brasileiro
Fique deserta a sua morada e não haja quem nela habite. E ainda: Outro receba o seu encargo.
15Naqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos — o número das pessoas reunidas era de mais ou menos cento e vinte — e disse:
“16 Irmãos, era preciso que se cumprisse a Escritura em que, por boca de Davi, o Espírito Santo havia de antemão falado a respeito de Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus. 17Ele era contado entre os nossos e recebera sua parte neste ministério. 18Ora, esse homem adquiriu um terreno com o salário da iniquidade e, caindo de cabeça para baixo, arrebentou pelo meio, derramando-se todas as suas entranhas. 19O fato foi tão conhecido de todos os habitantes de Jerusalém que esse terreno foi denominado na língua deles, Hacéldama, isto é, ‘Campo do Sangue’. 20Pois está escrito no livro dos Salmos:
21É necessário, pois, que, dentre estes homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu em nosso meio, 22a começar do batismo de João até o dia em que dentre nós foi arrebatado, um destes se torne conosco testemunha da sua ressurreição”.
23Apresentaram então dois: José, chamado Barsabás e cognominado Justo, e Matias. 24E fizeram esta oração:
“Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, mostra-nos qual destes dois escolheste 25afim de ocupar, no ministério do apostolado, o lugar que Judas abandonou, para dirigir-se ao lugar que era o seu”.
26Lançaram sortes sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias, que foi então associado aos onze apóstolos. (Atos dos Apóstolos, cap. 1, vv. 15 a 26 ).

A escolha de alguém para o lugar de Judas Iscariotes demonstra a importância que Jesus deu ao seu colégio apostolar e a obediência às Escrituras, prática exercida pelo Mestre. Esse processo iniciado por Pedro, ao cumprir a sua missão de liderar e de coordenar a Igreja nascente, demonstra segurança, organicidade e senso democrático.
Diante de um grupo de cento e vinte discípulos, número que permitia estabelecer a escolha almejada, o Grande Pescador lembrou a todos a respeito da profecia que falava de Judas por intermédio do Salmo 109:8 do Rei Davi.
Pedro faz um breve relato do comportamento de Judas, de seu ato equivocado e de consequências funestas. Diante desse contexto, alguns poderiam indagar: Como escolher o sucessor da cadeira apostolar de Judas? O que Jesus faria para recompor a sua equipe de discípulos diretos? Para uma escolha justa, Pedro estabeleceu três pressupostos:
A primeira condição: o homem que ocuparia a vaga de Judas deveria ser discípulo da primeira hora, desde o batismo de João. A segunda condição: ter acompanhado o Mestre por todo o tempo. A terceira: ter testemunhado o último dia do Mestre quando ascendeu aos céus. A assembleia dos cento e vinte discípulos escolheu dois homens que atenderiam esses critérios: José Barsabás (nome que significa: José = “Yahweh aumenta”; Barsabás = “filho de Sabá” ou “nascido no sábado”), também chamado Justo, e Matias, (nome que significa “presente de Yahweh”). Provavelmente, os que tinham idade avançada dentre os pretensos capazes ou tenham sido os únicos que preencheram os quesitos para ocupar o lugar de Judas.
Pedro recorreu à oração para aquele momento significativo e delicado. Proferiu, em alta voz, uma prece sincera, objetiva e breve, rogando a Deus que escolhesse aquele que ocuparia o lugar de Judas. Revelou que Deus conhece o coração de todos e por isso ninguém pode enganá-Lo.
Depois da breve e sincera oração, Lucas informa que “lançaram sortes sobre eles, e a sorte veio a cair em Matias”. Não se sabe que tipo de sorte fora lançada sobre José Barsabás e Matias. Provavelmente pedrinhas ou pedaços pequenos de madeira, dentre as alternativas para se conhecer a vontade de Deus. Segundo os teólogos, essa prática é revelada pelas Escrituras, 70 vezes no Antigo Testamento e 7 vezes no Novo Testamento, sendo esta a última vez que se registra tal procedimento, que não fora recomendada por Jesus, visto que a prece, ao reconhecer a vontade do Pai, é o melhor caminho para tomada de decisões. Pedro buscou essa tradição de fé para evitar qualquer dúvida ou mal-entendido na necessária recomposição do colegiado apostolar estabelecido pelo Mestre.
José Barsabás e Matias foram valorosos discípulos de Jesus e por isto foram os escolhidos para ocupar o lugar de Judas. Mas, porque a “sorte veio a cair em Matias”? É difícil responder, mas há hipótese com base num raciocínio dedutivo. Para que alguém seja chamado Justo é porque tem em si a predominância da razão. Ademais, o senso de justiça vem de uma consciência reta quanto aos cumprimentos dos deveres, o que inspira respeito, mas também pode inspirar medo.
Embora não se saiba a respeito das biografias de José Barsabás e de Matias, é provavel que Matias que tenha sido predominantemente bondoso, generoso, virtudes que vão além do senso de justiça porquanto o generoso dá até a quem não merece. Jesus curou até os ingratos, como no caso da cura dos dez leprosos (Lucas, 17:11-19). Assim, Deus escolheu o misericordioso, o piedoso, o compassivo em detrimento do justo para ocupar o lugar de Judas, que, por não ser generoso, mas excessivamente austero com os gastos e equivocado quanto ao conhecimento do Reino de Deus, obteve a fama imerecida de ladrão e depois de traidor. A misericórdia e a caridade superara a justiça, pois o “amor cobre multidão de pecados” (1 Pedro, 4:8) e é a maior das virtudes (1 Coríntius, 13), o que levou o apóstolo João não afirmar que “Deus é Justiça” e sim “Deus é Amor” (1 João, 4:8).
Emídio Brasileiro é membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia de Letras de Aparecida de Goiânia