Melhor florir do que ferir: verdade inconteste!
Redação DM
Publicado em 16 de junho de 2016 às 03:06 | Atualizado há 9 anosQuando a semente é boa a árvore é frondosa, o fruto é saboroso, a sombra é refrescante e a vida se evidencia. Quando a semente é má, às vezes germina, brota mas não vinga.
Tenho, ao longo de minha vida, aprendido muito com as surras que ela me dá. Muitas delas em desobediência por insistir em acreditar em determinadas situações e pessoas. Às vezes, ela vem com uma decepção; outras, até mesmo com a razão, mas não tardo a perceber que tudo é pequeno demais para me desgastar, principalmente por quem não merece minha contrariedade e que desmerece a sua própria existência. Existe um provérbio que diz: nada incomoda mais nossos desafetos do que a indiferença.
É necessário vivermos certos momentos da vida a bradar com o que nos deixa atônitos e revoltados. A raiva incontida pode nos adoecer. Até mesmo Cristo chicoteou os vendilhões no Templo. Em João 2:13 a 19: “Estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas sentados; e tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a todos do templo, as ovelhas bem como os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai uma casa de negócio. Então se lembraram seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.”
É preciso termos zelo com a nossa casa, cuidando de nossas consciências, nossas condutas e ações. É preciso estarmos em paz conosco. A subserviência por conveniência, o aceitar e cometer injustiças e o viver falsamente constituem conduta, que evidencia enganação para conosco.
O grande escritor da seara espírita André Luiz nos diz: “Nunca devemos nos esquecer de que todas as vantagens ou benefícios que desfrutamos da vida são empréstimos de Deus”; eu quero retribuir a Ele com a minha sinceridade. Sei que às vezes ela é brutal, mas é a minha parte animal que se manifesta. A racionalidade e amabilidade, deixo-as para quem as merece ou faz por merecê-las. Não desejo cultivar inimigos, mas não deixarei jamais de dizer a verdade, mesmo quando muitos me pedem o silêncio ou clamam pelo perdão. O que me perturba é calar-me ante a opressão, a falta de dignidade, a má compostura e a inexistência de gratidão.
Eis ai um adubo forte para o florescer: gratidão. Ela é representada não só no gesto, mas muitas vezes no silêncio. É o doar sem a espera da retribuição. É o reconhecimento por aqueles que nos deram as mãos. É o gesto mínimo diante da bondade que nos fazem e fizeram. É sair com dignidade e não pela maldade. É não mentir, enganar, ferir e decepcionar.
Já a ingratidão: são os acúleos que cercam a rosa. É o espinho que nos distrai frente à flor; é a dor que nos machuca a alma; a maldade inesperada de quem julgávamos amigo. É a traição. É a colheita da decepção onde semeamos a amizade. É o não honrar a confiança. É subjugar a boa-fé. É tudo aquilo que nos fere a alma, mas que o tempo se incumbe de curar.
Em política, o velho Ulisses Guimarães, que por tantas situações passou na via pública brasileira, dizia-nos: “O dia do benefício é a véspera da ingratidão.” Isto é comumente vivido nesse meio já tão desacreditado, onde é raro existir a gratidão ante os interesses pessoais. O amor e a gratidão devem andar juntos, de mãos dadas, um não pode existir sem o outro. São dois sentimentos que se completam; onde há amor sempre haverá gratidão.
Determinadas atitudes nos fazem perder a fé nos homens, mas precisamos insistir e ter esperança, pois até os que erram cairão e, quem sabe, conscientizar-se-ão de que o erro pode ser também uma forma de aprendizagem.
Acreditar nas próprias mentiras e tentar fazer delas verdades, muitas vezes é querer subjugar a inteligência do próximo. Temos que zelar pelas nossas condutas, pois elas, mais do que nortear nossas ações, são quem forja o nosso caráter.
Não é agradável apontarmos o dedo e indicar o culpado. Mas é obrigação advertir o faltoso quando este, sucessivamente, continua com suas maldades. É preciso chamarmos sua atenção, mostrar-lhe que suas atitudes estão sendo observadas; que suas maldades estão descobertas e suas vãs tentativas de enganar já não convencem. Enfim, aos maus não nos cabe somente o desprezo, principalmente, quando estes tentam se esquivar de sua culpa ou transferi-las para terceiros. É necessária a advertência!
Eu tenho aprendido a esperar. Não creio quando dizem: aqui se faz e aqui se paga. Não! Estamos aqui para o ressarcimento de dívidas, mas quase sempre acabamos por aumentá-las. Sei que é preciso aprender a perdoar, assim como sei que é preciso também sabermos nos precaver.
Essa precaução está na nossa obrigação de alertar e buscar diminuir as injustiças do mundo, não permitir que façam da vida um balcão de negócios, principalmente quando nessas ações estão envolvidos terceiros, que nem sempre percebem, pela sua boa-fé, tornam-se vítimas dos maldosos enganadores.
A política brasileira caminha, após grande sofrimento, para um momento de depuração. Não pode haver mais lugar para os usurpadores da pátria e para os falsos moralistas. Precisamos depurar os que a fazem, avaliando suas condutas, suas companhias, suas reais intenções e principalmente, o que se propõem a fazer – e que já fizeram.
Sonhamos com dias melhores, com um futuro que nos traga mais justiça social e moralidade na vida pública. Que antes da vaidade do cargo exista a boa vontade em servir. A capacidade de transformar. A sensibilidade de enxergar as reais necessidades do povo. Ser um político que traga a confiança e o respeito da população diante de ações alicerçadas na ética e no cumprimento de seus deveres legais.
Que neste ano eleitoral possamos iniciar a difícil tarefa da boa escolha, que nem sempre recai no bonzinho, no político simpático, naquele que resolve nossos problemas pessoais, mas principalmente em quem se mostra preparado e nos transmita confiança e boa vontade em servir ao próximo, pois a política não é uma profissão, mas vocação.
Neste caminhar político, sempre criamos desafetos e reatamos amizades em prol de uma aliança que julgamos ser a correta. Militar em política não é negociar, mas buscar uma coalizão em prol de terceiros, não de nós mesmos. É saber se contentar com uma vantagem: o prazer e a alegria de poder servir e retribuir a confiança que lhe foi depositada.
Mesmo em política, temos que aprender a pedir perdão a quem fizemos mal. A quem ajudamos, precisamos acreditar que sempre podemos fazer mais. E, a quem nos ajudou, devemos sempre ser gratos e saber o que é o reconhecimento.
Não é tarefa fácil, mas possível!
(Cleverlan Antônio do Vale, administrador de empresas e gestor público, articulista do DM. Escreve todas às quintas neste periódico, [email protected])