Opinião

Miguel Abrão Tempero, cultura e saudade

Redação DM

Publicado em 12 de abril de 2017 às 02:43 | Atualizado há 8 anos

A cultura árabe, sua refinada culinária e um ambiente onde a harmonia e o bom gosto dão a tônica, são elementos que se misturam com a história política recente e a vida cultural goiana. E o Restaurante Árabe faz essa notável conexão com seu lugar de destaque no cotidiano da cidade.
Quando Goiânia vivia a pesada atmosfera do movimento militar que assumiu o governo em 1964 e que depôs Mauro Borges do governo de Goiás, quem transitava pela Praça Joaquim Lúcio, em Campinas, avistava o Bar Caiçara, ponto inescapável para os que apreciavam a comida árabe.
O local, por onde passaram pessoas ilustres como os políticos Pedro Ludovico Teixeira, Alfredo Nasser, o Deputado Federal Tenório Cavalcante (o homem da capa preta), Mauro Borges Teixeira, Otávio Lage de Siqueira, o fotógrafo Hélio de Oliveira, Emival Caiado, Wilmar Guimarães, Antônio Rezende Monteiro, o estudante de medicina Hélio de Souza, hoje Deputado Estadual por 5 mandatos consecutivos, os cantores Nelson Gonçalves, Anísio Silva e Carlos Gonzaga. O Bar Caiçara era dirigido por Elias Abrão e a esposa Ramiza Abrão.
Sob uma atmosfera que combinava simplicidade, bem-estar e bom gosto, o Bar Caiçara tornou-se também ponto de encontro de gente famosa do teatro como Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves e Zé Trindade.
Nesse espaço de convivência das artes com a boa cozinha, cresceu Miguel Abrão, filho do casal, nascido em Uberaba.
Em 1972, o Brasil, vivia o clima ufanista imposto pela propaganda do regime militar, sob a presidência do general Emílio Garrastazu Médici. O goiano sentia ainda a cassação política de Pedro Ludovico Teixeira, em 1969, pela Junta Militar, após a morte de Costa e Silva, mas a vida seguia seu curso. E o Bar Caiçara, embora vivesse o agito de empresários e intelectuais, já não comportava mais sua exigente clientela. O estabelecimento tornou-se Restaurante Árabe e mudou de endereço. O tradicional rodízio instalou-se próximo ao Parque Mutirama. Depois foi transferido para a Avenida Araguaia, no centro, onde permaneceu por vários anos.
A convite do delegado e poeta Ubiratan Fernandes Rosa, conheci Miguel Abrão, em 1984, um grande amigo.
Hoje, instalado na Avenida 83, Setor Sul, o Restaurante Árabe é referência nacional, conforme registro na revista Veja, em 2009, que o considerou “o melhor da cidade na categoria árabe”.
Passados mais de 40 anos, o Brasil vive uma democracia, Goiânia tem mais de 1,5 milhão de habitantes, prédios suntuosos e muitos problemas próprios das grandes cidades, como o trânsito caótico e um transporte deficiente.
No entanto, a cidade continua com seu ar interiorano, e um povo acolhedor.
Como reconhecimento a esse empresário que dedicou toda a sua vida a Goiânia, a Câmara Municipal concedeu-lhe o título de cidadão goianiense. Miguel Abrão, já doente, com um câncer consumindo a sua vida, ainda assim conseguiu participar da entrega, mas não viveu para ver a grande homenagem da Assembleia Legislativa a sua pessoa – Um título de cidadão goiano. Depois de lutar bravamente por mais de 3 anos Miguel Abrão não resistiu a crueldade da doença e veio a falecer em 23 de janeiro de 2011, cercado pelo carinho dos filhos Marcelo, Joana Carolina, Shênia e a esposa Joana Darc, o grande amor da sua vida.
Ao meu amigo Miguel Abrão, rendo esta homenagem pela sua bonita história, pois conseguiu passar pelos caminhos da vida, levando na bagagem alegrias de belos sonhos.

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