Minha experiência nas Olimpíadas do Rio
Redação DM
Publicado em 23 de agosto de 2016 às 02:56 | Atualizado há 9 anosEm meados de 2014 ouvi uma colega de faculdade comentando sobre as Olimpíadas, ela iria se inscrever para trabalhar como voluntária. Até então nunca havia parado para pensar quem fazia toda a mágica acontecer. Não sabia sequer onde ia para me inscrever, então comecei a pesquisar informações na internet e me deparei com o portal oficial dos voluntários.
Neste portal fiz meu cadastro, respondi aqueles questionários enormes, com todas as perguntas de praxe. Pensei “Uai, parece fácil”, mas estava enganada. Depois deste primeiro formulário vieram inúmeros outros, cursos online, etapas de seleção e até algumas provas. Ao longo de dois anos fui participando de tudo e juntando dinheiro para minha viagem até a Cidade Maravilhosa.
Minha família não acreditava que aquilo daria certo, sequer levavam a sério quando eu tocava no assunto. As respostas eram sempre as mesmas “Uhum, sei”.
De fato, tudo parecia muito distante, eu, que no ato da inscrição era menor de idade e sequer havia viajado sozinha, tinha medo de tudo. Juntei meu dinheiro aos poucos, houve momentos ao longo dos dois anos em que fiquei desempregada e minha pequena poupança acabava, nestes momentos pensava “não vai ter jeito, não vou conseguir”.
2014 também foi o ano em que ingressei na Universidade Federal, e cinco semestres foram suficientes para me transformar completamente. Me tornei imensamente mais madura e consciente, viajei sozinha algumas vezes, outras com amigos, enfim, cresci.
Em 2016 tudo parecia mais plausível, entretanto eu enfrentava um problema, partilhado por milhares de outros voluntários. Minha carta de convocação não chegava. Passei dias e dias checando minha caixa de e-mail, sempre com a esperança de ver minha cartinha tão aguardada. E o dia tão esperado não chegava.
Não me lembro a data exata, porém cerca de um mês antes dos jogos recordo-me de estar deitada em minha cama quando escutei o celular vibrar, eu já havia perdido as esperanças de ir para os jogos, porém vi ali na tela a notificação de um e-mail. Quando o abri, creio que meu coração parou por alguns segundos. Minha convocação estava ali, na minha frente.
A alegria em casa foi geral, no dia seguinte saímos para comprar uma mala grande e outras coisas que eu iria precisar durante minha estadia no Rio. Consegui resolver o problema da acomodação sem grandes dificuldades. Estava tudo ajeitado, eu iria trabalhar nas Olimpíadas do Rio 2016. Parecia um sonho, o que de fato foi.
Cada dia que passava era um dia mais próximo de minha viagem. No dia em que embarquei, fui com o coração na mão, de felicidade e realização. “Você conseguiu, Calipso”.
Me senti no Rio mais como uma estrangeira do que brasileira, era engraçado como todos falavam comigo em inglês, sempre me oferecendo ajuda ou perguntando se eu estava perdida. Vivenciei também o outro lado, quando estava vestida em meu uniforme, meu coração se alegrava toda vez em que alguém se aproximava para pedir ajuda. Eu era uma referência. Eu era importante.
Colocar aquele uniforme verde e amarelo era a parte mais especial do meu dia, me sentia representando todo o País. Era engraçado como todos os voluntários estavam sempre sorrindo, depois de pegar inúmeras conduções, ficar em pé no transporte público, acordar cedo, dormir pouco, todo mundo tão contente. Sentia-me privilegiada de estar perto de tanta gente bacana.
Foi triste, entretanto, ver a parte da cidade em que não havia instalações olímpicas. Tudo continuava pobre e abandonado, aquelas partes da cidade não tinham importância para o governo e nem para a mídia. Aquele povo esquecido, entretanto, acolhia a mim e todos os outros voluntários, sempre tão pacientes nos ajudando.
Minha experiência trabalhando na Rio 2016 foi incrível e única, ainda que eu atue em outras Olimpíadas, nenhuma será como esta.
“Você é doida, tá trabalhando de graça”. Quantas vezes não ouvi essa frase… Realmente meu trabalho não teve retorno financeiro, mas teve um retorno para o meu coração e minha alma.
Levo do Rio uma boa impressão, de gente hospitaleira que me confundia com gringa quase sempre, levo memórias inesquecíveis. Porém levo também a dúvida, será que todo aquele aparato de segurança montado vai permanecer lá? A cidade continuará segura após o fim dos jogos? E agora, o que será do Rio?
(Calipso, repórter do Diário da Manhã)