Moana – um mar de aventuras
Diário da Manhã
Publicado em 7 de janeiro de 2017 às 01:48 | Atualizado há 5 meses
A Disney entendeu que as princesas mudaram. A nova geração traz consigo a imagem da mulher independente desgarrada de qualquer pré-conceito social e pronta para sair da zona de conforto e lutar pelos seus sonhos. Se o cinema hoje tem criado personagens femininas destemidas e decididas, as novas princesas da Disney são peças fundamentais para a formação desse atual pensamento da cultura ocidental. A Rapunzel de “Enrolados”, Tiana de “A Princesa e o Sapo”, Elsa e Anna de “Frozen” e agora Moana, todas elas compartilham projetos que se enquadram na jornada clássica do herói, e compartilham atitudes que fogem da dependência mútua de algum fator externo. Os problemas que precisam ser superados, principalmente, começam delas e dependem exclusivamente delas. Os tempos são outros, e as princesas também. Felizmente.
Na história, Moana Waialiki é filha de um chefe de uma tribo da Oceania e desde criança seu pai a proibiu de se aventurar no mar. Mas Moana é destemida, curiosa, e após uma maldição ter sido liberada no mundo quando, anos antes, o semideus Maui roubou uma pedra preciosa de uma deusa, e trouxe morte gradativa para toda a natureza, Moana parte numa aventura em mar aberto para encontrar Maui, que está exilado, e impedir que a destruição continue e chegue até a sua aldeia.
Em “Moana” temos a primeira princesa polinésia do estúdio, e mais uma história onde o tema central não envolve um interesse amoroso, mas uma jornada de autodescobrimento em paralelo com uma missão de salvamento. Os temas centrais como: “seja você”, “lute pelos seus sonhos” e outros relacionados são chavões ao longo da história, e cada um é inserido dentro de um contexto ao mesmo tempo mágico – o que é comum ao se tratar de Disney, principalmente – como também heroico com bastante aventura. Moana é a primeira princesa navegadora da Disney, o que já traz uma característica diferenciada para a personagem em relação às demais.
Dirigido por dois veteranos da Disney, John Musker e Ron Clements, dupla responsável pelos clássicos “A Pequena Sereia” e “Aladdim”, em “Moana” eles fazem a estreia na direção de uma animação completamente em 3D. Como já falaram em entrevistas, o filme foi uma experiência de aprendizado dentro deste formato todo digital, e como já fizeram com Ariel, outra princesa que já mostrou lá atrás ser muito além do seu tempo, com Moana tais características citadas no começo continuam a ser trabalhadas e atualizadas para a nova geração. Ambos também dirigiram “A Princesa e o Sapo”, ou seja, são dois sujeitos que entendem e sabem criar personagens femininas de destaque.
No entanto, infelizmente, entramos agora naquele chato “porém”. Apesar de “Moana” ser visualmente belíssimo e ter uma protagonista forte, confesso que esperava me encantar mais com o filme. O roteiro de Jared Bush, baseado numa história desenvolvida pelos próprios diretores, perde força com uma construção bagunçada e apressada dos conflitos do passado e presente da personagem título. Os elementos como um todo, apesar de básicos, nunca alcançam um momento de vislumbre ou impacto emocional como em “Enrolados” ou, principalmente, no sucesso “Frozen”.
A construção da mitologia de Maui, os deuses e o passado de Moana é superficialmente trabalhada e pouco aprofundada ao longo do filme. Perguntas ficam no ar e pouquíssima identificação é criada com o drama de cada personagem, ao menos foi o que senti. Não vibrei com Moana, ou Maui, e não me emocionei com a jornada de autodescobrimento.
Quem me conhece sabe que sou fã de musicais. A Disney é famosa por colocar momentos de cantoria nos filmes, principalmente nas obras de princesas. Mas será que é sempre necessário? Ao menos aqui em “Moana”, em minha opinião, as canções só atrapalham a experiência. Primeiro: quase todas as músicas não ajudam no andar da história, e o filme interrompe a narrativa para apresentar um momento musical que é muitas vezes banal, diga-se de passagem a sequência com o caranguejo gigante. Segundo: as músicas não encantam, não emocionam e passam longe de serem inesquecíveis. E terceiro: não gostei da dublagem brasileira cujas vozes pouco combinam com as personagens, e em nada colaboram nos momentos musicais.
“Moana – Um Mar de Aventuras”, entenda, não é ruim. Mas também não é arrebatador. É divertido, belo de se ver, com raras piadas que funcionam, mas no geral, é apenas um bom filme. Nada além. Ao meu ver é uma obra onde o mau desenvolvimento da narrativa deixou o filme pouco inspirador. Verei novamente em breve, e quem sabe na segunda vez a coisa melhora.
(Matthew Vilela é jornalista e comentarista de cinema no “Blog do Matthew Vilela”)