Opinião

Moral e honestidade devem ser ensinadas e exercitadas por pais e educadores

Redação DM

Publicado em 29 de setembro de 2018 às 23:16 | Atualizado há 7 anos

Con­for­me en­si­nou Aris­tó­te­les a éti­ca é uma vir­tu­de que de­ve ser en­si­na­da. A cri­an­ça nas­ce com au­sên­cia de éti­ca. Ela, por­tan­to, é não éti­ca  ou aé­ti­ca; is­to quer di­zer que o ser hu­ma­no nas­ce com­ple­ta­men­te anal­fa­be­to, in­clu­si­ve em re­la­ção aos fun­da­men­tos e no­ções de mo­ral e de ho­nes­ti­da­de. São prin­cí­pios, re­gras de con­vi­vên­cia que de­vem ser en­si­na­dos, trei­na­dos e com prá­ti­cas re­pe­ti­das  pe­los pa­is aos fi­lhos.

As es­co­las te­rão tam­bém um pa­pel fun­da­men­tal nes­ses que­si­tos. Bo­as ma­nei­ras e bons cos­tu­mes (éti­ca e mo­ral) são tam­bém de res­pon­sa­bi­li­da­de dos pro­fes­so­res. Cons­ti­tu­em co­nhe­ci­men­tos téc­ni­cos, mas sem­pre con­tí­nuo trei­na­men­to. To­da cri­an­ça e edu­can­do ne­ces­si­tam de li­mi­tes, de re­gras e dis­ci­pli­na nas re­la­ções so­ci­ais.

A tí­tu­lo de re­cor­da­ção, pa­ra di­fe­ren­cia­ção,  o que é éti­ca?  O con­jun­to de  prin­cí­pios te­ó­ri­cos. Mo­ral  se­ria a prá­ti­ca des­tes prin­cí­pios. Exem­plo: o có­di­go de trân­si­to é um prin­cí­pio éti­co. A vi­o­la­ção das re­gras de trân­si­to (prá­ti­ca) se tor­na um com­por­ta­men­to imo­ral e an­ti­é­ti­co .

Foi pen­san­do em mo­ral e éti­ca que lem­brou-me ou­tra vir­tu­de. De to­dos co­nhe­ci­da, mas pou­co pra­ti­ca­da, a gen­ti­le­za. Mui­tos ou­tros ter­mos e ver­be­tes são tam­bém co­nhe­ci­dos. Da gen­ti­le­za  são ir­mãos uni­vi­te­li­nos. Cor­te­sia, edu­ca­ção, res­pei­to, cor­dia­li­da­de, ur­ba­ni­da­de. A gen­ti­le­za, um pre­di­ca­do que tor­na a to­dos nós mais hu­ma­nos, an­da mui­to es­cas­sa nos mais va­ri­a­dos am­bi­en­tes so­ci­ais. Se­jam es­ses es­pa­ços a fa­mí­lia, as ru­as, os con­do­mí­nios, as ses­sões de tra­ba­lho, os ce­ná­rios cor­po­ra­ti­vos.

O com­por­ta­men­to de ci­vi­li­da­de (gen­ti­le­za) de­ve ter co­mo mo­de­lo as pró­pri­as re­la­ções fa­mi­lia­res. A éti­ca e a mo­ral, que,  às ve­zes, se con­fun­dem e se fun­dem com a gen­ti­le­za de­vem co­me­çar nas re­la­ções de pa­is e fi­lhos, ma­ri­do e mu­lher, en­tre os ir­mãos, en­tre pa­trões e em­pre­ga­dos. É mui­to na­tu­ral que ha­ja uma hi­e­rar­quia em qual­quer or­ga­ni­za­ção so­ci­al. A fa­mí­lia é um mo­de­lo uni­ver­sal des­se gru­po.

Ain­da per­du­ra no Bra­sil, mas não o úni­co pa­ís, uma ati­tu­de com ca­rá­ter es­cra­va­gis­ta en­tre pa­trão e em­pre­ga­dos, en­tre um ad­mi­nis­tra­dor, um ges­tor pú­bli­co ou pri­va­do e o fun­cio­ná­rio su­bal­ter­no. Há re­cor­ren­tes de­nún­cias até mes­mo de gra­ves ca­sos de as­sé­di­os, mo­ral e se­xu­al. São gra­ves, gra­vís­si­mas ques­tões de ofen­sas aos di­rei­tos e à dig­ni­da­de da pes­soa. Não im­por­ta o gê­ne­ro .

Mui­tas são as pa­la­vras de sim­ples lo­cu­ção mas, al­ta­men­te no­bres e dig­ni­fi­can­tes nos con­ta­tos e re­la­ções in­ter­pes­so­ais. Nes­te sen­ti­do pou­co cus­ta a ca­da pes­soa di­ri­gir-se a ou­trem com um bom dia, por fa­vor, por gen­ti­le­za. Mui­tos são os che­fes e ge­ren­tes des­sa e ou­tra em­pre­sa, or­ga­ni­za­ção, que se com­por­tam co­mo um ma­cho al­fa de ou­tro mun­do ani­mal. Não é in­co­mum mui­tos des­ses lí­de­res agi­rem co­mo pe­que­nos ti­ra­nos em su­as fun­ções.

As ex­pres­sões por fa­vor, pe­ço ou so­li­ci­to tal coi­sa, tal ob­sé­quio,  são tro­ca­das por fa­ça-me is­to ou aqui­lo de for­ma im­pe­ra­ti­va e des­res­pei­to­sa com co­le­gas e su­bal­ter­nos, con­si­de­ra­dos por es­ses lí­de­res,  de fun­ção ou tra­ba­lho in­fe­ri­or. O mí­ni­mo que de­ve pre­va­le­cer em qual­quer es­pa­ço de con­vi­vên­cia é ao me­nos um pou­co, uma di­mi­nu­ta éti­ca, a tão  co­nhe­ci­da eti­que­ta.

A gen­ti­le­za na con­vi­vên­cia hu­ma­na traz-me à me­mó­ria um per­so­na­gem bra­si­lei­ro. Ele foi uma es­pé­cie de an­da­ri­lho, po­pu­lar­men­te co­nhe­ci­do por pro­fe­ta gen­ti­le­za. Jo­sé Da­tri­no (1917-1996) sen­tiu-se trans­for­ma­do em 1961, nu­ma au­ten­ti­ca con­ver­são, e se ex­pli­ca por que .

Em de­zem­bro des­se ano ocor­reu um in­cên­dio no Gran Cir­cus Nor­te­A­me­ri­ca­no, lo­ca­li­za­do em Ni­te­roí RJ. Fo­ram 500 mor­tos e mais de 800 fe­ri­dos. Um as­pec­to trá­gi­co é que a mai­o­ria das ví­ti­mas era de cri­an­ças.

Da­tri­no sen­tiu-se to­ca­do co­mo por uma for­ça mís­ti­ca. Ele des­fez-se in­clu­si­ve de al­guns bens ma­te­ri­ais pa­ra aju­dar ví­ti­mas e pa­ren­tes dos mor­tos. Um des­ses bens, um ca­mi­nhão com que tra­ba­lha­va. Ele so­freu, ao jei­to do após­to­lo Pau­lo (Pau­lo de Tar­so) uma es­pé­cie de trans­for­ma­ção . De uma vi­da de sim­ples tra­ba­lha­dor a um pre­ga­dor. Daí o epí­te­to jus­to de pro­fe­ta gen­ti­le­za.

Pas­sa­da  a fa­se mais agu­da da tra­gé­dia, quan­do ele con­so­lou e re­a­ni­mou tan­tas pes­so­as, Jo­sé Da­tri­no se tor­nou um men­sa­gei­ro da gen­ti­le­za, do amor e da paz. Um de seus bor­dões era gen­ti­le­za ge­ra gen­ti­le­za. Mui­tas fo­ram as pin­tu­ras e fra­ses por ele ins­cri­tas e es­cul­pi­das em obras de in­fra­es­tru­tu­ra na ci­da­de do Rio de Ja­nei­ro.

Ele so­freu mui­ta dis­cri­mi­na­ção e per­se­gui­ção na épo­ca. Após sua mor­te, em 1996, mui­tos de seus pai­néis fo­ram pi­cha­dos e des­tru­í­dos. Ain­da que tar­di­a­men­te, o seu le­ga­do foi re­co­nhe­ci­do e mui­tas de su­as obras fo­ram re­cu­pe­ra­das co­mo mo­nu­men­tos cul­tu­ra­is, tra­ba­lho re­co­nhe­ci­do  pe­la pre­fei­tu­ra do Rio de Ja­nei­ro.

O can­tor Gon­za­gui­nha o ho­me­na­ge­ou com uma lin­da can­ção que diz: “fei­to lou­co/pe­las ru­as/com sua fé/gen­ti­le­za/o pro­fe­ta/e as pa­la­vras/cal­ma­men­te/se­me­an­do/amor/à vi­da/ aos hu­ma­nos.

En­fim, ten­do em con­ta as re­la­ções hu­ma­nas de nos­sos tem­pos di­gi­tais, bom e útil se­ria sa­ber ou co­nhe­cer (ser) um pou­co mais as pre­ga­ções e li­ções de vi­da do pro­fe­ta gen­ti­le­za. Fal­ta mes­mo mui­ta gen­ti­le­za em nos­sos tem­pos.  Mas, nem tu­do es­tá per­di­do, de­ve­mos sem­pre acre­di­tar no ser hu­ma­no.   Se­tem­bro/2018.

 

(Jo­ão Jo­a­quim – mé­di­co – ar­ti­cu­lis­ta DM fa­ce­bo­ok/ jo­ão jo­a­quim de oli­vei­ra www.drjo­ao­jo­a­quim.blog­spot.com – What­sApp (62)98224-8810)

 


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