Mudança de paradigma
Redação DM
Publicado em 16 de maio de 2016 às 21:45 | Atualizado há 9 anos
Por tratar-se de tema tão significativo, não apenas na área da Ciência, mas também na área da Filosofia (ciência da cogitação) e na área da Religião (ciência da alma), é de excelente oportunidade a opinião de Fritjof Capra, no Prefácio de sua brilhante obra “O Ponto de Mutação…”
Diz Capra:
“Meu principal interesse profissional durante a década de 70 concentrou-se na drástica mudança de conceitos e ideias que ocorreu na física durante os primeiros trinta anos do século que ainda está sendo elaborada nas atuais teorias da matéria. Os novos conceitos em física provocaram uma profunda mudança em nossa visão do mundo, passando-se da concepção mecanicista de Descartes e Newton para uma visão holística e ecológica, que reputo semelhante às visões dos místicos de todas as épocas e tradições.
A nova concepção do universo físico não foi facilmente aceita, em absoluto, pelos cientistas do começo do século. A exploração do mundo atômico e subatômico colocou-os em contato com uma estranha e inesperada realidade que parecia desafiar qualquer descrição coerente. Em seu esforço de apreensão dessa nova realidade, os cientistas tornaram-se irremediavelmente conscientes de que seus conceitos básicos, sua linguagem e todo o seu modo de pensar eram inadequados para descrever fenômenos atômicos. Seus problemas não eram meramente intelectuais; remontavam ao significado de uma intensa crise emocional e, poderíamos dizer, até mesmo existencial. Foi preciso muito tempo para que superassem essa crise, mas, no final, foram recompensados por profundos insights sobre a natureza da matéria e sua relação com a mente humana…”
2 – Em sequência, o autor reforça o entendimento de que a adoção de um novo paradigma, nos campos do saber, é irreversível já na atualidade. De fato, depois de chegarmos aonde já chegamos, a ordem é prosseguir na caminhada, holística e psicologicamente, sem prejuízo das pesquisas das ciências naturais se abrirem à reflexão do “misticismo” oriental, com raízes de certa profundidade no próprio Ocidente.
Empregamos a palavra “misticismo” entre aspas de propósito, no sentido global, de envolver, com total convicção, o aspecto religioso da vida.
Assim se expressa o autor, à página 14:
“…Vivemos hoje um mundo globalmente interligado, no qual os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes. Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma perspectiva ecológica que a vida de mundo cartesiano não nos oferece.
Precisamos, pois, de um novo paradigma – uma nova visão da realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos, percepções e valores. Os primórdios dessa mudança, da transferência de concepção mecanicista para a holística da realidade, já são visíveis em todos os campos e suscetíveis de dominar a década atual….”
3 – Do que percebemos que mais se adequa ao nosso propósito, nesta obra, veja-se o que diz Capra, à página 15:
“… As interconexões e interdependências entre os numerosos conceitos representam a essência da minha própria contribuição. Espero que o resultado, no seu todo, seja mais importante do que a soma de suas partes…”
4 – Ao término de suas considerações, no importante Prefácio, a esperança do autor é no sentido de que a humanidade absorva, desde logo, as necessárias e impostergáveis mudanças, para a maior garantia de seu mais rápido e eficaz desenvolvimento, nos dois sentidos da vida – intelectual e moral.
Essas palavras finais, em seu Prefácio, foram escritas em Berkeley (Universidade da Califórnia – EE. UU), em abril de 1981, às páginas 15/16:
“Acredito que a visão de mundo sugerida pela física moderna seja incompatível com a nossa sociedade atual, a qual não reflete o harmonioso estado de inter-relacionamento que observamos na natureza. Para se alcançar tal estado de equilíbrio, será necessária uma estrutura social e econômica radicalmente diferente; uma revolução cultural na verdadeira acepção da palavra. A sobrevivência de toda a nossa civilização pode depender de sermos 0ou não capazes de realizar tal mudança” (Sublinhados e negrito nossos).
(Weimar Muniz de Oliveira, [email protected])