Na pele em que habito
Redação DM
Publicado em 28 de março de 2018 às 23:46 | Atualizado há 7 anos
No final do século XX e, principalmente, no século XXI, a tatuagem tornou-se comum e popular no Brasil e, mais que isso, perdeu o estigma de “coisa de marginal”.
Embora relativamente recente por aqui, a prática de tatuar o corpo é bastante antiga: há o registro de um corpo humano tatuado, encontrado congelado, datado de 5300 anos atrás! Muitos povos das mais diferentes épocas, lugares e etnias tatuaram a pele com significados bem variados.
Na civilização ocidental, tal prática teve início no final do século XVIII, a partir do contanto de viajantes do ultramar com povos aborígenes. No começo do século XX, por sua vez, a prática de tatuar o corpo subsiste e é apropriada por presidiários e outros tipos de pessoas vistas como marginais, fato que contribuiu para estigmatizar-se a tatuagem, na medida em que ela era associada à criminalidade.
Na revolução cultural da década de 1960, os hippies aderiram à tatuagem como forma de irem de encontro às regras sociais. Os hippies também eram estigmatizados a seu modo, e a tatuagem seguia seu curso de arte bandida.
No Brasil, a tatuagem moderna iniciou-se com o trabalho do primeiro tatuador profissional, Knud Harald Lykke Gregersen. Mais conhecido como Tattoo Lucky, esse dinamarquês chegou ao Brasil em 1959 e, em Santos, com a primeira máquina elétrica para tatuar, abriu seu ateliê. O público que o procurava, além de marinheiros, ainda era restrito: prostitutas e gente mergulhada no universo das drogas. Como se vê, também aqui nos trópicos a arte da tatuagem começou marcada pelo preconceito.
E a mudança quanto à imagem da tatuagem e a consequente ampliação dos segmentos sociais em que indivíduos dispunham-se a ter uma tatuagem percorreu caminho lento: estima-se que, na década de 1970, jamais ultrapassou-se o número de 10 tatuadores no País e, mesmo na última década do século, não chegara a 100. Para um país de escala continental, nota-se que aquele não foi o tempo da tatuagem.
Não que as coisas mudem de um dia para o outro, mas, no século XXI, os sentidos referentes à tatuagem ligados à marginalidade praticamente já não existem, ao menos nos grandes centros urbanos. Pode-se mesmo dizer que houve um boom da tatuagem e que é praticada por todos os segmentos sociais. Como quase tudo no capitalismo, a tatuagem também foi “domesticada”, tornando-se mais um produto de consumo.
E, para o olhar atento do mundo dos negócios, pode-se dizer que pele é o que não falta no mundo. Nesse novo contexto, observa-se um considerável mercado de trabalho: segundo o Sebrae, há, no Brasil, cerca de 11.380 negócios de tattoo (e body piercing). Embora não tenhamos uma estatística de quantas tatuagens têm sido feitas por ano no País, sabe-se que 59,9% do público recente é feminino e 48,2% dessa mesma clientela tem entre 19 e 25 anos.
Nesse universo, o preço de uma tattoo varia muito. Ele depende do estúdio e do tatuador em questão, do tamanho do desenho, das cores, do traço, do equipamento utilizado, do local do estúdio e do tempo utilizado em sua feitura. Com efeito, pode-se fazer uma tatuagem por apenas 100 reais, seguramente uma pequena e com traços simples. No caso de uma maior e mais trabalhosa, é comum o preço variar entre 500 e 1000 reais.
Por sua vez, um profissional do setor tem ganho também bastante variado. Ele pode faturar de 1200 reais mensais a até 37 mil!
Enfim, a tatuagem, como tantas outras criações humanas, tem uma longa e complexa história. Atualmente, ela perdeu boa parte do estigma que outrora tivera e pode significar muitas coisas: um simples adorno, uma distinção ante tanta igualdade, uma obra de arte registrada na pele ou uma forma de “ganhar a vida”, tatuando a pele dos outros. E para você, leitor, o que significa uma tattoo?
(Anna Oga Oliveira, estudante do 3º ano do Ensino Médio do Instituto Federal de Brasília/Campus Riacho Fundo)