Opinião

Nada é o que parece ser

Redação DM

Publicado em 2 de junho de 2015 às 03:28 | Atualizado há 10 anos

Nem tudo o que vemos é realmente aquilo que é. Vivemos em um mundo de aparências, onde a impressão é a primeira que fica, tanto que a aparência é o que se mostra à primeira vista, o aspecto, a exterioridade.
Dizem até que a aparência é a manifestação da realidade, de modo que a realidade encontra na aparência a sua revelação. Mas a relação entre aparência e realidade pode ser problematizada, pois é argumentável que só temos acesso a como as coisas aparecem, e nada do que aparece diz como as coisas são em si mesmas.
Ideologicamente a ilusão esbarra na aparência, já que imagens podem enganar o seu cérebro, deixando o inconsciente confuso e fazendo com este capte idéias falsas, preenchendo espaços que não ficam claros à primeira vista.
Por exemplo, sobre uma mesa retangular, a cada pessoa que está ao seu redor seu tampo aparece com um formato diferente. O lado mais próximo parece ser maior, o lado mais distante parece ser menor.
Assim também é a vida. Dentro de algumas situações em que estamos inseridos, muitas vezes somos os últimos a saber da realidade que está rolando bem diante dos nossos olhos, não é mesmo?
Agora, se não temos o conhecimento real das coisas que acontecem conosco, que dirá sobre o que acontece nos bastidores da política, mormente a brasileira.
Um político é eleito para defender o interesse dos representados, mas na realidade, quando detém o poder, o seu interesse próprio fala mais alto e os eleitores são traídos a cada decisão que se torna ‘lei’ nos palcos do Congresso Nacional.
Os salões do Congresso se transformam em um espaço onde acontece o maior carnaval contra o povo brasileiro.
Alias, esta é outra grande contradição do nosso país, religioso, católico, mas que sedia as maiores festas carnavalescas do mundo: no sambódromo do Rio, descem pela Marquês de Sapucaí mulheres nuas, homens despidos, carros alegóricos que representam o diabo ‘ipsis litteris’ num culto pagão onde o cristianismo do maior país católico do mundo é absorvido pela maior festa da carne do planeta. Aí, os filhos do carnaval, a proliferação da Aids e doenças venéreas são só um detalhe.
No Brasil tudo é grande e contraditório. Eis onde quero chegar: podemos ter carnaval mas não podemos ter jogos de azar regulamentados?
Cassinos combinam com carnaval, com festas, com turismo. A questão não é se você irá até eles – a questão é a da regulamentação dos jogos de azar.
Países como Estados Unidos, (que aliás é o maior país protestante do mundo), China, Alemanha, Cingapura, Peru, o Principado de Mônaco e até a nossa vizinha Argentina sediam belos e magníficos cassinos; no Brasil, jogos de azar não são permitidos, senão aqueles que estão sob o monopólio completo do Governo Federal, os quais conhecemos muito bem.
A construção de cassinos com certeza mudaria a arquitetura da nossa orla, imensa e linda, a qual seria totalmente modificada e modernizada com a construção de belos cassinos resplandecentes sob a luz do luar e banhados pelas generosas águas do atlântico sul. Por que o país do carnaval, do futebol, não pode liberar os jogos de azar?
A regulamentação dos Jogos de Azar por aqui é assunto proibido. Pecado Mortal.
Neste país de hipocrisias, os políticos são capazes de destruírem em poucas horas anos e anos de lutas dos trabalhadores sem nenhum pudor, como o fizeram em relação à terceirização; mas ninguém carrega a bandeira da regulamentação dos jogos de azar.
Carlos Cachoeira foi vilipendiado nacionalmente por ser ‘bicheiro’, o ‘rei do caça-níqueis’, e condenado por ser ‘contraventor’.
Uma vez regulamentados os jogos de azar, cairiam as condenações contra Carlos Cachoeira e ele passaria de ‘contraventor’ a maior empresário de cassinos brasileiro, equiparando-se (nem tanto) a Sheldon Adelson (8ª pessoa mais rica do mundo em 2014). Em impostos, a previsão de arrecadação pelo Estado brasileiro gira em torno de 61 bilhões de reais advindos principalmente de turistas estrangeiros.
Demóstenes Torres foi perseguido porque era um expoente não só na política nacional mas goiana. Se lembram como ele tinha tudo para ser eleito Prefeito de Goiânia? Com tanto prestígio, precisava ser abortado. Qual foi o crime? Ser amigo de ‘contraventor’. Mas pensando bem, ‘amizade’ não é crime tipificado no Código Penal.
Os bastidores da política goiana são tão cruéis como qualquer outro do cenário nacional. Goiás é um Estado onde mandam coronéis, que usam sua força para destruírem seus rivais. Gente nova não consegue espaço político mesmo.
Na verdade, o crime cometido por Demóstenes Torres é ter sido o político mais culto e com o maior potencial intelectual que a política goiana conheceu. E ainda é.
Hoje faço justiça a esses dois homens goianos que levaram o Estado de Goiás a um patamar político jamais visto, com Demóstenes Torres, e financeiro jamais experimentado pelos bancos da nossa capital, com Carlos Cachoeira.
Então, muita calma nessa hora, e que tenhamos cuidado antes de apontarmos nossos dedos contra quem quer que seja. Aviso aos navegantes: Não conheço Carlos Cachoeira e não mudei de lado. Ainda. Porque a verdade só tem um lado. Estou tentando encontrá-la.
Que tal ouvirmos um pouco o filósofo Fedro para variar: “Nem sempre as coisas são como parecem ser.”

(Silvana Marta de Paula Silva – advogada e escritora. Twitter:@silvanamarta15. Blog: silvanago.blogspot.com.br)

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