Não maculem a imagem do Hugo
Diário da Manhã
Publicado em 18 de outubro de 2018 às 03:41 | Atualizado há 7 anos
Acompanho de perto o Hospital de Urgências de Goiânia – HUGO desde 2012, quando aqui neste periódico, defendi com ênfase e entusiasmo o modelo de gestão implantado pelo governo do Estado: as Organizações Sociais. Desde a construção, em 2002, do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), primeira Organização Social do Estado, o Brasil voltou os olhos para a excelência e bom atendimento da Saúde naquela unidade.
Mas era preciso mais, pois os demais hospitais do Estado passavam por grave crise, com falta de medicamentos, ocasionados pela burocracia das licitações, que culminou com um pedido de prisão pelo Ministério Público do então Secretário de Estado da Saúde, Antônio Faleiros – disparadamente, o melhor gestor da área – por ter, pela extrema necessidade, autorizado a compra direta de medicamentos para as unidades.
Até 2012, havia uma gestão complicada, ineficiente, travada, com estruturas físicas sucateadas e que não oferecia as mínimas condições para um bom atendimento. Faltavam profissionais para os atendimentos de alta complexidade, o que somente foi resolvido graças ao chamamento público e as contratações das OS.
Foi um início de muita confusão, quando a incompreensão de alguns descambou para a politicagem sórdida. A resistência dos sindicatos, o corporativismo tacanho e as falácias deslavadas não foram mais fortes do que a determinação, a coragem e a altivez das Organizações Sociais, que abraçaram a causa e em pouco tempo demonstravam índices de satisfação dos usuários que ultrapassavam a casa dos 90%, para dissabor e fúria de muitos.
A partir de 2013, não só o CRER configurava como um dos mais conceituados hospitais do país. Pela gestão moderna e empreendedora, destacaram-se o Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO), o Hospital Geral de Goiânia (HGG), o Hospital de Doenças Tropicais (HDT) e o Hospital de Urgências de Trindade (HUTRIN); somando a estes, a inauguração do Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia Governador Otávio Lage de Siqueira (HUGOL), entre outras unidades.
As Organizações Sociais no Estado demonstram uma maneira diferenciada e eficiente de conduzir o Sistema Único de Saúde (SUS). Elas trouxeram e trazem a Goiás caravanas de vários estados brasileiros e até do exterior para conhecer o revolucionário sistema de gestão. Com as acreditações das unidades, que passaram por rigorosas fiscalizações e monitoramento da Organização Nacional de Acreditação (ONA), essas visitas tornaram-se mais constantes.
Não posso deixar de destacar as grandes dificuldades encontradas em 2012 pelo HUGO, quando a OS recebeu a unidade totalmente sucateada, sem aparelhos, instalações elétricas e hidráulicas com graves problemas, elevadores sem funcionar – uma estrutura administrativa inadmissível e problemas de toda sorte.
“Tiveram que trocar a turbina do avião com ele no ar”, assim declaravam vários diretores e colaboradores daquela unidade, no início. Mas, gradativamente, os problemas foram superados, até que o hospital passou a atender dignamente, tornando a sua eficácia o seu maior dilema, pois com as unidades de atendimento municipal à época em condições precárias – o que parece não ter mudado em quase nada – o hospital sofreu com superlotação.
Um hospital que seria para o atendimento de urgência e emergência passou a receber, pela regulação municipal, pacientes que deveriam ser direcionados a unidades do município e da rede particular conveniada com o SUS.
Graças ao bom senso e responsabilidade do Ministério Público estadual, que verificou de perto o problema, pactuaram-se com o município de Goiânia, através de um Termo de Ajustamento de Condutas (TAC), medidas que desafogassem o Hospital, passando este para os atendimentos prioritários das urgências.
Não é necessário discorrer sobre os complexos atendimentos realizados pelo HUGO e sua abnegada equipe. Sua história, desde maio de 2012, encontra-se registrada em seu site – www.hugo.org.br. Não há o que dizer contra a excelência de seu atendimento, basta conferir.
Com o tempo, o hospital vem sofrendo com a diminuição dos repasses pactuados em seu contrato de gestão. Ao tempo em que sempre respondiam que os repasses encontravam-se em dia, o Portal da Transparência da Secretaria Estadual de Saúde aponta pendência de R$ 27,5 milhões de reais, conforme nos trouxe editorial do jornal O Popular.
O que se construiu ao longo desses anos tem sido destruído pela “burrocracia” que não é da Secretaria de Saúde; tenho absoluto respeito pelo Dr. Leonardo Vilela e profissionais que nela atua. Ele, por ser médico, também sofre com essa lastimável situação, ocasionada pela Secretaria de Estado da Fazenda, que tem liberado recursos “a conta gotas”, gerando inúmeros transtornos com a falta de insumos e paralisações dos serviços terceirizados.
O Instituto Gerir, mantenedor do HUGO e do Hutrin em Goiás, atua em diversos outros estados, sendo a única Organização social a atuar fora de Goiás, não encontrando estes lamentáveis problemas.
Talvez a sua eficiência, sucesso e constantes destaques na mídia – até mesmo nacional – sejam o seu carma. Não consigo encontrar os porquês desses atrasos. Não sei o porquê a Assessoria de Imprensa do governo nada fala e se omite diante dos fatos, deixando sangrar uma de suas principais unidades de saúde, que, sem nenhuma modéstia, é a melhor e mais empreendedora de todas elas. Se assim não fosse, não atuaria e receberia tantos convites para novos desafios.
Mais que um pedido, vai aqui um clamor ao atual govenador José Eliton, bem como ao futuro govenador Ronaldo Caiado, que é médico e se demonstra sensível com a saúde pública – convido-o a visitar o hospital. Não permitam que o HUGO sangre pela ineficiência que não é dele, de seus profissionais e do Instituto que o gere. Não deixe que a bela história desse hospital se esvaia pela lentidão e inércia de alguns segmentos do Estado. A cada crise que contornam naquele hospital, surge o desalento para quem tanto o ama e luta pela excelência em seu atendimento.
Não é com declaração de substituir quem condignamente conduz a unidade que resolverão os problemas, mas cumprindo, primeiramente, com as obrigações dos repasses pactuados no contrato de gestão. Devo esclarecer que vários fornecedores sofrem com pendências de mais de cinco meses, o que é inadmissível e lastimável.
É lamentável ver pessoas desinformadas e desqualificadas tentando difamar as Organizações Sociais, em especial a que cuida do Hospital de Urgências de Goiânia – Hugo e Hospital de Urgência de Trindade – Hutrin, aproveitando-se de um momento de fragilidade pela omissão do Estado, para confundir a opinião pública. Nesse hospital, a única política com que se preocupam os gestores é o da excelência no atendimento, onde sofremos tanto quanto o paciente para quem falta o medicamento e que não consegue a urgente cirurgia.
Não permitam, senhores gestores e ordenadores de despesas do governo do Estado, que situações similares a estas se repitam. Quando os diretores do HUGO e do Hutrin lhes batem à porta e lhes mostram os problemas, há de se ter uma solução imediata, pois os dois hospitais são de atendimento de alta complexidade. E na urgência o tempo e a eficiência do atendimento são os principais fatores.
Ajudem o Hugo e Hutrin a continuar salvando vidas!
(Cleverlan Antônio do Vale, gestor público, administrador de empresas, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, articulista do Diário da Manhã)