Opinião

Não se homenageia ditador

Diário da Manhã

Publicado em 1 de abril de 2017 às 01:47 | Atualizado há 8 anos

São passados 53 anos desde que se implantou a ditadura militar no Brasil. E, neste 1º de abril (aniversário do golpe de Estado), devemos confirmar a necessidade de iniciativas que inviabilizem a repetição dos horrores praticados durante os 21 anos de tirania (1964-1985). Por conseguinte, hoje, abordo um assunto mais diretamente ligado à vida da população goianiense. Lembro que uma das principais avenidas da nossa capital tem o nome do ditador Castelo Branco.

Sem dúvida, isso nos humilha, envergonha, rebaixa, como se fossemos um povo que nem consegue ultrapassar os curtos limites da música sertaneja. É importante frisar que a ditadura se impôs sobre um vasto leito de mentiras e manipulações ideológicas. Tinha por trás os espúrios objetivos do capital internacional, com apoio dos grandes empresários, dos latifundiários e de políticos dispostos a ir além dos métodos repressivos experimentados por Hitler. As Forças Armadas foram convocadas para a implantação do terrorismo de Estado no Brasil. E o que veio em seguida pode ser considerado um dos momentos mais trágicos da história da humanidade.

Editado em 9 de abril de 1964, o Ato Institucional número 1 da ditadura assegurou a imediata cassação de Jango, Brizola, Jânio Quadros, Prestes e Juscelino Kubitschek. Também, dos governadores Miguel Arraes (Pernambuco) e Seixas Dória (Sergipe). Mais: 40 parlamentares. E expurgou 49 juízes, 1.400 lideranças populares, sindicais e estudantis e cerca de 1.200 militares que defendiam a democracia. As perseguições, prisões, torturas e os assassinatos se multiplicaram em todo o país, principalmente no Rio de Janeiro e em Pernambuco (o camponês Mariano foi amarrado a um jipe e, seminu arrastado por dentro do Engenho Serra, com os testículos presos a uma corda).

Se a truculência da ditadura não foi menor em Goiás, o governador Mauro Borges ainda conseguiu permanecer no Palácio das Esmeraldas. Entretanto, com a posse do general Castelo Branco na chefia do governo, no dia 15 de abril, a situação mais se agravou. Houve a intervenção federal, decretada por Castelo Branco, sendo Goiás o único estado a conhecer esse ato de força. Assim, Mauro Borges não teve respeitados os votos recebidos do povo goiano nas eleições de 1962.

O vice não pôde assumir. E, para ocupar a sua cadeira, o ditador indicou, primeiro, o coronel do Exército Meira Matos e, dois meses depois, o marechal Ribas Júnior. Nos cerca de dois anos seguintes, a tortura aos presos políticos se tornou uma rotina na cidade de Goiás e em outros municípios goianos, como Ceres por exemplo, onde cresceu a perseguição “aos comunistas, inimigos da pátria, inimigos de Deus, da família, da liberdade”. Em Goiânia, particularmente no Batalhão de Caçadores, os presos eram tantos, que precisavam ficar até em salas de aula, sob a fúria de torturadores comandados pelo coronel Danilo.

Durante o plantão do primeiro dos cinco ditadores que infelicitaram nosso país, foram estruturadas as bases para a institucionalização de crimes que aviltaram a nossa própria condição humana. Então, nesta data sinistra, eu me dirijo especialmente aos vereadores da capital para fazer um apelo: mudem o nome da Avenida Castelo Branco.

Que Andrey Azeredo, Vinícius Cirqueiera, Elias Vaz, Drª Cristina, Paulo Magalhães, Tatiana Lemos, Anselmo Pereira, Clécio Alves e Jorge Kajuru procurem todos os seus colegas de parlamento e construam a unidade necessária para a vitória de uma iniciativa que vai resgatar a dignidade da nossa gente.

Lembrem-se que aqui, em vez de punição, ditador recebeu homenagem. E reflitam sobre o seguinte provérbio romano: Impunitas semper ad deteriora invitat, que assim pode ser traduzido: “A impunidade convida sempre a coisas piores”.

 

(Pinheiro Salles, presidente da Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas e vice-presidente da Comissão Nacional de Ética da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas)


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