Opinião

Não sou a única vítima das queimadas

Diário da Manhã

Publicado em 24 de agosto de 2015 às 22:10 | Atualizado há 10 anos

Amanheci o domingo com forte ardência nas narinas e com maior freqüência assoando e espirrando o nariz numa consequência da inalação da fumaça oriunda das queimadas comuns nesta época. Não sou, entretanto, a única vítima. O fato ocorre com milhões de pessoas pelo mundo afora. Segundo os médicos, as fumaças podem provocar ou desencadear ataques de asma, bronquite, rinite, sinusite, enfisema pulmonar e pneumonia. E o aviso assustador: todas as fumaças, respiradas por longo tempo, podem provocar câncer.

A fumaça faz muito mal à saúde. Já nem falo da fumaça provocada pelo fumo nem da oriunda dos escapamentos dos veículos automotores. Falo das queimadas das matas, da queima da roça, praticada por tradição cultural. Esse tipo de poluição do ar o cidadão comum não tem como controlar. Enfim, todos os seres vivos são prejudicados pelas fumaças, inclusive os animais e os vegetais. Esse tipo de queima é considerado crime ambiental. Mas, se faz mal a todos, o cidadão que a provoca precisa tomar consciência de sua prática intolerável até mesmo para quem a pratica.

A ameaça é freqüente, além da população, à fauna e à flora. Segundo as instituições de pesquisas e os satélites, as queimadas no Brasil são provocadas, em maior proporção, pelo setor agrícola, na limpeza de terreno, cultivo de plantações ou formação de pastos. As cinzas deixadas pelas queimadas tornam o solo mais produtivo. Esta situação, todavia, não é permanente. Após a incidência do fogo, o solo fica mais sujeito as erosões e pragas, não beneficiando a produção, como muitos julgam.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresenta uma informação assustadora. Quase sete mil focos de incêndios ocorrem nesse início de ano no Brasil. É o maior número dos últimos 16 anos. Nos dois primeiros meses de 2015 foram registrados 6.948 focos de incêndio no País. O número deste ano é 66% maior do que em 2014, quando foram registrados 4.182 focos. O Estado campeão é o Mato Grosso, que registrou entre janeiro e fevereiro 1.502 focos. Pará e Roraima lideram também no processo de queimadas. Mas, Goiás fica próximo dessa atitude impensada.

Numa das edições de Pensamento Verde, sistema online, a publicação repassa ao público as principais conseqüências das queimadas no Brasil. Entre elas, o aumento da liberação de dióxido de carbono, uma das principais causas do aquecimento global; destruição de habitats naturais; erosão no solo; aumento do buraco na camada de ozônio; perda da absorção do solo, aumentando os índices de inundações; poluição de nascentes, águas subterrâneas e rios por meio das cinzas; extinção de espécies (fauna e flora); destruição de infraestruturas.

E encerra com uma recomendação. – É inegável que as queimadas no Brasil são nocivas para o meio ambiente em uma situação macro, em que todas as espécies de seres vivos são prejudicadas. Fazer com que estas práticas sejam minimizadas ainda é um desafio, visto que envolve a cultura agrícola que ainda é muito forte em alguns locais. É preciso que este setor entenda que as queimadas não trazem benefícios para a agricultura, muito pelo contrário, como vimos, as queimadas geram diversos prejuízos ambientais.

 

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, formado em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste e assessor de Imprensa da Emater)

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias