Opinião

Naturismo e Luz Del Fuego

Redação DM

Publicado em 12 de julho de 2022 às 13:33 | Atualizado há 3 anos

O psicólogo Antônio César Silva, defendendo a causa feminista disse que desde cedo, no mundo masculino vigoram leis diferentes das do mundo feminino. Os meninos são aceitos dentro de casa usando pouca ou nenhuma roupa, podendo ficar sentados do jeito que quiserem, ambos direitos cortados às meninas, as quais não é permitido ficar em casa de calcinha. Foi quando eu disse que quando menina, eu chegava da escola, tirava o uniforme e ficava apenas com roupa de baixo dentro de casa. Quando minha mãe Milena Narciso falava com meu pai Alcides Alves da Cruz sobre esse meu hábito, preocupada sobre como seria quando eu ficasse moça, ele dizia que na hora certa eu vestiria uma roupa. Enquanto isso, as pessoas me chamavam de Luz Del Fuego, em especial a minha Tia Nininha – Maria Josefina Narciso Mendonça. Eu sabia que Luz andava nua numa ilha, coberta por cobras. De fato, aos onze anos eu trocava de roupa ao chegar da escola, e não mais apenas tirava o uniforme.

Luz Del Fuego foi uma dançarina, atriz, escritora – naturismo e existencialismo, e feminista que implantou o naturismo no Brasil – 1940/1950 – Clube Naturalista Brasileiro. Seu nome era Dora Vivacqua, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, em 21 de fevereiro de 1917 e morreu assassinada a facadas, em um barco, aos 50 anos em 19 de julho de 1967, na Ilha do Sol, de sua propriedade. Pescadores criminosos, que não aceitavam seu comportamento, usaram um ardil para atraí-la e enganá-la. Ali, em São Gonçalo, RJ, as pessoas maiores de idade e, se casadas, com o consentimento dos seus pares, visitavam a ilha para praticar naturismo. Roupas, atitudes libidinosas, assim como fotografar os visitantes eram proibidos. Frases: “Menos roupa e mais pão! Nosso lema é ação! Para a fome, temos o pão. Para a sede, a água. Para a imoralidade, a nudez!”

Bacharelada em Ciências e Letras, 15º nascimento em uma família abastada, Luz Del Fuego era uma mulher bonita, ousada e cheia de ideias feministas. Rebelde, aos 15 anos ingressou num circo. No final dos anos 1940 expôs seu combate aos preconceitos sociais em defesa dos direitos da mulher e liberdade de expressão. Seus livros foram banidos das livrarias. Apresentava-se ao público, que lotava todos os lugares onde conseguia se apresentar, com pouca roupa, dançando com cobras, em especial as jibóias, que ela adestrava. Foi a primeira brasileira a aparecer nua no palco. Sua família abominava suas atividades e chegou a interná-la várias vezes por insanidade mental e uma alegada esquizofrenia. De fato era taxada de louca para justificar sua coragem e enfrentamentos sociais.

Seu irmão Attilio Vivacqua, que foi senador – 1946 a 1961, sentia-se ultrajado pelos trabalhos artísticos da irmã, que também tinha ambições políticas, criando o Partido Naturista, mas, por perseguição, não conseguiu registrá-lo. Entre suas bandeiras, naturalmente havia pretensões muito avançadas para a época, ocasião em que não era permitido à mulher aparecer na praia em traje de banho de duas peças.

Muitas vezes, anunciada uma apresentação, Luz era proibida de entrar na cidade, ou mesmo o evento era cancelado e ela expulsa do lugar. Antes de todos os shows era obrigada a mostrar um atestado de saúde mental.

Participou de alguns filmes, teve a vida mostrada em filme, foi discutida e homenageada através de músicas, por exemplo, Rita Lee, que lhe fez versos: “Eu hoje represento a loucura/ Mais do que você quiser/ Tudo que você vê sair da boca/ de uma grande mulher/ Porém louca//” Muitos dos direitos femininos banais foram arrancados a unha por pioneiras como Luz Del Fuego, que, no começo da carreira de dançarina – não dançava bem -, fez-se chamar de Luz Divina, mas devido à alta provocação que isso traduzia, mudou para o pseudônimo com o qual ficou conhecida.

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias