Ninguém sabe o duro que Lula deu a favor dos pobres!
Diário da Manhã
Publicado em 27 de março de 2018 às 23:04 | Atualizado há 4 meses
Wilson Simonal, negão que foi acusado de dedo-duro da ditadura, foi, sem medo de errar, o maior showman do país em todos os tempos. Certa vez, aos 33 anos, idade em que Cristo foi crucificado, ele dividiu o Maracanãzinho em dois. Naquela oportunidade ele entoava a bela canção, País Tropical. Foram os comandantes deste mesmo País Tropical, representantes das elites que administram a nossa produção há 505 anos, que determinaram o fim da carreira do grande artista! O autor de Sá Marina, já consumido pela solidão e a doença que o abateram, consequência do sofrimento injusto, por diversas vezes veio a Brasília, onde se hospedava em meu apartamento, na busca de seu habeas corpus, ou melhor, seu habeas data; que permitiria a Simonal provar ao Brasil e ao mundo que nunca fora dedo-duro da ditadura. O habeas data saiu, após a sua morte.
Os mesmos que impuseram a Wilson Simonal a pior das penas, que era o negão parar de cantar com sua alegria contagiante e suingue inimitável, para público semelhante ao que ele teve no Maracanãzinho; esses mesmos, cuja maioria descende de italianos e alemães, jogaram ovos e pedras no ex-operário que o destino marcou por meio do dedo mindinho amputado em uma máquina na fábrica em que trabalhava na década de 70. Vale lembrar que Simonal, no final dos anos 60 e início dos anos 70, era mais importante que Roberto Carlos. Lula, que galgou degraus no mundo da política, como Simonal no mundo da música; também tem seus algozes que querem vê-lo pelas costas e crucificá-lo em praça pública, como fizeram com Wilson Simonal, Tiradentes e muitos outros com menor importância. Eles não admitem que um líder político da expressão do ex-presidente Lula tenha como bens um tríplex e um sítio, fortuna que qualquer vereador de uma cidade grande possui.
Vale ressaltar que, apesar dos erros nos governos comandados pelo ex-operário, que não teve pulso, por exemplo, para erradicar o analfabetismo no Brasil,nenhum outro presidente fez tanto pela pobreza como ele. Na Universidade de Brasília e outras universidades Brasil afora, a cor da pele dos alunos coloriu-se de uma forma muito forte nos últimos 15 anos. Filhos de pobres e negros, até o ano de 2002, eram raros os que cursavam Medicina e Engenharia. Pobres que tinham automóveis do ano também eram raridade. O único ministro negro que presidiu a Suprema Corte foi Joaquim Barbosa. Ele assumiu a vaga por competência e a conduziu de forma proba e inimitável. Contudo, foi Lula quem o escolheu e o nomeou. Isto não impediu que o competente Joaquim Barbosa levasse para a cadeia amigos de Lula que cometeram erros, como José Dirceu e outros.
Nos 518 anos de nossa história, as elites que hoje estão no poder, comandaram o país por 515 anos, enquanto que o operário filho da Dona Lindu, ao lado de Dilma Rousseff, administraram o país tropical de Wilson Simonal por 13 anos. Qualquer cidadão mais esclarecido sabe que em ambos os períodos ocorreram corrupção. Contudo, as elites que comandaram a nação por cinco séculos e 15 anos certamente espoliaram o maior país da América Latina, de forma tão forte, que a Era Lula tornou-se um grão de areia no fundo do oceano!
É claro que o provérbio árabe: quem rouba uma agulha, rouba um camelo tem seu fundo de verdade. Não quero aqui fazer a defesa cega de Luiz Inácio Lula da Silva, até porque o seu advogado é o competente jurista José Paulo Sepúlveda Pertence. Entretanto, o tratamento dado aos políticos da direita envolvidos em corrupção, quando aparece em público, semelhante ao caso de Lula em São Miguel do Oeste (Santa Catarina), é bem diferente. Os políticos originários das capitanias hereditárias e mesmo da época pós Cabral, ou seja, as elites dominantes, continuam tendo tratamento privilegiado. Neste sentido, acredito e repito: o próprio Lula tem culpa nisso! Ele não lutou para que o brasileiro ficasse mais bem informado e soubesse raciocinar direito, por meio da erradicação do analfabetismo nos quatro cantos da nação brasileira, inclusive Santa Catarina, que é um estado cuja população tem fama de ser esclarecido.
Espero que um dia o final da história de Luiz Inácio Lula da Silva não seja contada como o filme melancólico e de misericórdia sobre a trajetória do autor do Tributo a Martin Luther King, o cantor Wilson Simonal, ou seja o filme: “Ninguém sabe o duro que dei”.
(Walter Brito, jornalista)