No Dia de Finados, celebramos a vida
Redação DM
Publicado em 2 de novembro de 2016 às 23:29 | Atualizado há 9 anosO romance “Por quem os Sinos Dobram”, de Ernest Hemingway, escritor inglês parafraseado por John Donne, também escritor, coloca esta significativa frase: “A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim.”
O Dia de Finados representa a comemoração dos mortos. O nome finados vem do hebraico e significa o fim, a morte, o final de uma vida. Para o cristão, a data é dia 2 de novembro e sua origem vem do século XI quando a Igreja determinou o dia oficial de oração pelos mortos, data ratificada, novamente, no século XIII. O feriado relembra aos vivos a necessidade de irem aos cemitérios ofertar flores aos falecidos. Elas simbolizam o amor por eles. Também acender velas que revelam a luz de Cristo e nossa fé na ressurreição dos mortos. No México, são três dias seguidos de comemoração, que na Colômbia remonta a verdadeiras romarias às igrejas e campos santos onde se reverencia os mortos. Sobre essa questão uma pergunta sempre provoca:–Por que rezar ou orar pelos mortos?
Na “Bíblia” encontramos no “Antigo Testamento”–livro 2 de Macabeus 12.43-46: “Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas”.
No Novo Testamento temos inúmeros textos que nos falam em ressurreição: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo“ (Hebreus 9. 27). A salvação é somente pela fé em Jesus Cristo. “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4. 12). “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5. 1).
Assim, a fé cristã nos diz que a nossa vida não é tirada e sim transformada, desfeito nosso corpo mortal nos é dado um corpo imperecível. Para outras religiões a morte é tida como reencarnação conforme as origens primordiais da humanidade e de credos, budismo, espiritismo, judaísmo, hinduísmo.
Celebrar a vida é, portanto, procedente. Em muitos lugares isso se torna uma tradição comunitária. No interior da Bahia, na cidade de Jaborandi, celebrar o falecimento de alguém torna o fato uma festa. Ao mesmo tempo em que o corpo está sendo velado, há também bastante comida, servida a todos que comparecem. Chegam a matar vacas e porcos, galinhas, uma comilança que se estende ao sepultamento e a festa continua até o sétimo dia de falecimento. Existem outras versões bastante exóticas como as chamadas “carpideiras” do Nordeste brasileiro, as mulheres pagas para chorar a morte de alguém. Isso tradicionalmente acontecia quando era preciso demonstrar sentimentos por um político falecido ou pessoa que precisaria ser bem representada nessa hora. O sentido dado às carpideiras vem da tradição, antes de Cristo, quando o profeta Jeremias lamentava a vida infiel do povo de Deus.
Há duas versões bem distintas na comemoração de Finados: a primeira é relembrar a morte, que como diz o autor inglês “é uma diminuição de nós mesmos e a memória de nossos mortos”. A segunda versão trata de celebrar a vida quer por nossa fé cristã, quer pela tradição de festejar a vida do falecido.
(Gil Barreto Ribeiro, professor emérito PUC-Goiás; diretor da Editora Espaço Acadêmico)