Opinião

Nossos janotas com seus estrangeirismos e suas tolas expressões idiomáticas

Redação DM

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 21:52 | Atualizado há 7 anos

O tem­po e a se­mân­ti­ca se en­car­re­gam de mui­tas trans­for­ma­ções. E as­sim nos­so idi­o­ma não es­ca­pa a es­ses efei­tos dos ho­mens, da so­ci­e­da­de e de seus or­ga­nis­mos com su­as de­for­ma­ções e sub­ver­sões. Is­to por­que os ho­mens cri­a­ram as cha­ma­das  con­ven­ções, nor­mas, leis e di­re­tri­zes. Ima­gi­ne se não re­ce­bes­sem es­ses tí­tu­los.

Po­dem-se ini­ci­ar es­tas con­si­de­ra­ções pe­lo tan­to de vo­cá­bu­los es­tran­gei­ros  que são in­cor­po­ra­dos ao por­tu­guês. São tan­tos vo­cá­bu­los que da­ri­am um sub­di­cio­ná­rio. Eu nem que­ro lem­brar os ter­mos de in­for­má­ti­ca e do mun­do vir­tu­al, por­que es­se lé­xi­co se tor­nou uma es­pé­cie de es­pe­ran­to. Um idi­o­ma uni­ver­sal. Se­ja aqui, em Ku­a­la Lum­pur ou na Co­chin­chi­na os ver­be­tes são os mes­mos. É a glo­ba­li­za­ção da tec­no­lo­gia e do ca­pi­ta­lis­mo ame­ri­ca­no. Fo­ra da in­ter­net e su­as ubí­quas re­des so­ci­ais têm-se co­mo pi­ta­das os ter­mos com­pli­an­ce, im­pe­achment, co­ach, per­so­nal trai­ner, trai­nee, CEO (che­fe exe­cu­ti­ve of­fi­cer), de­liv­ery, la­yo­ut, fas­hi­on, ap­pro­ach e sis­ter, etc.

O em­pre­go des­tes vo­cá­bu­los é tão fre­quen­te que o su­jei­to não sa­be sua ori­gem e sig­ni­fi­ca­do mas sa­be em que ce­ná­rio (con­tex­to) em­pre­gá-lo. A re­pe­ti­ção pe­la so­ci­e­da­de tor­na-os co­nhe­ci­dos.  Cer­ta­men­te já ou­vi­mos mui­tas ma­da­mes e ho­mens gar­bo­sos e ga­lan­tes  con­tar que es­tá no cur­so de co­a­ching ou “fa­zen­do ati­vi­da­de fí­si­ca com um per­so­nal trai­ner”  . Nun­ca ou­viu?  En­tão  pres­te um pou­co  mais de aten­ção.

Os ver­be­tes im­por­ta­dos  se tor­na­ram tão usei­ros e ve­zei­ros que aque­les(as) que o ex­pres­sam se­quer sa­be­ri­am a sua gra­fia cor­re­ta. São os ca­sos por exem­plo do test dri­ver, do CEO e ou­tros tão en­con­tra­di­ços nos fa­lan­tes au­to­in­ti­tu­la­dos bem an­te­na­dos com a mo­der­ni­da­de. Ali­ás, hi­per­mo­der­ni­da­de.

Tor­nan­do aqui pa­ra nos­sa úl­ti­ma flor do Lá­cio. Ah tem­po! Ah se­mân­ti­ca! Ah so­ci­e­da­de.  Co­mo vo­cês ju­di­am de nos­so idi­o­ma. E dis­so se va­lem mui­tos fal­sos me­ce­nas, dis­so se va­lem mui­tos de nos­sos be­ó­ci­os e vi­li­pen­di­a­do­res de nos­sas pa­la­vras. Que os cor­ro­bo­ram os  abu­sos e ofen­sas ao ge­rún­dio, uma das for­mas no­mi­nais do ver­bo. Os cam­pe­ões des­te ví­cio têm si­do os aten­den­tes e se­cre­tá­rias(os) de ser­vi­ços e em­pre­sas, os tão en­con­tra­dos ser­vi­ços de “call cen­ter”. Olha o es­tran­gei­ris­mo aí! Pa­ra se cer­ti­fi­car des­sas pé­ro­las bas­ta li­gar nu­ma ope­ra­do­ra de te­le­fo­ne. Is­to quan­do o li­gan­te tem pa­ci­ên­cia por­que o car­dá­pio (me­nu) de op­ções é in­fi­ni­to. A res­pos­ta com pou­co ver­sa­ti­li­da­de é es­ta: ”aguar­de um pou­co  que es­ta­rei trans­fe­rin­do sua li­ga­ção pa­ra o se­tor com­pe­ten­te”.

Mas, aqui, com a de­vi­da vê­nia, e até me pe­ni­ten­cio, por­que  faz sen­tin­do o “es­ta­rei  trans­fe­rin­do”. Con­si­de­ran­do o ge­rún­dio uma ação pro­lon­ga­da, em cur­so, in­ter­mi­ná­vel, etc;  es­tá  em con­for­mi­da­de com mui­tas das cen­tra­is de aten­di­men­to ao con­su­mi­dor (usu­á­rio). Em ge­ral, a res­pos­ta e so­lu­ção da de­man­da do ci­da­dão não se dão com uma, três ou mais cha­ma­das, mas com uma sé­rie de con­ta­tos com a mes­ma em­pu­lha­ção .

Uma ou­tra pa­la­vro­na sur­ra­da pe­los nos­sos nés­cios e par­vos da co­mu­ni­ca­ção é a con­jun­ção tem­po­ral en­quan­to. Ain­da es­tá  che­ga­di­nho de fres­co em mi­nha me­mó­ria, e eu con­to;  as­sis­ti a uma en­tre­vis­ta de uma pro­fes­so­ra, fe­mi­nis­ta en­ga­ja­da e ar­ro­tan­do im­pro­pé­ri­os con­tra os as­se­di­a­do­res se­xu­ais, gai­a­tos e im­pos­to­res do mes­mo gê­ne­ro. O cha­ma­ti­vo nas as­ser­ti­vas des­sa boa ora­do­ra era a re­pe­ti­ção do en­quan­to. En­quan­to mu­lhe­res, en­quan­to pro­fis­si­o­nal, en­quan­to ci­da­dã, en­quan­to is­to e aqui­lo. A pri­mei­ra im­pres­são que ti­ve é que sua con­di­ção de gê­ne­ro era tran­si­tó­ria e ela sub­me­te­ria a uma ci­rur­gia de trans­ge­ni­ta­li­za­ção (pa­ra mu­dan­ça de se­xo). E nas en­tre­li­nhas… que mu­da­ria tam­bém  de pro­fis­são e ci­da­da­nia. En­quan­to tem si­do em­pre­ga­do à exaus­tão no lu­gar de co­mo, na con­di­ção de. Ou­tro cam­pe­o­nís­si­mo (per­mi­ta-me o ter­mo) tem si­do a ex­pres­são a ní­vel de. Es­ta tem si­do de dar re­pe­lões nos tím­pa­nos.

Tão inó­cua co­mo pe­dan­te e re­pe­len­te. O po­li­ti­co ou o exe­cu­ti­vo (CEO) sai lá do ní­vel do mar, vem pa­ra as al­te­ro­sas ou pa­ra o co­ra­ção do Bra­sil e co­me­ça su­as fa­las e pré­di­cas pe­lo “a ní­vel de”, a ní­vel  dis­so, da­qui­lo e é um mo­to-con­ti­nuo fú­til e va­zio o mais en­fa­do­nho de se ou­vir .

E o agre­gar va­lor, agre­gar co­nhe­ci­men­to, agre­gar lu­cro. E são mui­tos os su­jei­tos des­sa grei, os pro­cla­ma­dos ex­perts (de ex­per­ti­se). Coi­ta­dos  dos gre­gos, nem ima­gi­na­vam os he­le­nos do quan­to iam mal­tra­tar a boa he­ran­ça lin­guís­ti­ca dei­xa­da pe­los sé­cu­los dos sé­cu­los. Agre­gar, de (ad, grex), jun­tar, as­so­ciar ou agru­par. Bo­ni­ta, mas  que se tor­nou um lu­gar-co­mum cor­ro­si­vo e re­bar­ba­ti­vo dos ja­no­tas com su­as ex­pres­sões idio­má­ti­cas.

Um gru­po de pes­so­as que de­ve­ria ser pro­ces­sa­do por maus tra­tos e cri­me de le­sa-idi­o­ma se cons­ti­tui de po­lí­ti­cos e ges­to­res pú­bli­cos. Eu to­mo co­mo exem­plos os ter­mos ci­da­da­nia e in­clu­são. A pa­la­vra ci­da­da­nia se tor­nou a co­rin­ga dos fei­tos e fa­ça­nhas de nos­sos go­ver­nan­tes e par­la­men­ta­res. Se usa ao deus-da­rá. Em tu­do se tem es­se tem­pe­ro, a re­pe­ti­ti­va ci­da­da­nia. Ela en­tre nas alo­cu­ções as mais dis­pa­ra­ta­das.

E nos mes­mos mo­tes e re­frões  en­tra a nos­sa al­me­ja­da  in­clu­são. Têm-se a in­clu­são so­ci­al, a in­clu­são di­gi­tal, a es­ta­tal, a ba­ta­tal, pré-na­tal, a fi­nan­cial, etc.

Tem-se , acre­di­te, um   can­di­da­to( quan­ta can­du­ra ou ca­ra­du­ra), de um cer­to par­la­men­to aqui no Bra­sil,  com um  pro­je­to de lei ver­san­do so­bre in­clu­são men­stru­al e  se­xu­al. A   mu­lher, ser­vi­do­ra pú­bli­ca ou pri­va­da te­ria di­rei­to a três di­as de fal­tas abo­na­das mo­ti­va­das por ten­são pré-men­stru­al- TPM e fas­tio se­xu­al. Nós me­re­ce­mos ser re­gi­dos e le­gis­la­dos por es­ses re­pre­sen­tan­tes, ou não?   Fe­ve­rei­ro/2018.

(Jo­ão Jo­a­quim, mé­di­co, ar­ti­cu­lis­ta DM. fa­ce­bo­ok/ jo­ão jo­a­quim de oli­vei­ra  www.drjo­ao­jo­a­quim.blog­spot.com – What­sApp (62)98224-8810)


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias